Três décadas de teatro, resistência, encontro, arte e cultura. Com trajetória de conquistas e desafios, o Festival Nordestino de Teatro de Guaramiranga (FNT) realiza, em 2023, a edição de 30 anos. O evento reúne, de 15 a 18 de novembro, artistas, grupos, coletivos, pesquisadores, estudantes e professores para vivenciarem uma imersão na cidade serrana.
O festival teve início em 1993 e, desde o início, mobilizou os moradores da cidade, com colaboração direta para o evento se concretizar durante todos esses anos. A cena cultural de Guaramiranga ganhou força e fortaleceu o desenvolvimento artístico na região. Nesse contexto inicial, o grupo de teatro Cangalha foi um dos primeiros a se formarem, dando início ao movimento de onde surgiu o FNT.
“Essa edição festiva é não só uma comemoração pela construção até aqui, mas principalmente um um convite ao comprometimento com a continuidade do festival. Estamos realizando uma edição que a programação ocupa e abraça a cidade, não só como uma proposta conceitual, mas também como uma resistência”, declara Nilde Ferreira, coordenadora geral do festival, que é realizado pela associação Amigos da Arte de Guaramiranga (Agua).
Ao longo dos últimos anos, o principal financiamento do festival foi através do Edital Mecenas do Ceará, Lei Estadual Nº13.811, que fomenta atividades culturais por meio da conjugação de recursos do poder público estadual com verbas de instituições privadas. Mas as últimas edições do FNT passaram por uma diminuição de recursos e problemas estruturais, questão que foi agravada com a pandemia da Covid-19.
A coordenadora conta que a falta de incentivo a políticas públicas voltadas para a cultura e o atraso do edital, especialmente deste ano, dificultaram a realização do evento, que acontece com apenas 40% do valor estipulado.
“Tentamos recolocar o projeto nos trilhos, ainda sob o impacto da forte crise econômica que veio sobre todos os projetos culturais, com a pandemia. E também pela ausência de políticas de cultura estruturantes, especialmente em nível federal como vivemos em anos recentes”, declara Nilde.
E acrescenta que chegar a três décadas com a trajetória que o festival registra e impactos que possui com a produção teatral cearense e nordestina, atesta a sua importância, por mais que não possua uma sustentabilidade financeira para se manter sozinho.
“Para que o projeto da natureza do festival nordestino de teatro de Guaramiranga tenha sustentabilidade, ele precisa de uma cadeia de oportunidades muito relacionadas a mais investimentos públicos e privados, para que ele possa encontrar esses caminhos”, afirma.
Com os dois teatros da cidade impossibilitados para apresentações, as festividades deste ano acontecem pelas ruas e praças da cidade, movimentando o comércio, turismo e a economia da região.
“O festival se estrutura para ocupar na cidade suas praças e ruas, nesse ato de insistência de realização, entendendo que é um projeto importante para Guaramiranga, porque inaugura um ciclo de desenvolvimento cultural a partir de projetos estruturantes na cena teatral nordestina”, detalha Nilde.
Jornalista, professor e um dos curadores responsáveis pela trigésima edição do festival, Magela Lima conta que o intuito deste ano é fazer com que o público e os artistas se reconectem entre si, após tantas perdas que o teatro sofreu.
“Acho que depois da pandemia, com tantas dificuldades no campo das políticas públicas de cultura, perdas no teatro brasileiro e cearense, queremos que esse festival seja como um abraço. No sentido de carinho mesmo, nos conectarmos uns com os outros, recuperar afetos, laços, se oxigenar e tocar a vida. Porque tem muito ainda para ser vivido e a gente quer fazer isso”. declara
Para Magela, o festival é uma vitrine para o teatro no País e diferentemente de outros eventos, consegue reunir pessoas de diferentes gerações para, juntos, darem vida às artes cênicas.
“Guaramiranga acabou sendo uma vitrine para o melhor teatro, não no sentido de qualidade, mas no sentido de potência mesmo. O festival é uma grande escola e reunir gerações é algo fundamental. Possibilitar o encontro de pessoas mais experientes, com pessoas que estão iniciando, isso é muito importante”, afirma o curador do festival.
O profissional em artes cênicas ainda relembra sua trajetória no festival, em início de carreira, antes de tornar-se pesquisador com mestrado e doutorado voltados ao teatro.
“Olha, quanta coisa eu fiz enquanto eu estava passando por Guaramiranga, o impacto que esse festival teve na minha vida. A geração que fez teatro nos anos 1990 sempre teve ele como uma grande referência, possibilidade de lugar, aprendizado e troca”, declara o crítico de teatro e curador do festival.
Ele ressalta ainda a pluralidade estética do festival. “O que eu acho mais simbólico é que Guaramiranga sempre foi um lugar que respeitou as tradições, o teatro com essa linhagem mais folclórica que conta com essa dinâmica regional. Mas desde as primeiras edições o festival também sempre abriu espaço para experimentações contemporâneas, nunca foi uma coisa engessada e isso foi muito positivo para as gerações contemporâneas, que não trabalham mais com esses códigos tão enrijecidos assim”, detalha Magela.
De acordo com os organizadores, esta edição de 30 anos irá levantar questões de Política Nacional Aldir Blanc e como a ferramenta pode ser mecanismo de fortalecimento de grupos, coletivos, equipamentos e eventos teatrais nos municípios do Ceará. Essa pauta vai nortear, no dia 16, a ação Ciclo de Debates do FNT, com o tema “Ensaios de futuros - políticas para Teatro”.
Programação Especial
Para celebração de três décadas do evento que demonstra a força da cultura no estado, foi preparada uma programação extensa, gratuita e especial de quatro dias, com atividades em diversos locais,mostras de teatro, oficinas, debates e música.
A Cerimônia de Abertura será à noite na Praça do Teatro, às 19 horas, logo em seguida acontece a estreia da Mostra Cenas Germinantes que vem com o propósito de dar uma contribuição simbólica ao futuro do teatro cearense, favorecendo o debate estético-político acerca do futuro da produção teatral, apoiando processos de montagem de espetáculos propostos por coletivos ou encenadores cearenses.
Para o público infantil, a mostra FNT para Crianças acontece no no dia 15, com o Festejo dos 30 anos do festival. O evento acontece no Palco da Vicente Soares, onde o público terá acesso a oficinas circenses e espetáculos.
A Mostra Palco Ceará terá espetáculos selecionados todos os dias com os grupos Trupe ‘Caba de Chegar , Companhia de Teatro Epidemia de Bonecos e Grupo Evan Teixeira, Circo Muamba, Coletivo Bota o Teu e como convidada, a Trupe Motim de Teatro.
Na Cena Plural, haverá músicas de forró na Feira com Bya Dançarina, performance em Libras com o professor de libras, ator performer e mímico Lauro Neto e o artista mágico e mentalista surdo Lucas Dias Ferreira . A tradicional mostra Música no FNT acontecerá nas quatro noites, com artistas de Guaramiranga, Baturité, Redenção e Fortaleza, no Palco da Vicente Soares e no Odilon Bar.
O sábado de encerramento do festival terá Cortejo de Guaramiranga e Intervenções Circenses nas ruas da cidade. Além da solenidade de encerramento na Praça do Teatro com homenagens do FNT e apresentação do grupo de tradições “Arte, Cultura e Memória”. Como espetáculo de encerramento, o grupo Dona Zefinha apresenta o show “Invocado que só”, com a participação do Mestre Vicente Chagas.
30 anos Festrival de Teatro de Guaramiranga