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Novo filme de Vera Holtz aborda debate sobre economia do cuidado
Vida & Arte

Novo filme de Vera Holtz aborda debate sobre economia do cuidado

Protagonizado por Vera Holtz, "Tia Virgínia" acompanha mulher de 70 anos que abdica da vida pessoal para cuidar da mãe
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Louise Cardoso, Vera Holtz e Arlete Salles estrelam novo filme do diretor Fábio Meira:
Foto: Andréa Testoni/Zuppa Filmes/Divulgação Louise Cardoso, Vera Holtz e Arlete Salles estrelam novo filme do diretor Fábio Meira: "Tia Virgínia"

Uma mulher de 70 anos é pressionada a mudar de cidade e cuidar da mãe idosa. Seguindo a vida em função da saúde e necessidades externas, Virgínia questiona seu lugar enquanto mulher e cuidadora. Inspirado nas próprias tias, o diretor Fábio Meira lança hoje, 9, "Tia Virgínia", longa estrelado por Vera Holtz, a protagonista, e Arlete Salles e Louise Cardoso, que dão vida às irmãs Vanda e Valquíria.

"É um filme sobre as tias do Fábio, mas em algum momento você segue junto porque é uma história de família. É uma história de muitas famílias no País", diz Vera. Durante visita a Fortaleza no fim de outubro, a artista, juntamente com o diretor, participaram da pré-estreia do filme no Cineteatro São Luiz.

Em visita ao O POVO na ocasião, a atriz e o cineasta conversaram com Maísa Vasconcelos para o programa "O POVO da Tarde", na Rádio O POVO CBN, e concederam entrevista ao V&A.

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"Tem uma coisa que sempre me impressionou desde criança… No filme são três irmãs, mas na minha família são cinco, minha mãe tem mais quatro irmãs, e a minha tia solteira ficou com essa obrigação. Ela tinha a vida dela, uma profissão e morava em outra cidade. Mas, basicamente, exigiram que ela voltasse para casa dos meus avós para cuidar deles. Ela, desde quando eu era muito criança, já me chamava atenção, porque não tinha seguido um padrão familiar e sempre foi uma mulher muito interessante, ligada às artes, com uma vida própria. Quis contar essa história no filme. A gente não mostra o passado da Virgínia, mas a gente entende que ela sempre foi uma mulher diferente", explica Fábio.

Vera Holtz interpreta a personagem principal, uma mulher de 70 anos de idade que nunca casou e também não teve filhos. Ela é convencida pelas irmãs a mudar de cidade para cuidar da mãe e se vê na obrigação de abdicar da vida pessoal para seguir com a "obrigação" de cuidar dos outros. "De alguma forma, ela é pressionada pelas outras irmãs para ficar porque não casou e não teve filhos. Ela abre mão do destino, do desejo, dos sonhos e fica naquela casa para cuidar", resume a atriz.

Novo filme do diretor Fábio Meira, "Tia Virgínia" acompanha uma mulher de 70 anos (Vera Holtz) que abdica da vida pessoal para cuidar da mãe
Foto: Andréa Testoni/Zuppa Filmes/Divulgação
Novo filme do diretor Fábio Meira, "Tia Virgínia" acompanha uma mulher de 70 anos (Vera Holtz) que abdica da vida pessoal para cuidar da mãe

Com mais de 50 anos de carreira, Vera é conhecida nacionalmente por novelas como "A Próxima Vítima", "Mulheres Apaixonadas", "Avenida Brasil" e "Amor de Mãe". Assim como Virgínia, a atriz completou 70 anos em 2023 e revela não pensar em pausar as atividades tão cedo: "Nunca imaginei que teria que parar de produzir, não tenho isso na minha cabeça, por conta dos exemplos, das referências na minha família. A longevidade sempre foi uma realidade na minha vida".

Ativa nas redes sociais, com um perfil no Instagram de mais de 1,2 milhão de seguidores, a atriz explica as razões de não atualizar mais o feed: "Não tenho tempo de produzir. Não que eu não tenha as ideias, mas é que não consigo parar em São Paulo, porque gosto da ideia de estar naquela mesa, com aquele fundo". "Eu tenho a ideia, lanço e gosto que as pessoas conceituem as ideias. O máximo que a gente coloca é o título. Parei no 'Nó górdio'", pontua a artista sobre a última publicação, feita em 12 de janeiro deste ano. Ela, porém, afirma que voltará em breve. (colaboraram Filipe Pereira e Miguel Araujo)

Vera Holtz e Fábio Meira participaram de pré-estreia de
Vera Holtz e Fábio Meira participaram de pré-estreia de "Tia Virgínia" no Cineteatro São Luiz

Bate-pronto com Vera Holtz e Fábio Meira

OP - Como vocês avaliam o novo cenário cultural brasileiro, com editais para vários segmentos? Qual a perspectiva cultural?

Fábio - A gente tá retomando alguma coisa, né? Porque a gente vem de um período muito difícil, mas agora o Governo está voltando a dar algum apoio para os artistas, tem a Lei Paulo Gustavo que foi muito importante também para a retomada do audiovisual… Quer dizer, é um primeiro passo, né? Existe uma coisa que ainda está acontecendo que, pelo menos na Agência Nacional do Cinema (Ancine), ainda está concentrado nas grandes produtoras. Tem um método de seleção que ainda precisa ser melhorado, mas depois de tudo que a gente passou nos últimos seis anos, eu acho que esse é um início de uma retomada do audiovisual brasileiro.

Vera - O teatro está lotado, é um período em que as salas de espetáculo estão indo muito bem. O cinema está no período mais difícil de público, mas no teatro o público volta à sala de espetáculos, tanto no Rio quanto em São Paulo a gente tem ouvido falar disso aí. Eu viajei com um espetáculo para Belo Horizonte e Curitiba, era em um festival de teatro e estava entupido, eram 2100 e poucos lugares… Os festivais teatrais estão retomando, os que foram cancelados agora foi por conta do excesso de chuva na região.

Fábio - [Nas cidades do interior] é mais difícil, por isso que eles fizeram a [Lei] Paulo Gustavo e espalharam pelo Brasil. Porque ela atende os municípios também, mas o Ceará tá num momento muito interessante de cinema, né? Já tem um apoio forte que começou nos últimos anos e isso dá resultado também, né? O Guto Parente está com o filme "Estranho Caminho", que está fazendo uma uma carreira profissional muito bonita… Armando Praça lançou um filme recente e está preparando outro, Karim [Aïnouz] acabou de filmar também aqui no Ceará. Então, o Ceará está em um momento forte como seu cinema.

OP - Vera, é inevitável falar nas redes sociais. Com as publicações com críticas e reflexões que você faz, como isso foi pensado? Qual foi o ponto de partida para produzir esse conteúdo?

Vera - Foi uma sucessão de acasos, não tem nada preestabelecido nesse sentido. Todo mundo começou a falar sobre rede social, e eu falei: "Olha, eu realmente não tenho o menor interesse em ficar pontuando na minha vida como observação. Então, eu trabalho na televisão, eu tenho câmera do meu lado 24 horas por dia praticamente há 30 anos. Realmente não é a minha vibe isso aí". Eu sou formada em Artes Plásticas e talvez a performance que eu faço no meu Instagram venha desse tipo de conteúdo. Então a minha advogada disse que eu precisava ter uma rede social, e eu falei: "Eu preciso me sentir bem na rede social para que eu faça o conteúdo, senão não". Eu comecei a fazer, até que um dia o Charles Azevedo, que é ator também, tirou uma foto em que eu tava com essa sacolinha no coque e ele já estava invocado porque os caras estavam usando muito coque na época, sabe. Dai tirei fotos de frente, lado e de costas e comecei já ali, nisso fiz uma série de ideias de coques. Aí eu comecei a viajar já com a cabeça nisso. Viajei e comecei a entender o que eu queria e depois alinhamos a imagem física no espaço... A mesa, o fundo… E a gente fica horas pensando no título. E eu fiquei um bom tempo fazendo, no período que eu estava mais... Você precisa às vezes do ócio, porque o ócio é criativo e a gente comprova isso no dia a dia. Depois eu fui para o teatro fazer ficções, então parei no 'Nó Górdio', mas daqui a pouco eu volto!

Tia Virgínia

  • Quando: estreia quinta, 9
  • Onde e quando: sessões disponíveis no Ingresso.com

 

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