De “Amarelo Manga” (2002), de Cláudio Assis, a “Mãe só há uma” (2014), de Anna Muylaert, o ator Matheus Nachtergaele compõe o elenco de filmes premiados que marcaram o cinema brasileiro. O artista paulista atua agora em mais uma obra que tem causado impacto na crítica especializada: a cearense “Mais Pesado é o Céu”.
A produção de Petrus Cariry integrou, na última semana, a 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e, mais uma vez, se destacou. Antes disso, o longa, protagonizado por Nachtergaele e Ana Luiza Rios, acumulou prêmios no 51º Festival de Gramado.
Na trama, acompanhamos o encontro de Antônio (Matheus) e Teresa (Ana Luiza) que, por motivos diferentes, pegam a estrada em busca de reconstruir a vida. Diante de um Brasil devastado pela crise moral e política, os dois acolhem um bebê abandonado e formam uma família improvável sob o sol escaldante do interior do Ceará. A obra tem previsão de estreia para o 1º semestre de 2024.
Em entrevista ao V&A, Matheus destaca a experiência do filme cearense. “’Mais Pesado é o Céu’ foi o primeiro trabalho que eu e grande parte dos artistas envolvidos pudemos realizar no fim da pandemia e durante o governo desastroso que tivemos. O Brasil parecia um lugar lindo, cheio de estradas, mas sem ter pra onde ir. Meu personagem Antônio é, assim como eu, um paulistano, procurando voltar para um lugar, um País onde ele foi feliz e esse lugar já não existe”, declara o ator.
Para o artista, o público poderá projetar seu mundo interior ao assistir ao longa. “Alguns insistem em classificá-lo como uma produção hiper-realista, algo do qual discordo. Acho que é extremamente poético, metafórico e um dos últimos filmes que o espectador receberá com espaço para projetar seu mundo interior durante a exibição e a contação da história. É um filme de arte dirigido por um artista verdadeiro que é o Petrus Cariry”, afirma.
Diretor do filme, Petrus define Matheus como um “furacão em cena”. “Sabe aquele ator que te dá mil opções, que sempre tem uma carta na manga, além de ter domínio total do espaço cênico? Esse é Matheus Nachtergaele, um dos melhores atores desse País. Foi um prazer muito grande dividir esse filme com ele e com a Ana Luiza”, afirma o cearense.
"É sempre muito difícil mensurar a importância de um filme como 'Mais Pesado é o Céu' no panorama do cinema nacional. O que me deixa feliz, no momento, é que existe uma demanda muito grande de pessoas que querem conhecer ou ouviram falar positivamente, e isso é maravilhoso", declara Petrus Cariry.
Matheus celebra a produção. "Guardo para sempre a honra de ter conhecido o Brasil por dentro dos brasileiros, através de personagens de muitas regiões do país, em geral marginalizadas, que eu percorri. Do ponto de vista geográfico e do ponto de vista do interior do homem. Seu sotaque, sua cultura e seus sentimentos", pontua.
Um novo capítulo para João Grilo
Um dos trabalhos de maior destaque na carreira do paulistano é o filme "O Auto da Compadecida", de Guel Arraes e baseado na obra Ariano Suassuna, obra considerada um clássico do cinema nacional. O personagem de Matheus Nachtergaele, João Grilo, é um nordestino que faz de tudo para conseguir fugir da fome, seca, violência e pobreza, usando sua inteligência e esperteza para contornar todos os problemas.
Agora o artista teve a experiência de voltar a interpretar esse personagem tão marcante, duas décadas depois da interpretação original. "O Auto da Compadecida 2" foi dirigido por Guel Arraes e Flávia Lacerda, já teve suas filmagens finalizadas e previsão de estreia em todo o País para 2024.
"O João Grilo é um personagem maravilhoso para qualquer ator. O arquétipo, quando acontece na tua vida, te carrega junto e quando o encontro é feliz, você fica marcado para sempre. Esse foi um reencontro bonito de um ator que está mais velho, menos esperançoso, mas que está mais resistente", declara o artista.
Para o ator, o filme ajudou o cenário do audiovisual brasileiro a mudar e reconhecer o trabalho de artistas nordestinos, que antes perdiam importantes papéis para representantes do Sudeste. "Eu, um ator paulistano, era sempre requisitado para interpretar os personagens nordestinos no cinema. Com o tempo, os atores nordestinos foram sendo descobertos, celebrados e ocupando seus lugares. Então vieram o João Miguel, Lázaro Ramos, Wagner Moura e tantos outros", celebra o artista, sobre a importância cultural do filme no Brasil.