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Moisés Loureiro apresenta espetáculo 'Deixemos de Coisa' em Fortaleza
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Moisés Loureiro apresenta espetáculo 'Deixemos de Coisa' em Fortaleza

Em semana de espetáculo, Moisés Loureiro destaca pluralidade da cena humorística cearense e a importância do tempo de dedicação para a comédia
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Moisés Loureiro retorna aos palcos em 2024 com espetáculo de humor
Foto: Analice Diniz/Divulgação Moisés Loureiro retorna aos palcos em 2024 com espetáculo de humor "Deixemos de Coisa"

Quando Moisés Loureiro sobe ao palco para apresentar o espetáculo “Deixemos de Coisa”, alguns aspectos não podem faltar. Transmitir a importância de encarar a vida e a “dureza da realidade” de forma mais leve é uma delas. “Eu brinco com uma regra da comédia que diz que a comédia é ‘tragédia mais tempo’. Ou seja, algo que aconteceu agora e foi ruim eu vou contar rindo daqui um mês. Só que no Ceará a gente quebra essa regra, porque a gente não tem tempo para tragédia”, aponta.

Na obra, então, o artista destaca a identidade do povo nordestino e cearense com causos da vida cotidiana e o poder do humor como ferramenta de evolução para a humanidade. Com música e passeio por política e relacionamentos, o trabalho será apresentado no Teatro RioMar Fortaleza neste sábado, 13, a partir das 21 horas.

Um dos principais nomes do Ceará no humor contemporâneo, Moisés Loureiro realiza seu primeiro show. A apresentação terá iniciativa solidária, com desconto nos valores de inteira dos ingressos a partir da doação de 1 kg de alimento não perecível no dia do show. A arrecadação será destinada às cozinhas solidárias do MTST.

Na bagagem, o ator e comediante traz experiência em produções como a série “La Casa Du’z Vetin”, vitória no quadro “Quem Chega Lá”, do Domingão do Faustão, participação na TV Globo no especial “200 Anos de Independência” e no lançamento de seu primeiro especial de comédia para plataformas digitais em 2022.

Em “Deixemos de Coisa”, o cearense demonstra também seu fazer humorístico sobre política: “Acho que a comédia tem que ser condizente com o que acontece na sociedade. O humor é retrato do seu tempo. Não tem como a gente ignorar a polítca. Todas as grandes referências que eu tenho e acompanho do humor falam sobre política. O humor político é essencial”.

Ao longo da carreira, Moisés apostou na versatilidade - atuando, dirigindo ou roteirizando, sua forma de fazer humor segue percorrendo diferentes formatos e caminhos. Em 2023, estreou na escrita para o audiovisual. O cearense foi um dos roteiristas do especial do comediante Whindersson Nunes lançado na Netflix em 2023. Ele também escreveu dois telefilmes para a TV Globo (“Tá Roxeda” e “Só no Sertão”).

Como diretor, recentemente esteve à frente do espetáculo “Intacta”, de Denis Lacerda - uma experiência “que amou fazer”. Mas, para o humorista, não dá para se afastar dos palcos: “Não tem como abandonar o ‘estar em cena’. A troca com a plateia é o que me move. É o lugar onde me sinto mais confortável”.

É possível, aliás, transpor o sentido de diversidade de trabalho de Loureiro para a própria cena humorística cearense. Como avalia, atualmente se vive “uma fase muito produtiva e plural” na comédia do Estado. Se antes o “fazer rir” estava mais restrito ao palco e à TV, hoje as plataformas passam pela música, praças, audiovisual (como o cinema, a exemplo dos filmes de Halder Gomes) e internet.

Nela, novos nomes surgem a partir de vídeos publicados em redes sociais como Instagram e TikTok. Um dos casos mais notórios é o influenciador Jefferson Azevedo, mais conhecido como Pobretion. Ele é citado por Moisés Loureiro como exemplo de consequências positivas da produção de conteúdo para a internet.

Entretanto, o artista analisa a internet como uma “faca de dois gumes”, podendo ser boa e ruim ao mesmo tempo. Para o comediante, ela foi positiva no começo por democratizar o acesso à produção de conteúdo, com possibilidade de alavancar pessoas que até então eram “desconhecidas”.

O problema é que, agora, os algoritmos são grandes empecilhos devido ao direcionamento de quais perfis e postagens serão entregues aos usuários em maior alcance. Os algoritmos, mutáveis, forçam os produtores de conteúdo - neste caso, os humoristas - a trabalharem ainda mais para continuarem relevantes.

“Todo dia você tem que postar vídeos. Ao meu ver, essa forma de consumo tem prejudicado a qualidade dos trabalhos, porque antigamente, se pegarmos comediantes como Chico Anysio, João Cláudio Moreno ou Tom Cavalcante, essa turma passava quatro, cinco anos esmiuçando seus shows. Eles preparavam da melhor forma até ficar perfeito. Depois, passava um tempo em cartaz e ficava cada vez melhor. Hoje, isso é impossível. Eu estreio um show e daqui a dois meses já tem gente querendo um novo. A internet tornou a forma de consumo brutal. As pessoas não têm mais paciência”, opina.

Moisés defende: “Não dá para fazer de maneira industrial. Humor é uma construção humana. É preciso tempo e respiro. Comédia é tempo”. Evidentemente, essa preocupação se estende a seu trabalho, e com esses princípios em mente ele desenvolve novos projetos, sejam eles solos ou colaborativos. O cearense adianta que dirigirá espetáculo solo de Mateus Franklin (“um comediante maravilhoso”) e de Rodolfo Gordin.

“Não sou aquele artista que se tranca em um quarto e depois de três anos sai com uma obra genial. Eu só vou conseguir algo dessa qualidade se me juntar a pessoas geniais. Amo trabalhar com mais pessoas. É meio contraditório, porque a maioria dos trabalhos que eu apresentei no teatro foram monólogos, mas sempre tive gente comigo, fosse na equipe escrevendo ou na produção. É muito importante trabalhar com mais pessoas”, avalia.

Vale a atenção

Ao colocar a lupa na comédia cearense, Moisés Loureiro destaca alguns nomes que valem a atenção. Além de Pobretion (“faz um humor com muita identidade e verdade”), ele cita nomes como Rodolfo Gordin e Abu da Pereba. Palhaço, artista de rua e produtor cultural de Maracanaú, Abu também integra o projeto musical humorístico “O Cheiro do Queijo”. “Ele tem um humor refinadíssimo, é algo impressionante. Ele consegue ser popular, político, intelectual e consegue falar sério e fazer você ‘dar uma gaitada’ de uma besteira na mesma frase”, caracteriza.

Vale mencionar também Max Petterson, Mila Costa e Morgana Camila, “que estão em um momento brilhante” com o espetáculo de comédia "Assistiu Porque Quis", realizado em conjunto com a drag queen Deydianne Piaf, vivida por Denis Lacerda (esse, por sinal, “um furacão”, como analisa Moisés).

Ele também ressalta Roberta Wermont, que atuou recentemente em “Tita & Nic”, na reabertura do Teatro da Praia. “Um trabalho muito divertido e gostoso de assistir”.

Deixemos de Coisa

  • Quando: sábado, 13, às 21 horas
  • Onde: Teatro RioMar Fortaleza (rua Des. Lauro Nogueira, 1500 - Papicu)
  • Quanto: Plateia Baixa A - R$120 (inteira), R$60 (meia) e R$70 (social*); Plateia Baixa B e Plateia Alta - R$100 (inteira); R$50 (meia) e R$60 (social*). À venda no site Uhuu e na bilheteria do Teatro RioMar (funcionamento de terça a sábado, das 14h às 20 horas)
  • *Ingresso social: valor pago mediante doação de 1 kg de alimento não perecível

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