Em uma prestigiada escola só para rapazes dos EUA, por volta da década de 1970, os estudantes, assim como em qualquer outro local do mundo, só pensam nas férias do final do ano. No caso dos rapazes da escola Barton, em específico, nas duas semanas de férias de inverno. No entanto, alguns desses alunos acabam por ter que ficar na escola, mesmo no período de descanso. Não por escolha própria, mas sim dos pais. Alguns por estarem fora do país, outros como forma de punição.
Mas, claro, os alunos não ficariam sozinhos no campus durante essas duas semanas. O que eles não esperavam é que quem ficaria responsável por eles seria o professor mais rígido de toda escola, Paul Hunham, ou como eles o chamam: Senhor Hunham.
Alexander Payne ("Nebraska", de 2013) não é um diretor muito ativo, por escolha própria. Sempre focado em fazer projetos mais intimistas, quase como se fossem estudos de personagens. Em "Os Rejeitados" não é muito diferente, exceto pelo tom quase nostálgico do longa. Aqui Payne se utiliza de recursos para emular algo filmado na década de 1980, 1970. Desde de uma fotografia mais granulada, do som "abafado" ou até mesmo do trailer do seu longa, que remete aos clássicos trailers da época, narrados por uma voz marcante, intercalando com cenas e falas do filme.
E nessa dramédia (mistura dos gêneros comédia e drama), isso funciona muito bem, quase fazendo com que você, que tenha 30 anos ou mais, volte a se sentir vendo aquele clássico filme de Natal, ou de aventura em amigos, da década de 80, no qual existem vários dilemas durante toda a história, mas que, no final, quase sempre, dá tudo certo. Porém se engana quem acha que "Os Rejeitados" se sustenta apenas nisso.
Apesar do tom nostálgico do filme, a trama aborda temas atuais, como depressão, luto, guerra e racismo. Tudo isso de forma muito bem distribuída entre os personagens durante os 133 minutos de duração do longa. Logo no início, cinco dos meninos de Barton ficam sobre a responsabilidade do Senhor Hunham, mas, após alguns dias, apenas Angus Tully permanece na escola.
Apesar de rápida, a presença das outras crianças soma bastante para o desenvolvimento da produção. Nos fazendo entender, inclusive, um pouco mais sobre Mary Lamb, cozinheira chef da escola, que também fica na escola durante o Natal. Destaque aqui para a atriz Da'Vine Joy Randolph, que merecidamente vem sendo destaque nas premiações, tendo vencido recentemente o Globo de Ouro de Atriz Coadjuvante. Mary é uma mulher negra e mãe enlutada pela perda de seu jovem filho, que também estudava em Barton, durante a segunda guerra.
Rendendo algumas das cenas mais tocantes e fortes do longa, mas fugindo completamente do mero sensacionalismo que alguns roteiros poderiam apelar.
O que de fato fará o filme saltar aos olhos de muitos é a incrível química entre o estreante Dominic Sessa, que interpreta o problemático aluno Angus, e seu professor, vivido de forma brilhante, diga-se de passagem, por Paul Giamatti. É indiscutível que a relação de personagens opostos, que acabam se entendendo e virando amigos é um clichê do cinema. Porém, "Os Rejeitados" faz isso de uma forma tão sutil, mesclando tão bem a comédia e as pautas dramáticas, que o fato disso ser um clichê ou não pouco importa. Tudo o que queremos é ver cada vez mais tempo de tela entre o aluno e seu professor. E o diretor nos entrega isso de uma forma muito natural, desde o princípio, sem deixar nenhum personagem apresentado jogado de lado sem necessidade. Trazendo cenas que apresentam pequenos detalhes, mas que têm uma profundidade e proximidade para aqueles dois seres humanos, que de início eram tão opostos, mas no final são muito mais parecidos do que eles mesmos imaginam.
"Os Rejeitados" é daqueles filmes que poderiam passar despercebidos em uma época de premiações e grandes produções focadas em ganhar um Oscar, mas não se engane, é nesse filme que podemos ver uma das melhores atuações masculinas da temporada de 2023. Em um filme leve, divertido e com o drama na medida certa, que vai, sem sombra de dúvidas, emocionar muitos espectadores.
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