A letra da canção "Música Urbana", primeiro sucesso da banda Capital Inicial, ecoa a posição de estar "contra todos e contra ninguém". Nela, "o vento quase sempre nunca diz" e há alguém que somente "espera o que vai acontecer". Os versos parecem espelhar a experiência daqueles jovens que começavam o caminho artístico e ainda podem ser utilizados para sintetizar a trajetória consolidada ao longo de quatro décadas, marco comemorado na turnê "Capital Inicial 4.0".
Com letra de Renato Russo e acordes inspirados no punk rock do conjunto Aborto Elétrico, o hit projetou Dinho Ouro Preto (vocal), Yves Passarell (guitarra), Fê Lemos (bateria) e Flávio Lemos (baixo) para a ebulição do rock nacional. 30 discos depois da estreia, o Capital Inicial promove um encontro de gerações com shows considerados pelos integrantes como os "mais eletrizantes e memoráveis". "Eu atribuo parte do crédito da nossa história ao acaso. À sorte", lança Dinho em entrevista exclusiva ao Vida&Arte.
O POVO: A turnê "Capital 4.0" conta com direção de arte de Batman Zavareze, que também fez espetáculos com artistas como Marisa Monte, além de direção geral de Luiz Oscar Niemeyer. Como você descreveria o aspecto visual do novo momento?
Dinho Ouro Preto: Tudo começou quando assinamos com a Bonus Track, o escritório do Luiz Oscar. Ele está acostumado a trazer grandes produções e nos estimulou a pensar grande. Foi assim que fomos parar no Batman. Fui ver o show da Marisa e fiquei passado. Achei de uma sofisticação e beleza singular. O Batman traz uma linguagem brasileira e contemporânea a tudo que ele faz. Eu o procurei e nosso relacionamento foi uma parceria auspiciosa. Todo o conteúdo da tela é dele. As luzes que funcionam em parceria com a criação do Batman são do Césio Lima, que trabalha conosco há alguns anos e a produção musical por sua vez é do Dudu Marote. Somados ao Capital, essas quatro pessoas — Dudu, Césio, Luiz Oscar e Batman - são os grandes responsáveis por esse show.
OP: Nos shows, vocês trazem versões inéditas e reinventadas de músicas. Quais são as mudanças que acompanham a sonoridade atual da banda?
Dinho: Nós sempre procuramos nos associar a pessoas novas. Para esse projeto, convidamos pessoas de diferentes gerações e estilos — Pitty, Carlinhos Brown, Marina Sena, Samuel Rosa, Ana Gabriela, Vitor Kley e Greta Paganini. A mudança que caracteriza a sonoridade desse projeto é uma vitalidade e um vigor maior. Tudo foi turbinado.
OP: Vocês já têm uma legião de fãs que os acompanham desde o início, mas também conquistam novos. Quais estratégias vocês utilizam para se aproximar das novas gerações?
Dinho: Acredito que é quase impossível deliberadamente planejar um modo de fazer essa renovação do público. Porém, o que dá pra fazer, sim, é não se deixar pautar pela nostalgia. Sei que parece uma contradição dizer isso justamente no momento em que estamos celebrando nosso passado, mas o fato é que há canções no repertório que foram lançadas com décadas de distância. Acho que importante é sempre olhar para o futuro.
OP: "Atrás dos Olhos", disco que marca o seu retorno ao grupo, completa 25 anos em 2023. Olhando para trás, como você avalia o momento em que você volta ao Capital Inicial? Quais eram suas aspirações com a banda àquela época? Elas foram realizadas?
Dinho: Naquele momento, as nossas expectativas eram bastante modestas. O Renato Russo havia morrido há pouco e Plebe Rude tinha se separado, parecia que nossa geração do rock de Brasília tinha chegado ao fim. A reunião parecia um modo de celebrar essa aventura. No entanto, fomos surpreendidos pelo o que se seguiu. Em poucos meses estávamos nos EUA gravando o "Atrás dos Olhos" e em seguida fizemos o "Acústico MTV" (2000) e não paramos mais. De lá pra cá lançamos um disco a cada dois anos e acabamos escrevendo, reitero, para nossa surpresa, um capítulo novo da nossa história.
OP: São poucas as parcerias do Capital nos álbuns até 2014, com "Viva a Revolução", quando a banda começa a criar mais com outros artistas. O que motivou essa abertura gradual de feats, que se mostram concretos no disco "Capital Inicial 4.0" (2022)?
Dinho: É verdade. Essa trend, para nós, começou em 2014. Só a partir do "Viva a Revolução" que os convites se tornam regra. Fazemos isso primeiro por ser uma oportunidade de ter parcerias com músicos que admiramos, mas também porque as canções acabam indo em direções inesperadas.
OP: O Capital Inicial marca 40 anos com uma trajetória sólida enquanto grupo. Quais fatores fizeram com que a banda alcançasse o marco?
Dinho: Eu me surpreendo com a distância que nossa música alcança. Nós começamos do jeito mais despretensioso possível. Nada foi planejado ou calculado, mas quando percebemos o que estava nos acontecendo, viramos músicos e compositores mais exigentes e determinados. Mesmo assim, até hoje, eu atribuo parte do crédito da nossa história ao acaso. À sorte.
"Capital Inicial" 4.0 em Fortaleza
Quando: sábado, 14, às 19 horas
Onde: estacionamento do Shopping Iguatemi Bosque (av. Washington Soares, 85 - Edson Queiroz)
Quanto: a partir de R$ 120; ingressos à venda na Bilheteria Virtual
Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Confira o podcast clicando aqui