Números históricos, adaptações e cearenses em evidência . O ano em que Ailton Krenak se tornou o primeiro indígena a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras foi marcado por tópicos que, em algum momento, interagem entre si.
Obras nacionais, por exemplo, deixam de brilhar apenas nas páginas de seus livros e ganham, ainda mais, espaço no audiovisual – sejam como filmes ou séries — nos mais variados gêneros.
Não apenas as telas de produções artísticas, mas também as dos dispositivos tecnológicos mostram que nas redes sociais, comunidades literárias se fortalecem, encontrando outros meios de divulgação de livros.
Se opondo a todo o cenário positivo que 2023 mostrou para o cenário literário brasileiro, uma pesquisa encomendada pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) mostrou que 84% da população acima de 18 anos não compraram livros nos últimos 12 meses.
As causas são diversas, destacando-se os preços em que as obras estão sendo vendidas, a ausência de livros nas lojas ou a falta de tempo com a correria do dia a dia. Mais da metade desse público, inclusive, consideram a leitura importante, porém se sentem desmotivados para a compra..
Em abril deste ano, o Governo Federal já havia declarado a prioridade em fomentar políticas que incentivem a leitura, como o Plano Nacional do Livro e Leitura, que voltaria a ser uma importante política. Como uma ação, os Ministérios da Educação e o da Cultura anunciaram parceria para pensar em planos que levassem isso para a formação.
Não apenas conquistas ou possíveis tendências que podem se estabelecer em 2024, o ano de 2023 também mostrou que antigos desafios ainda se renovarão para o próximo.
1. Bienal 40 anos
Comemorando um marco de 40 anos, a Bienal Internacional do Livro do Rio de Janeiro atingiu números históricos em 2023. Durante seus 10 dias de programação, o evento recebeu mais de 600 mil pessoas e vendeu cerca de 5,5 milhões de obras em seus stands. As 300 atrações iam de autores nacionais a internacionais, todos com grandes demandas do público.
Importantes homenagens também marcaram a edição celebrativa, como a projeção no Cristo Redentor. Outro destaque é o título dado pela prefeitura da cidade carioca, que reconheceu o evento como Patrimônio Cultural de Natureza Imaterial — um reconhecimento do papel da Bienal para o cenário literário.
2. Jovem Adulto
A Literatura Jovem Adulta, ou Young Adult (YA) em inglês, já tinha espaço consolidado nas prateleiras, seja com o romance internacional Crepúsculo, de Stephenie Meyer, ou a série de livros nacionais "Fazendo Meu Filme", de Paula Pimenta. As comunidades literárias nas redes sociais, principalmente no TikTok, ampliaram ainda mais ela e lotaram eventos literários, como a Bienal Internacional do Livro do Rio 2023.
Por isso, a programação celebrativa contou com atrações e apresentações que atendessem o anseio do público consumidor desta categoria. Clara Alves, é autora de livros YA e foi uma das curadoras da Bienal fluminense, que este ano quis dar uma atenção especial para esses leitores.
Em uma entrevista concedida em setembro ao Vida&Arte, Clara defendeu que o evento tem se tornado mais jovem devido a Literatura Jovem Adulto e o público que a acompanha.
A editora-executiva da Galera, Rafaella Machado, também em entrevista ao caderno, ressaltou como os livros da categoria têm aumentado ainda mais as vendas de títulos. "É o futuro do livro no Brasil", defendeu ela na ocasião, destacando que os jovens cada vez mais lotam a Bienal.
A Young Adult também acolheu a representatividade em suas, seja regional, racial ou LGBTQIA+, avançando em temáticas que outras categorias ainda estão no processo inicial de incluírem em suas narrativas.
3. Além das fronteiras cearenses
Na Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) 2023, o livro mais vendido foi "Oração para Desaparecer", da cearense Socorro Acioli, lançado em 10 de novembro, doze dias antes do início do evento. O terceiro lugar também foi dela, com seu primeiro romance "A Cabeça do Santo", de 2014.
Outro nascido no Ceará também ganhou destaque este ano, desta vez internacionalmente. "A Palavra que Resta", romance de estreia de Stênio Gardel, ganhou a categoria de tradução do prêmio National Book Awards, um dos mais tradicionais dos Estados Unidos.
Ambos os autores ganharão adaptações cinematográficas, Stênio com a obra premiada e Socorro com "A Cabeça do Santo".
4. Dos livros para as telas
A série "De Volta aos 15", baseada no livro de Bruna Vieira, brilhou na Netflix quando estreou sua segunda temporada este ano, alcançando a sexta colocação entre as mais vistas da plataforma no mundo na semana de estreia.
Essas não foram as únicas adaptações audiovisuais baseadas em obras brasileiras em 2023, que estão ganhando cada vez mais espaço. Entre os livros da lista está "Todo dia a Mesma Noite", de Daniela Arbex, que teve a história da tragédia da Boate Kiss virando uma série na Netflix.
A tendência de obras audiovisuais baseadas em livros é continuar. "Fazendo meu Filme", de Paula Pimenta, tem previsão de estreia para 2024. O "Quarto de Despejo", de Carolina Maria de Jesus também ganhará adaptação.
5. Primeiro indígena
Dois indígenas estavam entre os concorrentes para a ocupação da cadeira 5 da Academia Brasileira de Letras. Ailton Krenak foi quem levou a disputa, sendo o primeiro na história a ingressar na ABL.
Professor, filósofo, escritor, ambientalista e ativista de povos originários, Ailton já era membro da Academia Mineira de Letras. Em 1985, fundou a ONG Núcleo de Cultura Indígena, visando promover a cultura de seu povo.
O autor de livros como "Ideias para Adiar o Fim do Mundo", já teve obras traduzidas para mais de 13 idiomas diferentes.