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Stênio Gardel compartilha sentimentos após prêmio internacional
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Stênio Gardel compartilha sentimentos após prêmio internacional

Depois de ter sido o primeiro brasileiro a conquistar o National Book Award, dos Estados Unidos, cearense Stênio Gardel compartilha alcances de "A Palavra Que Resta"
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Escritor cearense Stênio Gardel estreia no gênero romance abordando o amor, a violência e o preconceito (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Escritor cearense Stênio Gardel estreia no gênero romance abordando o amor, a violência e o preconceito

Depois de ser entrevistado pelas jornalistas Maísa Vasconcelos e Juliana Matos Brito na Rádio O POVO/CBN, o escritor cearense Stênio Gardel se senta em um sofá para outra conversa. Um dos pontos de destaque é "A Palavra Que Resta", seu romance de estreia. Com ele, o autor conquistou o National Book Award na categoria "Tradução" do prêmio literário estadunidense.

"Acho que meu coração já está mais calmo, mas na hora foi um grande susto. Uma completa surpresa. Um susto de não entender direito o que estava acontecendo, porque foi algo muito grande. Eu olhei para a tradutora Bruna Dantas Lobato, que estava ao meu lado, e ela também estava espantada. Foi algo muito forte", lembra sobre a cerimônia de 15 de novembro.

Stênio Gardel foi o primeiro brasileiro a vencer o National Book Award, um dos principais prêmios dos Estados Unidos voltados à literatura. Um feito grandioso - e ainda mais especial por ter sido com seu romance de estreia e por carregar consigo diferentes localidades: Limoeiro do Norte, o Ceará e o Brasil.

"Isso torna tudo ainda mais surpreendente, pelo fato de ser o primeiro romance e já ter a oportunidade de ser traduzido nos Estados Unidos, o que nem sempre é fácil para livros brasileiros. O caminho começou por aí, digamos assim. Depois, veio a indicação ao prêmio, até chegar à reta final e levar o prêmio para casa como primeiro brasileiro a ganhar só torna tudo ainda mais especial", compartilha em entrevista ao Vida&Arte.

Para Stênio, a conquista se torna ainda mais simbólica devido ao tema do livro e às abordagens de seu romance. Em "A Palavra Que Resta", o público acompanha a trajetória de Raimundo, um homem analfabeto que teve seu amor secreto interrompido brutalmente na juventude. Durante 50 anos ele guardou consigo uma carta que nunca pôde ler.

Apesar de ser ambientada no interior nordestino, a trama não se consolida sob olhares já batidos sobre o que costumam ser histórias que se passam no sertão - com problemas enfrentados pelas condições climáticas e em um contexto de violência. Para o autor, o livro segue outros caminhos.

"É exatamente o contrário dessa tradição de trazer a seca, as condições climáticas e as consequências disso no sertão. 'A Palavra Que Resta' tem água, rio, enchente, chuva, então já há divergência a partir daí. Acho que há uma mudança, não só no meu livro, mas em um contexto maior, de trazer outras vozes e outras perspectivas", introduz.

Ele explica como a literatura tem avançado na forma como retrata personagens nesses contextos, abordando as "vozes de mulheres e pessoas LGBTQIA independentemente de onde vivam". "A literatura hoje consegue abarcar diferentes visões sobre o nosso sertão que não sejam somente a seca, para mostrar que as pessoas não vivem só por causa disso, que outras questões são constituintes, como as relações afetivas, econômicas e raciais", elabora.

Essas abordagens, aliás, seriam alguns dos motivos responsáveis para o sucesso de "A Palavra Que Resta" não apenas nacionalmente, mas também em terras estrangeiras. Além do inglês, o livro foi traduzido para o italiano. Na avaliação de Stênio Gardel, as outras perspectivas sobre um lugar de origem contribuíram para isso, mas não se encerram nelas.

"Há também a questão de que o livro apresenta um personagem gay, analfabeto e idoso. Isso, por si só, traz questões para história que são muito atuais, da vivência de homens gays e de pessoas analfabetas. Qual a visão de mundo dessas pessoas? Como elas se relacionam com seus familiares, como encaram o preconceito? Há uma atualidade", indica.

Assim, Stênio Gardel aponta a literatura como uma forma de "olhar para a realidade e repensá-la". Nesse sentido, destaca as possibilidades a partir de seu livro: "Se as pessoas que lerem 'A Palavra Que Resta' puderem, ao final da leitura, voltar a olhar para seu círculo mais próximo de amigos e familiares e repensar atitudes de preconceito já vai ser um grande passo e uma grande conquista do livro".

Além de escritor, Stênio Gardel é servidor público. Atualmente, trabalha no Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) - e considera o trabalho como uma forma de dar suporte e tranquilidade ao seu lado enquanto autor. Segundo o cearense, ele consegue se dedicar com mais liberdade à escrita, visto que, hoje, não depende totalmente dela financeiramente para conseguir se sustentar. "Ainda não dá para viver só da escrita, mas consigo conciliar as duas coisas", admite.

"A Palavra Que Resta" também terá versão em audiovisual. Está previsto o lançamento de um filme como adaptação da obra. Em 2024, um novo projeto de Stênio Gardel será disponibilizado ao público: um cordel ilustrado desenvolvido em parceria com a Companhia das Letrinhas.

"Bento Vento Tempo", com ilustrações do artista plástico Nelson Cruz, narra o passeio de bicicleta de um garoto com seu avô, que está perdendo a memória, por uma feira na cidade. "Estou muito animado", revela.

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