Nesta quinta-feira, 28, estreia nos cinemas o novo filme de comédia protagonizado por Ingrid Guimarães e Tatá Werneck. "Minha irmã e eu" se passa no interior de Goiás e as atrizes interpretam as irmãs Mirian e Mirelly que vivem realidades totalmente diferentes.
Enquanto uma leva uma vida simples, cuidando dos filhos, marido, da mãe e se acostumou com a rotina pacata no interior, a outra ostenta uma realidade falsa nas redes sociais no Rio de Janeiro. Mostra fotos com diversas celebridades, o que faz sua família achar que ela ficou famosa. No entanto, ela apenas trabalha passeando com animais de estimação de famosos.
Mas quando a mãe delas, interpretada por Arlete Salles, desaparece, elas precisam deixar as diferenças de lado para encontrá-la no que vai ser uma aventura pelas estradas do interior. Reforçando o protagonismo feminino, o longa conta com a direção de Suzana Garcia, conhecida por dirigir os filmes "Minha vida em Marte" e "Minha Mãe é uma Peça 3", maior bilheteria nacional até agora.
A produção tem participação ainda de Chitãozinho & Xororó, Leandro Lima, Iza, Lázaro Ramos e Taís Araújo. Esse é o quarto encontro de Tatá e Ingrid no audiovisual brasileiro. Elas já contracenaram em "De pernas pro ar 2", "Loucas pra casar" e "TOC: Transtornada obsessiva compulsiva", mas pela primeira vez dividem o protagonismo em cena.
Em bate-papo com o Vida&Arte, que foi convidado para assistir ao filme em primeira mão no Rio de Janeiro, Ingrid Guimarães revela que sempre teve o desejo de fazer algo com o tema de irmãs. "É um filme que fala sobre a conexão dessas duas irmãs e do amor delas por essa mãe que elas nem imaginavam que era tão grande. Pra mim é muito emocionante falar de irmão, não só de irmão de sangue, mas falar de irmandade. É um filme para você curtir com a família toda", declara. "O filme provoca reflexões de amor, afeto, além de ser muito divertido", acrescenta a diretora Susana Garcia.
Para além da busca por conquistar o grande público, esta é a primeira vez em que Ingrid não apenas atua diante das câmeras, mas também participou da produção e escreveu o roteiro, que teve início em 2018, mas que encontrou dificuldades para se concretizar. "Foi um desafio porque acabei me envolvendo muito com os problemas de produção. A gente adiou muito o filme, marcamos duas vezes para começar e chegamos a fazer a pré-produção, mas tinha a pandemia da covid-19", pontua.
O longa foi o projeto de maior duração da diretora Suzana e Ingrid Guimarães. Juntando tempo de pré-produção, adaptações no roteiro, pandemia, até suas filmagens, que foi dividido em duas fases para conseguir conciliar a agenda das artistas, foram quatro anos. "Ele é um road movie, você depende muito do tempo. O céu de Goiânia é lindo, mas caía muito rápido. Nós gravamos no interior de Goiás, em Pirenópolis, e era época de chuva. Não foi fácil", relata Ingrid.
A atriz mora no Rio de Janeiro desde os 13 anos, mas é natural de Goiânia e muitos elementos da sua história familiar e vivência no estado contribuíram para a construção da narrativa do filme. "Eu faço personagens muito modernos no cinema e eu sempre tive o sonho de falar um pouco da onde eu vim. Então, por exemplo, tem várias cenas que o público vai assistir que realmente existem na minha vida. A Susana tinha muito essa paranoia da gente mostrar o interior de uma maneira estereotipada, meio sacaneando, mas estamos mostrando os valores que todo mundo deveria ter", conta.
O sertanejo é um dos destaques do filme. Recentemente ele foi apontado como o gênero mais ouvido no Spotify pelo brasileiros e as composições de artistas femininas como Marília Mendonça, Maiara e Maraisa e Ana Castelo ganham destaque na trilha sonora da produção. "Para mim foi maravilhoso, porque eu sou do Rio de Janeiro e aqui eu não tenho essa cultura sertaneja. Então entrar nesse mundo foi um aprendizado ", destaca a cineasta Suzana Garcia.
Sobre improvisos em cena, Ingrid pontua a criatividade da amiga durante a atuação. "Eu estou muito acostumada com a Tatá e comentei com os roteiristas que nada do que eles fossem escrever ia ser melhor do que o que ela faz. O fácil é que nós temos muita intimidade e eu lido muito bem com essa coisa dela improvisar muito, não me importo. E o mais difícil também é isso, porque eu não sei a hora que ela acabou", brinca a atriz. "No set, eu deixo elas completamente livres para brilharem e vir essas improvisações maravilhosas", complementa Suzana.
As duas também destacam o trabalho da atriz Arlete Salles em cena e revelam que uma das principais mensagens do filme é mostrar para o público que você pode ser feliz em qualquer idade. "A Arlete é uma mulher potente. Ela fez cenas muito trabalhosas, estava com todo texto decorado e atenta a tudo. E queremos mostrar isso também no filme, que independe da idade. Quando você quer ressignificar sua vida, você vai e consegue", declara Suzana. "Queremos inspirar não só mulheres da nossa geração, mas mulheres mais velhas também", conclui Ingrid.
*Jornalista viajou a convite da produção do filme
Presença feminina na comédia e preconceitos
Fazendo comédia em boa parte da sua carreira, em mundo que o gênero é majoritariamente masculino, Ingrid relata que o cenário cinematográfico brasileiro vem mudando aos poucos com o esforço das próprias mulheres que estão dirigindo e escrevendo cada vez mais.
“Hoje o cenário está mudando e reflete o que vem acontecendo na sociedade, com mais mulheres no poder, mostrando que são capazes. Temos grandes atrizes comediantes protagonizando filmes como a Fabiana Karla, Mônica Martelli, Samantha Schmutz. Mas eu penso que isso vem de um histórico em que precisamos ficar o tempo todo nos provando em uma luta incansável. E o mundo do cinema ainda é muito masculino, por mais que a gente tente mudar”, expõe.
E relembra o caso em que seu filme De Pernas Para o Ar 1 foi taxado de “filme de mulherzinha” em 2010. “Fizeram uma capa dando destaque para os filmes do Leandro Hassum, Fábio Porchat e Bruno Mazzeo na época e havia apenas eu de mulher. E me lembro que quando eu fui ler, a matéria era super pejorativa”, declara a artista.
Já a diretora destaca que as mulheres possuem uma forma diferente de fazer a comédia. “Hoje eu sinto um respeito muito maior e acho que o olhar feminino quando falamos de comédia, relação familiar, amor, delicadeza, é um olhar com mais ternura e vai mais fundo na emoção. E estamos mostrando que somos capazes de fazer”, afirma Suzana.
Lei Paulo Gustavo
As artistas que eram amigas do ator Paulo Gustavo (1978-2021) que morreu em decorrência da pandemia da Covida- 19 destacaram na conversa a importância da lei que leva o nome do artista para audiovisual brasileiro, após quatro anos sem o ministério da cultura no Brasil.
“A gente passou tempos muito sombrios, mas nós não fomos as mais prejudicadas, éramos contratadas. Eu tenho muitos amigos que ficaram passando fome na pandemia, então é muito importante que haja alguma lei de incentivo para essas pessoas poderem criar os seus projetos. E chamar Lei Paulo Gustavo é tão significativa”, pontua Ingrid.
“A gente recebe mensagens de pessoas de todos os lugares dizendo que conseguiram realizar projetos graças à lei. Então, é uma forma dele permanecer vivo e ajudando, que era o que ele mais gostava”,acrescenta Suzana.
A Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022, é conhecida como Lei Paulo Gustavo e tem como objetivo a garantia de ações emergenciais direcionadas ao setor cultural em decorrência do impacto da área durante a pandemia de covid-19.
Ingrid também destaca a importância da cota de telas para o cinema brasileiro. “Eu fui uma pessoa que foi muito prejudicada e eu posso dizer o que é não ter a cota de telas. Eu vivi muito esse universo com Vingadores quando estava em cartaz com o De Pernas Para o Ar 3. A cota de telas é essencial ,se você não tiver tempo para o cinema brasileiro daqui a pouco nossos filhos que já são americanizados nas redes sociais vão se desacostumar a ver um filme em portugues”, declara a protagonista do filme Minha irmã e eu.
Crítica: Equilíbrio e graça em cena
Considero a comédia um dos gêneros mais difíceis para o cinema como um todo. Existe uma linha muito tênue entre algo ser realmente engraçado e simplesmente sem noção. Ou até mesmo puramente sem graça. Porém, quando o assunto é comédia, "Minha Irmã e Eu" começa com pé direito, ao ter a direção de Susana Garcia, da trilogia "Minha Mãe é uma Peça". Além de um elenco carismático que entrega muito bem o que o longa vem propor. Uma comédia familiar simples e divertida.
Mirian (Ingrid Guimarães) e Mirelly (Tatá Werneck) são duas irmãs que nasceram no interior de Goiás, que eram muito unidas quando mais novas, mas com o passar dos anos, acabaram seguindo caminhos e vidas completamente diferentes. Enquanto Mirian ficou na cidade natal e seguiu um caminho mais tradicional com marido, dois filhos e cuidando da mãe, Mirelly foi morar no Rio de Janeiro, onde aparentemente tem uma vida muito bem sucedida, rodeada de artistas e diversas personalidades famosas.
Após anos sem se ver, as duas se encontram para comemorar o aniversário da mãe, a fã de Chitãozinho & Xororó, dona Márcia (Arlete Salles). Após uma discussão das duas, dona Márcia some, o que acaba levando as duas a se unirem em uma busca que causará uma reaproximação quase improvável. Uma alta, outra baixa. Loira e morena. Tradicional e moderna. As duas são o oposto em praticamente tudo, exceto no amor por sua mãe.
"Minha Irmã e Eu" é um filme bastante simples e focado em sua dupla principal. Ingrid Guimarães se encontra à vontade na pele de Mirian, enquanto Tatá Werneck trás muito da sua persona comediante para a personagem, o que poderia se tornar caricato ou deslocado demais, porém a química da dupla funciona muito bem. A atuação de Ingrid equilibra bem as cenas, o que não quer dizer que Tatá está atuando mal no longa. Pelo contrário. Uma complementa a outra, trazendo o equilíbrio perfeito para todo o filme. O que também é, sem dúvidas, mérito da direção de Susana Garcia.
E isso é importantíssimo, já que boa parte da trama é focada na jornada da dupla. Jornada essa que trás diversos momentos engraçados e até emocionantes. Como a aproximação daquelas duas irmãs tão diferentes, mas que apesar de tudo, se amam bastante. Algo que trás uma grande aproximação com público, pois essa é uma situação mais do que normal para muitas pessoas.
"Minha Irmã e Eu" conta com algumas participações especiais, como a de Lazaro Ramos, que rendem muitas risadas, apesar do pouco tempo de tela. E cenas quase improváveis, mas que acabam convencendo o público, além de manter bem o ritmo humorístico durante todo tempo.
Apesar da trama simples, o roteiro assinado por Ingrid Guimarães junto de Célio Porto e Leandro Muniz ainda encontra espaço para discussões importantes. Como o empoderamento de Mirian ao passar da trama, que vai de uma mulher quase que submissa ao seu marido a alguém que entende que é muito mais do que uma mera "peça" a ser usada como bem entender, e que merece muito mais do que ficar presa na monotonia cotidiana. Tudo isso sem se tornar algo deslocado dentro do filme.
Enquanto Mirelly, que no início da trama se mostrava extremamente resistente às suas raízes, percebe que aquilo é muito mais valioso e verdadeiro do que uma vida de aparências longe de sua família e amigos do passado. O que passa uma mensagem importante, nesse recorte. Já que Mirelly é uma personagem muito focada na sua "vida na internet". Algo muito presente nos dias atuais.
"Minha Irmã e Eu" não é um filme inovador, mas é sem dúvidas atual, divertido e até mesmo necessário, em muitos sentidos. Trazendo uma reflexão para além de uma mera aproximação familiar, somada a ótimas cenas muito bem dirigidas e engraçadas, com um tom que só o nosso cinema pode proporcionar. O que é sensacional.
Minha irmã e Eu