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Expoente do samba, Rildo Hora celebra a reinvenção do ritmo: ‘Não pode parar’
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Expoente do samba, Rildo Hora celebra a reinvenção do ritmo: ‘Não pode parar’

Peça-chave da história da música brasileira, multi-instrumentista Rildo Hora é produtor por trás de sucessos de grandes nomes do samba
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Rildo Hora, gaitista, violonista, cantor, compositor, arranjador, maestro e produtor musical  (Foto: Acervo pessoal)
Foto: Acervo pessoal Rildo Hora, gaitista, violonista, cantor, compositor, arranjador, maestro e produtor musical

“O samba é tudo na minha vida”, crava Rildo Hora, cantor, gaitista, violonista, cavaquinista, compositor e produtor musical brasileiro. Natural de Caruaru (PE), o artista de 84 anos é nome frequente na história dos grandes lançamentos do samba de raiz.
Neste mês, quando se celebra o Dia Nacional do Samba (dia 2/12), o Vida&Arte conversa com um dos produtores musicais mais importantes da história do gênero. Rildo é responsável por produzir discos de personalidades como Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Beth Carvalho, grupo Fundo de Quintal e Dona Ivone Lara.
O pernambucano se interessou por música aos cinco anos e aprendeu as primeiras notas de piano com sua mãe. Mas foi quando se mudou para o Rio de Janeiro com sua família que teve seu primeiro contato com o samba, aprendendo a tocar outros instrumentos musicais como a gaita de boca, cavaquinho e violão.
“Comecei a tocar gaita nas emissoras de rádio nacional e no programa do Paulo Gracindo, cantando e tocando violão no início das emissoras de televisão no Rio de Janeiro, TV Rio e TUPI, até me transformar no maestro produtor que eu sou hoje”, recupera Rildo.
Sua principal inspiração é a cultura brasileira, principalmente a pesquisa ligada à música negra no Brasil. “Eu tenho muita afinidade com isso e também com a ramificação nordestina, através do forró e do baião, que inclusive, já produzi alguns discos do Luiz Gonzaga no começo da minha carreira. Por ter sido criado em Madureira (bairro da Zona Norte do Rio), tive a felicidade de conhecer grandes nomes da Portela. Quando me tornei produtor, já gostava demais de samba”, declara.
O Multi-instrumentista poderia ter escolhido seguir apenas na carreira solo em muitas ocasiões, mas preferiu também se dedicar às produções musicais. Assim, de disco em disco, nos bastidores do samba, foi lapidando talentos e se consolidando como um dos mais consagrados do País. Ao todo, já recebeu sete Grammys Latinos, todos com trabalhos de artistas do samba.
A obra mais recente com assinatura de Rildo é “ O dia que Vi Caymmi”, em parceria com Márcia Tauil, Felix Junior, Marlon Setti e Marcos Suzano, disponível a partir do dia 8 de dezembro em todas as plataformas digitais.
“É uma música em homenagem ao grande baiano Dorival Caymmi, responsável por muita coisa na cultura brasileira e no movimento do samba brasileiro”, declara o músico.
Quando questionado sobre dificuldades em trabalhar com o samba em uma época que o gênero era marginalizado socialmente, o artista afirma que não encontrou problemas, pois sempre procurou fazer as coisas diferentes.
“Eu não tive dificuldade porque fui fazendo de maneira muito indireta as coisas, sempre evitando bater de frente. Fui caminhando normalmente, o samba nunca deixa de existir. Às vezes, ele sai um pouco da mídia, mas no subúrbio ele reina, não para nunca”, sustenta.
Rildo trabalhou pela primeira vez com Martinho da Vila em 1968 pela produtora RCA e juntos lançaram o CD “Canta canta, minha gente”. A partir disso, teve a oportunidade de conhecer e trabalhar com outros artistas brasileiros, iniciando sua jornada como um dos grandes produtores musicais do país.
Mariza Rossi, Jair Rodrigues, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Clara Nunes, Maria Creuza, Chiquinho do Acordeom são alguns deles.
Mas além do samba, outros gêneros musicais são apreciados pelo gaitista. “Eu gosto de ouvir música boa, pode ser samba, baiana, antiga, bossa nova de João Gilberto, música regional com violão, cavaco, flauta, música urbana acompanhada com piano, bateria, baixo e Maisa, com quem já tive o prazer de dividir o palco”, declara.
Para Rildo, o samba é democrático e pode tocar as pessoas de diversas maneiras, dependendo do caminho que o artista escolher. “O samba feito por pessoas simples, como Nelson Cavaquinho, Cartola, Zé Guedes e Candeia é culto (raiz) porque vem da origem dos batuques africanos que originaram esse ritmo brasileiro e é o que prefiro. Mas há também os que preferem uma caminho mais simples, direto, comercial e esse movimento a gente encontra com muita facilidade nos movimentos de pagode, que é uma coisa muito forte hoje em dia”, detalha.
O pernambucano garante que o samba tem o poder de entrar com muita facilidade em todo o lugar do País, assim como outros gêneros também, citando como exemplo o sertanejo, ritmo que vem ganhando cada vez mais força e público.
“No momento, a paisagem sonora brasileira está muito calcada em cima do movimento da música sertaneja e isso cria um pouco de dificuldade para os outros gêneros. Mas o samba não desaparece, tem gente nova chegando que encontra os lugares muito ocupados pelo pessoal do sertanejo e isso pode mudar daqui a pouco, é só estourar um sambista novo talentoso”, expõe.
Com essa nova geração de sambistas surgindo e junto dele o pagode, o músico afirma que o gênero está em boas mãos e que vai continuar por muito tempo sendo apreciado.
“Eu participo do samba e de todas as suas vertentes, com muito prazer. Inclusive com a rapaziada que está chegando agora, Sorriso Maroto, Péricles, Alexandre Pires, que já me procuraram para fazer arranjos em suas canções, vamos caminhar juntos com eles. O samba está aí e tem vez para todo mundo. Acho que ele não pode parar, como dizia Dona Ivone Lara. Eu sou otimista em relação à paisagem sonora brasileira de acolher sempre o samba”, declara.

Produções com Zeca Pagodinho e amizade

 

Uma grande amizade que o trabalho lhe proporcionou foi Zeca Pagodinho, a quem acompanha há anos, fazendo produções de discos e também coordenando os músicos da banda.

Em 1981, Beth Carvalho conheceu Zeca, no Cacique de Ramos, e o convidou para participar do seu disco “Suor no Rosto (1983, quando fizeram um dueto no samba “Camarão que Dorme a Onda Leva”, de autoria de Zeca e de Arlindo Cruz e Beto Sem Braço.

A relação dos dois começou em 1981 enquanto Rildo produziu o disco “Suor no Rosto” de Beth Carvalho (1946-2019), e pediu para que ela interpretasse a música de um jovem compositor do Cacique de Ramos, a famosa “ Camarão que dorme a onda leva”, autoria de Zeca, Arlindo Cruz e Beto Sem Braço.

“Ao gravar essa música ela iniciou o processo dele”, é o que declara o maestro.

Depois disso os dois fizeram muitas parcerias juntos, CD, DVD, em 2003 gravaram um especial para MTV e foi um dos primeiros a cantar o samba de forma acústica. O Álbum “Acústico MTV” foi um dos mais vendidos, sendo relançado em 2006.

“ A minha relação com o Zeca é a melhor possível, porque ele é uma pessoa muito bem-humorada, de muito bom caráter e que tem uma vontade muito grande de ajudar as pessoas”, declara o maestro.

 

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