Entre sentimentos que acompanhavam Denis Lacerda antes de "Intacta", primeiro espetáculo solo do artista, um dos que mais o motivava era a "necessidade". Ao mesmo tempo, a ideia o assustava. "Existia uma certa necessidade de fazer esse trabalho pelo fato de que eu sempre trabalhei em grupos de teatro, nunca estive sozinho. Isso criou uma casca, então, pensei: 'Será que vou conseguir? É muito difícil'.
Depois de ser muito demandado, encarou o desafio com o auxílio de Moisés Loureiro, ator, humorista, roteirista e amigo. Assim surgiu "Intacta", estreia em solo de comédia stand-up de Lacerda. O espetáculo será apresentado no Teatro Dragão do Mar às 20 horas deste sábado, 11, em curta temporada.
Os ingressos estão à venda de forma virtual e na bilheteria do teatro por valores a partir de R$ 25, com opção de entrada solidária, mediante a doação de 1kg de alimento não-perecível. A peça será apresentada também neste domingo, 12.
"Comecei a fazer trabalhos corporativos, apresentar eventos, e os trabalhos com Deydianne eram no improviso. Quando passava para estrear um show solo, isso me assustava", compartilha o ator e humorista cearense.
No palco, então, ele "dividirá cena" com Deydianne Piaf, sua drag queen, para contar histórias de vida, além de apresentar números de dublagem de personalidades como Britney Spears e Solange Almeida. Histórias da "infância-viada", família religiosa, arte drag, descobertas da sexualidade, trajetória no Shalom e a força da comunidade LGBTQIA+ também compõem a obra.
São cerca de duas décadas de carreira que acompanham Denis Lacerda. Além de dar vida à Deydianne Piaf, com a qual também atua como DJ e mestre de cerimônias, o artista tem trajetória versátil, entre o teatro, o cinema e a televisão. Ele foi membro, por exemplo, do coletivo artístico As Travestidas e da Cia. Cearense de Molecagem.
No currículo, participou também de espetáculos como "Cabaré das Travestidas", "Engenharia Erótica", "Quem tem medo de travesti" e "Tita e Nic". Suas aparições nas telonas passaram por obras como "Cine Holliúdy" e "Shaolin do Sertão". Na televisão, esteve em programas como "Quem Chega Lá", da TV Globo, e "Faz Teu Nome", do Multishow.
Nesse canal, aliás, ganhou em 2014 o Prêmio Multishow de Humor como o melhor humorista do Brasil. Em 2023, gravou "As aparências enganam", nova produção do serviço de streaming Star Plus, e "O Melhor Amigo", novo filme de Allan Deberton. Com repertório tão variado, havia chegado a hora de realizar, pela primeira vez, um espetáculo próprio.
Para ele, a obra não poderia ser algo comum. "Quando for o meu espetáculo, vai ser diferente. Tem que ser uma coisa bonita, que preencha os olhos das pessoas", compartilha. A partir de troca de ideias com Moisés Loureiro, que dirige "Intacta", Denis chegou ao resultado que desejava.
Na carreira do cearense, tentar se diferenciar dos demais, por sinal, não se restringe ao novo trabalho. Enquanto Deydianne Piaf, buscou ser uma drag que não se limitasse a um público específico, mas que fosse abrangente. "A Deydianne é para todo o mundo", alega. Ao longo dos anos, foi aprendendo a transitar cada vez mais por diferentes espaços.
Nessa trajetória, viu que também se adaptou - enquanto percebe que ainda existem comediantes "engessados em machismo e LGBTfobia" em suas "piadas". No seu processo de adaptação, também compreendeu como lidar com algumas questões para que não virem "nós na sua cabeça".
"Às vezes, você tem que se aceitar e não fazer com que essas adaptações sejam um grande nó na sua cabeça na questão de estar vendo problematização em tudo e as coisas que não precisam ser problematizadas você problematiza e acaba virando uma bola de neve e você não consegue evoluir. Você tem que entender e buscar pautas e caminhos essenciais", indica.
"No espetáculo eu falo muito sobre a minha vida, sobre quando me assumi e sobre essa coisa de ter vivido na Igreja, mas não falo mal dela, eu falo da minha experiência. Quando você tem um personagem em que você fala mais sobre si do que sobre os outros, isso não é constrangedor, não é cancelado. Você está falando de você", acrescenta.
Ao olhar em retrospectiva, ele defende a importância das parcerias profissionais que teve em sua carreira, mas destaca dois nomes: Silvero Pereira e Carri Costa. "Eu só sou quem eu sou como drag por causa do Silvero. Ele criou uma chama que eu não imaginava que teria. O Carri foi meu mestre na comédia, o que eu sei de comédia aprendi com ele", aponta.
O ator finaliza: "Eles foram fundamentais. Aprendi a trabalhar em coletivo para entender como é que eu vou trabalhar com as pessoas, entender o respeito que a gente tem pelo teatro, que as pessoas adoram colocar humor como algo fácil, mas tem que respeitar o palco, o tempo do artista que vai chegar lá, montar cenário, luz e passar seu som. Trabalhar com essas pessoas, para mim, foi fundamental".
Intacta
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