“Alguns autores contam que a palavra “almanaque”, de origem árabe, refere-se a locais onde nômades se reuniam para orar e contar relatos e histórias de suas viagens, daí a diversidade de assuntos, informações e curiosidades que essas publicações sempre trouxeram”, conta o jornalista, escritor e produtor cultural Raymundo Netto, um dos escritores convidados a compor a edição deste ano do Almanaque Tupynanquim.
O Almanaque Tupynanquim existe há seis anos, funcionando como um instrumento de fomento da cultura nordestina. Em suas páginas, o projeto compartilha crônicas, fábulas, cordéis, sonetos, entre outros diversos temas e curiosidades da produção cultural popular.
Nesta edição, Raymundo Netto publicou um antigo texto de sua autoria, chamado “Ode ao Amor e à Morte”.
Sobre sua participação nesta edição, o escritor compartilha: “a editora Tupynanquim está às portas de completar 30 anos de excelente serviço de fomento, produção e resgate da cultura literária popular. Klévisson Viana é, nos seus apenas 52 anos de idade, um dos artistas cearenses mais competentes, premiados e reconhecidos[..]”
Sua mensagem faz menção ao idealizador da Editora Tupynanquim, que dá nome ao Almanaque. Klévisson Viana, poeta e escritor, possui 36 anos de experiência trabalhando com a cultura popular. Desde sua adolescência em Canindé, Klévisson já produzia Almanaques, provando como sua produção é um sonho que carrega desde sempre.
“Eu sempre tive essa vontade de fazer um Almanaque de variedades, inspirado nos velhos almanaques. A ideia era fazer com que ele saísse no final do ano, como se fosse uma ponte que fizesse essa passagem de um ano para o outro”, relembra o poeta em entrevista dada ao Vida & Arte.
Entre as dificuldades de manter um Almanaque anual de maneira independente, Klévisson compartilha: “A gente banca quase sempre do bolso da gente, às vezes a venda do almanaque empata com os custos. Não dá prejuízo, mas também não dá lucro.”
O retorno financeiro nunca foi a justificativa para a manutenção do Almanaque, ao invés disso, o objetivo de Klévisson é criar raízes com seu projeto. Ao fazer um comparativo entre seu projeto e o “Borda d’Água”, almanaque Português publicado anualmente desde 1929, o poeta reforça que seu sonho é fazer do Tupynanquim uma tradição.
“A ideia é que ele cresça, que ele se estabeleça, se torne uma tradição. Essa é a ideia. Que se torne cada vez mais tradicional, que esse almanaque continue mesmo depois que eu deixe de existir. Que outras pessoas continuem com ele, um filho meu ou alguém que se interesse pela ideia de dar continuidade a esse almanaque.”
Mirando no objetivo de ser uma produção tradicional da cultura nordestina, o Almanaque Tupynanquim, em todas suas edições, recebe diversas personalidades da literatura e da arte popular. Nesta edição, artistas de Pernambuco, Bahia, Sergipe, Paraíba, entre diversos nomes da escrita cearense, foram convidados para agregar no material.
Em suas considerações finais sobre o Tupynanquim, Raymundo Netto compartilha: “Um almanaque seria então um “local de encontro”, e é assim que vejo o Almanaque Tupynanquim, uma diversidade de vozes, a maioria de cordelistas – mesmo quando não em forma de cordel –, reunida em um registro gráfico e editorial atraente, configurando a produção de uma época, no caso, a de agora. É um serviço de imenso valor levado na marra, sem apoio público e/ou privado, pelo multiartista Klévisson Viana.”
Almanaque Tupynanquim