ba.ti.cum substantivo masculino que significa: 1) barulho de sapateado e palmas, como no batuque; 2) som de várias vozes juntas, vozeiro.
Baticum: canção do gênero MPB, composta por Gilberto Gil e Chico Buarque, em 1989, presente nos álbuns "Eterno Deus Mu Dança" e "Chico Buarque".
As duas definições do termo atravessam a vida de José Antônio Viana Rocha. Fortalezense, morador do bairro Antônio Bezerra, pai, bacharel em Direito, estudante de Teatro e Educação Social, José Antônio, conhecido como Baticum Proletário, viu seu trabalho ressoar Brasil afora no último domingo, 5, após ser tema de uma das questões de Linguagens e Códigos do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
A questão reproduz um dos versos do educador cearense e traz reflexões a respeito do racismo existente no Brasil.
"O nome Baticum vem das minhas vivências como brincante da cultura popular, nos maracatus, afoxés e blocos de samba. Proletário dei a mim como uma referência aos estudos que faço sobre Marx, anarquismo e comunismo; homenageando, também, minha militância na adolescência que contribuiu bastante na minha formação".
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Não é de hoje que Baticum é o responsável por liderar diversos trabalhos sociais no bairro em que vive. No início dos anos 2000, foi o organizador do "Zoada Rock", evento que reuniu bandas de rock compostas por jovens da periferia de Fortaleza. Atualmente ele dirige a "Biblioteca Comunitária Okupação", o "Sarau Okupação", o "É Sal Festival" e o "Circuito Cultural Periferia Vive".
"O 'Sarau Okupação' fazemos desde 2016 e serve para dar oportunidade aos artistas de periferia de serem vistos, reconhecidos e valorizados. O 'É Sal Festival' vem para dar vazão a essa arte e cultura das periferias de Fortaleza", conta Baticum.
Sobre o trabalho na comunidade, ele conta: "O impacto disso tudo está nas mudanças positivas que acontecem na vida das pessoas. Apesar do processo ser lento, conseguimos enxergar melhora na autoestima, nos objetivos, no foco, nas conquistas do pessoal".
Em entrevista ao Vida&Arte, Baticum conta que recebeu diversas mensagens em suas contas no Instagram e WhatsApp após saber que um de seus poemas foi tema de uma das questões do Enem.
"Ainda estou pensando sobre o poder que isso tem. São quase 4 milhões de pessoas que tiveram acesso a uma poema de um poeta, artista de Fortaleza, das periferias, do Nordeste e que trata de um tema infelizmente tão presente devido a uma herança que está na base cultural, social, econômica e política do que somos".
No enunciado da pergunta, o Exame requeria que o candidato fizesse uma análise sobre as questões raciais e sociais no Brasil. Segundo o Atlas da Violência de 2020, mais de 75% das vítimas de assassinato no País são pessoas negras. No Ceará, para cada um não negro vítima de homicídio, são registrados quase cinco de pessoas que são.
"O racismo massacra o povo preto e os povos originários. E que povo é esse? Eu, você, seus amigos, uma gente que tem sonhos, que trabalha. Queremos viver, além de sobreviver. Não queremos deixar saudade ou mensagem de eterno. Queremos que nossos filhos tenham uma vida melhor e um País e mundo melhor", ressalta Baticum.
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Todo este trabalho é uma consequência das vivências do educador. O desejo de escrever versos, de ser professor, de gostar de fazer música quando criança. A participação em grêmios estudantis na adolescência e o engajamento político e social na vida adulta, hoje, refletem na movimentação de Baticum para ser agente transformador de vidas na comunidade em que vive.
Após conhecermos a vida de José Antônio Viana Rocha, podemos adicionar um terceiro significado à palavra Baticum: artista, poeta, educador social, produtor, agente cultural, pai da Tainá e transformador de realidades.
I Circuito Cultural Periferia Vive
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