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Turnês de reencontros viram febre no Brasil apostando na nostalgia
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Turnês de reencontros viram febre no Brasil apostando na nostalgia

|Turnês de reencontros viram tendência na música nacional e bandas que marcaram época e gerações retornam aos palcos para despedidas emocionantes
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Titãs (Foto: Bob Wolferson/Divulgação)
Foto: Bob Wolferson/Divulgação Titãs

2023 está quase acabando e ele trouxe um sentimento de nostalgia para muitos fãs de bandas que marcaram determinada época, mas decidiram encerrar suas atividades. Isso porque alguns desses artistas decidiram retomar com turnês e reencontrar seu público, com várias apresentações, especialmente no Brasil. NX Zero, RBD, Restart, Cine, Titãs - com sete se seus integrantes originais na turnê "Encontro" - e a banda de rock For Fun, são alguns dos exemplos.

Não se trata apenas da música, o retorno dessas bandas aos palcos também mostra a conexão entre fãs e artistas. O ao vivo proporciona uma experiência única e a energia compartilhada entre todos é extraordinária, deixando memórias que durarão para sempre.

E não se pode negar que os "comebacks" anunciados foram um verdadeiro presente para os amantes da música, mostrando sua influência na vida das pessoas, poder em movimentar uma multidão de fãs, esgotar shows em poucos minutos e causar um verdadeiro alvoroço naqueles que querem relembrar períodos felizes.

Mas o que chama a atenção nesses retornos que aconteceram é que neles estão músicos que fizeram sucesso na última década e o questionamento que fica é porque especialmente esse ano, todas essas bandas resolveram voltar ao mesmo tempo e como isso impactou a vida de quem os acompanhou. O Vida & Arte conversou com produtores de shows e fãs para entender esse fenômeno nostálgico.

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Reencontros de sucessos

Uma das bandas a anunciar o reencontro foi o grupo NX Zero, no início deste ano. A turnê "Cedo ou tarde" fez com que Di Ferrero, Fi Duarte, Gee Rocha, Caco Grandino e Daniel Weksler se reunissem para presentearem os fãs com suas canções que fizeram sucesso nos anos 2000.

O anúncio foi feito através das redes sociais, mostrando os integrantes manejando seus respectivos instrumentos antes de começarem a tocar trecho da música "Além de Mim". A turnê nostálgica já rodou por várias capitais brasileiras e se encerra neste mês de dezembro.

Já o grupo Restart, formado pelo quarteto, Pe Lu, Pe Lanza, Thomas e Koba, que viveram o período das calças coloridas há pouco menos de 10 anos, anunciou retorno em agosto deste ano. A turnê intitulada "Pra Você Lembrar", vai comemorar os 15 anos do grupo, que chegou ao fim em 2015. Mas, segundo a própria banda, essa deverá ser a última vez que a banda vai se reunir.

Seguindo na mesma linha, os garotos da Cine, sucesso entre 2007 a 2016, fizeram shows de despedidas no Replay Festival, que ocorreu em São Paulo e Rio de Janeiro, no mês de outubro. DH, Bruno Prado, Danilo Valbusa, David Casali e Pedro Caropreso presentearam os fãs com o single "Último Clichê".

Saindo das bandas brasileiras, outro grupo que foi febre nos anos 2000, derivado da novela de sucesso mexicana, o Rebelde (RBD) voltou a se reunir após 15 anos. A turnê "Soy Rebelde Tour" passou por vários países, incluindo o Brasil. Os shows aconteceram no Sudeste e foram um sucesso de público - que esperava esse retorno há anos.

Outra banda de rock que fez bastante sucesso é a For Fun, composta por Danilo Cutrim, Vitor Insensee , Nicolas Fassano e Rodrigo Costa. O anúncio aconteceu na última terça, 5, nas redes sociais e levou os fãs do quarteto à loucura. "Forfun nasceu para cantar uma vida de alegria, otimismo, reflexões e entusiasmo", escreveram em publicação. A banda fará dois shows, o primeiro será em 9 de agosto, no Allianz Parque, em São Paulo, já o segundo em 24 de agosto, na Marina da Glória, no Rio, e por enquanto não há previsão de apresentações em outros locais. A banda foi criada em 2001 e o fim das atividades foi anunciado em 2015.

Agora, diferente de todas as bandas citadas, o grupo Titãs nunca encerrou suas atividades, embora desde 2016 o que antes era um octeto tenha sido reduzido a um trio. A turnê intitulada "Titãs Encontro" celebra os 40 anos do grupo e vai reunir a formação original composta por Arnaldo Antunes, Nando Reis, Paulo Miklos, Charles Gavin, Branco Mello, Tony Bellotto e Sérgio Britto. Liminha vai substituir o guitarrista Marcelo Fromer, morto em um acidente em 2001. A turnê também retorna a Fortaleza fazendo parte da programação de Réveillon da Cidade.

Reação dos fãs

Para Luana Maria, fundadora do fã clube FortalNX Zero, o que motivou a turnê de reencontro foi a saudade. "Os integrantes da banda são muito unidos, fora que os fãs imploravam por esse retorno há muito tempo. Mas acredito que tudo tem o momento certo e com toda certeza 2023 foi o melhor. Fizeram um trabalho incrível, setlist pensando com muito carinho e com músicas de todos os álbuns", opina.

A empreendedora, que conheceu a banda aos 15 anos, já foi para três shows e em um desses encontros presenteou o vocalista Di Ferrero com uma pulseira que ele usa em dois clipes. Outro fator que fez o grupo marcar a vida da jovem foi ter conhecido seu marido em um desses shows. "Em 2015 nos conhecemos e nunca mais nos largamos. Estamos juntos há 8 anos e com um filho lindo de 4", declara a Luana.

Já Maíra Nogueira, bacharel em Direito, os 40 anos da banda Titãs foi um dos principais motivos para o grupo se reunir com todos os integrantes e celebrar a data. "Quando vi o anúncio eu chorei de felicidade e fiquei muito ansiosa. Foi muito louco ver o vídeo deles reproduzindo novamente as primeiras fotos que tiraram na carreira", declara ela que já foi para 20 shows da banda, oito da turnê "Encontro" e 12 de outras.

Segundo a estudante, a banda formou seu primeiro contato com o mundo e influenciou diretamente a formação de seu caráter. "Através da música deles eu tive minhas primeiras noções sobre justiça social, sobre os direitos básicos do ser humano e também sobre amor, como viver e se divertir. Aprendi muito com a música e a história deles", expõe.

Eduardo Ribeiro, enfrentou filas enormes e o calor de 42° graus do Rio de Janeiro para poder ver novamente o grupo mexicano RBD. O designer e social midia é fã da banda desde a infância quando os acompanhava assistindo a novela. "Viajei sozinho de avião pela primeira vez, só para vê-los. Fiquei acampado na fila desde às 5 horas da manhã com os meus amigos do Rio", afirma.

A turnê de reencontro "Soy Rebelde Tour" significa a despedida que o grupo não teve a oportunidade de proporcionar para os fãs, pontua o social mídia. Público esse que na época eram muito novos e não conseguia pagar seus custos para assistirem aos shows.

"O principal foco era que esse reencontro acontecesse para um fechamento de ciclo deles com os fãs. Muitos na época eram crianças e os pais não deixavam ir a um show e hoje esse público já adulto consegue arcar com esse sonho. Então foi um presente para a memória afetiva de muitas crianças, adolescentes que hoje puderam reviver esse momento", conta.

Lucros com as turnês de reencontro

O mercado musical também sai lucrando com isso, já que fãs que não tiveram a oportunidade de ver de perto seus ídolos, por não ter idade certa para ir aos shows ou condições financeiras, agora enxergam esses reencontros como uma nova possibilidade para realizar esses sonhos e evidenciam cada vez mais as músicas dos artistas.

Fabrício Moreira, Produtor da Underground Produções e Vibe Music Entretenimento, conta que o retorno de grandes bandas requer estudo, investimento alto para se concretizarem e aponta que o entretenimento mexe com as emoções das pessoas, fazendo com que isso se concretize.

"Com toda certeza requer muito investimento por trás, mas também precisamos do apelo do público, porque se tivermos isso conseguimos dobrar esse público. Costumamos dizer que o brasileiro é modista, ele vai no que está acontecendo no momento e segue o hyper, então é o investimento que faz a moda acontecer", afirma.

E acrescenta que as plataformas de streaming também são fatores importantes que influenciam para que isso aconteça. "Sem dúvidas hoje ficou tudo mais fácil, temos que nos adaptar à modernidade que está chegando cada vez mais forte e que faz o produtor pensar um pouco fora da caixa. Montar boas turnês, escolher as bandas certas, e ter principalmente um bom investimento em uma boa mídia", expõe Fabrício, que trabalha no ramo há 18 anos.

"Nostalgia está sendo algo bem lucrativo, principalmente para gerações que estão ficando velhas e ainda não acharam novos ídolos ou obras para amar. Nisso, continuam apegadas ao passado. O apelo dos fãs também influencia, mas acho que o dinheiro fala mais alto", declara Gustavo Queiroz, jornalista musical.

Para o profissional o momento chegou a ser uma coisa vendável que a indústria percebeu que consegue ganhar dinheiro com esses retornos, mas não descarta a vontade dos artistas em estarem no palco novamente. "Acredito também que os músicos amam o que fazem e quando se está parado por muito tempo, uma hora bate a vontade de voltar, nem que seja para fazer uma turnê de despedida ou algo do tipo, mas não acredito que esses retornos sejam definitivos. Acredito que eles voltaram mas não devem ter um plano de continuação", afirma.

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