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IV Seminário Sesc Etnicidades terá shows musicais e debates sobre raça e etnia
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IV Seminário Sesc Etnicidades terá shows musicais e debates sobre raça e etnia

Com presenças de Lia de Itamaracá e Nego Bispo, IV Seminário Sesc Etnicidades promove debates sobre ritos de matriz afro e indígenas
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Daúde faz show de encerramento no IV Seminário Sesc Etnicidades (Foto: Ytallo Barreto)
Foto: Ytallo Barreto Daúde faz show de encerramento no IV Seminário Sesc Etnicidades

Rodas, dança e purificação. Essas são as etapas que fazem parte das giras e torés, rituais distintos, mas que reúnem semelhanças. A conexão entre os ritos é um dos debates do IV Seminário Sesc Etnicidades, que acontece pela primeira vez em Fortaleza dia 8 e vai até o dia 10 de novembro. 

As ações ocorrem no Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) e Estação das Artes. Em sua segunda edição presencial pós-pandemia, o evento é resultado do projeto Identidade Brasílis, realizado pelo Sesc em todo território nacional.

"As demais regionais, os estados que recebem o projeto do País inteiro tem ações pensadas para os os povos originários e para o povo preto. Pensando nessas articulações, lutas, mobilizações. A partir disso, fazemos uma curadoria montando um seminário que resulta nessa culminância”, explica Magno Rodrigues, coordenador e curador do seminário.

Para o coordenador, os diálogos propostos pelo evento são um modo de oferecer visibilidade à cultura afro-indígena. “Temos visto cada vez mais missões, indígenas, nomes de pessoas pretas aí estampadas em jornais, revistas e que tenham o seu trabalho realizado por muito tempo, mas que não teve divulgação nenhuma”, de acordo com Magno.

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Além disso, segundo Magno, a discussão é uma forma de desmistificar preconceitos ainda enraizados na sociedade. “Não podemos achar que o indígena é só aquele que vive dentro do seu território e o que o ele produz tá lá dentro, a mesma coisa do povo preto, enfim. É entender que a visibilidade dessas ações passa por um pelo um processo de reconhecimento nacional, que isso possa circular em todo o País.”

A conexão entre as raízes africanas e indígenas é antiga. Desde os quilombos, conforme afirma Nego Bispo em seu livro “Colonizações, quilombos: modos e significações”, relançado em 2015.

O intelectual e ativista quilombola, também convidado do IV Seminário Sesc Etnicidades, defende a ideia de que os habitantes de Palmares, por exemplo, se uniram aos nativos que habitavam a região para construir uma comunidade segura para ambos.

Para além das dores e traumas causados pela colonização, a relação entre essas culturas se constrói por meio da “capacidade de cantar e dançar, de saber festejar antes de guerrear, a habilidade de resistir e se adaptar”.

É que destaca Juão Nyn, indígena do povo potiguara e um dos convidados do evento. Ainda que, para ele, cada uma dessas populações tenha seu modo de sentir a dor causada pela branquitude. “Pautamos a vida no Brasil pela escravidão negra e como se não tivesse havido escravidão indígena”, pontua Juão.

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Magno Rodrigues acredita que o foco do debate não é tornar a cultura afro-indígena hegemônica, “mas dar uma outra visibilidade, encontrar outros lugares que a gente possa levar cultura e a valorização daquelas ações para todo o País”, explica.

Existem diversos diversos estados que não sabem o que é o maracatu, ainda acham que é uma ação realizada pelo homem branco que pinta o rosto e preto, mas não sabe a importância da tradição.”, completa.

Em direção a eliminar esses e outros estigmas frutos da colonização e do apagamento étnico, Juão Nyn, defende que “é preciso estar aberto para outras perspectivas, principalmente as que vão além desse mundo colonial que nos estruturou. Então, desaprender pra poder imaginar. Desaprender dessa educação padrão para aprender através da educação nativas e tradicionais e étnicas que já estão misturadas com os nossos saberes do dia a dia mas que são invisibilizadas”.

Para ele, esse diálogo proposto pelo evento é uma forma de fortalecer os laços entre o povo preto e o indígena na luta antirracista: "O pensamento das pessoas indígenas independente de aldeia ou da cidade urbanizadas serve muito para o entendimento da perspectiva antirracista porque a categoria indígena ela não é racial. Ela é étnica, então isso por si só já faz as pessoas entenderem que a categoria raça, ela é uma concessão que a gente faz pra lutar por políticas públicas, mas que ela é uma ficção criada pela pelo branco.”.

Por dividirem traumas e tradições, Nyn acredita que o seminário é um modo de aprofundar os debates sobre questões de raça e etnia.

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Junto com o Maracatu Vozes da África e do povo Jenipapo Kanindé, o seminário irá possibilitar vivências levando os participantes de cada território. Terá apresentações culturais e musicais, cortejo de maracatus, projetos coletivos de difusão, ensino e pesquisa com manifestações artísticas, ritmos e batuques de tradições afrodescendentes de Fortaleza.

Além de Nego Bispo e Juão Nyn, o evento traz Carolina Rocha, conhecida nas redes sociais como Dandara Suburbana, Elisa Pankararu, Priscila Tapajowara, Vilma Santos, Lia de Itamaracá e Cacique Pequena.

Daúde e Lia encerram o seminário com um show na Estação das Artes. Os ingressos para o show podem ser adquiridos através da plataforma Sympla de forma gratuita, a partir de 7 de novembro.

IV Seminário Sesc Etnicidades

  • Quando: de 8 a 10 de novembro
  • Onde: Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura, Biblioteca Pública Estadual do Ceará (Bece) e Estação das Artes
  • Mais informações: no site do Sesc CE
  • Gratuito

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