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Donos de bares e restaurantes falam sobre organização para o Pré-Carnaval
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Donos de bares e restaurantes falam sobre organização para o Pré-Carnaval

Em contagem regressiva para a folia, donos de bares, restaurantes e empreendedoras contam como se preparam para o Carnaval
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Bloco Unidos da Cachorra é tradição no circuito da Praia de Iracema  (Foto: Marcelo Rebouças/Divulgação)
Foto: Marcelo Rebouças/Divulgação Bloco Unidos da Cachorra é tradição no circuito da Praia de Iracema

Em Fortaleza, folia é coisa séria. Dezembro mal se despede e as mobilizações para o Ciclo Carnavalesco se intensificam. Além do trabalho do poder público com a correria na execução dos editais e na montagem dos polos, empreendedores da Capital também se preparam para a chegada do Pré-Carnaval - um dos pontos altos do calendário cultural da Capital.

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"Fizemos melhorias no som, buscamos aprimorar a segurança nas ruas paralelas em torno do bar com a Guarda Municipal e organizar outros pontos de venda de bebidas e comidas", enumera David Porto, proprietário do Bar Cultural Lions. Localizado na Praça General Tibúrcio, conhecida como Praça dos Leões, o espaço promove festas de pop, funk, eletrônico, entre outros ritmos, no Centro.

Mesmo não integrando a lista de polos oficiais da Prefeitura de Fortaleza, o estabelecimento costuma reunir multidões no aquecimento para a folia momina. "O ano de 2023 foi complicado para o bar se manter, nos reinventamos e melhoramos o ambiente interno, e esse começo de 2024 já melhorou muito e o movimento começou a voltar", pontua o empreendedor, confiante no crescimento do público até fevereiro. Ele que gere o espaço ao lado dos pais Eufrásio e Fátima Silva.

Apesar de ser o período de maior lucro para o Lions, o Pré também costuma ser uma fase delicada quanto à violência urbana. "Com relação a insegurança, faz um bom tempo que não temos problema, dificilmente temos problemas na praça, o problema real é nas ruas próximas, mas mandamos ofício para a polícia para melhorar a questão das ruas paralelas", pontua David, reforçando que anualmente busca apoio junto às instâncias oficiais.

No Benfica, outro bairro famoso pela folia, o Lamarca Bar e Café realiza, pela primeira vez, programação de Pré-Carnaval. "Como Espaço Cultural, é o primeiro ano de Pré-carnaval da Lamarca. Por isso estamos apostando em uma programação que dialogue com nosso público boêmio", afirma Guarany Oliveira, que cuida do estabelecimento ao lado da companheira Tamy Barbosa. "Às terças, temos sempre um grupo de chorinhos, a partir das 19 horas. Na sexta, temos Música Popular Brasileira no ritmo carnavalesco nas vozes de Felipe Breier e Juliana Guimarães e no sábado começamos o esquenta do carnaval do Benfica ao meio-dia com o Projeto As Serpentinas", detalha.

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O lugar, que antes era focado na venda de livros, mudou o estilo de negócio. "No final do ano passado, decidimos transformar a Lamarca em um espaço cultural, ampliando as possibilidades de programação da casa. Desde dezembro, estamos com uma programação musical bem diversificada", salienta Guarany.

"Estamos muito confiantes, ampliamos o espaço ocupado por mesas, fizemos esta programação e estamos contando com o Pré-carnaval para impulsionar a movimentação por aqui", declara o proprietário, que também conta com a data para aumentar a receita do empreendimento.

Programação carnavalesca

O restaurante Culinária da Van, com unidades no Benfica e na Aldeota, também aproveita a animação. Desde que foi fundado, o estabelecimento oferece uma programação carnavalesca “Em outubro, as pessoas já começam a perguntar pelo Pré, é uma programação que já faz parte da casa todos os anos, com muitos bolinhos, bebida gelada e drinks

Para não perder a característica de que é um restaurante, mas comemorar a festa que é símbolo de alegria”, conta a chef Van Régia, responsável pelo local. “Em dezembro já começamos o esquenta com uma programação relacionada, a partir do primeiro sábado de janeiro já iniciamos com o Pré-Carnaval”, completa.

Os eventos só pausaram durante os anos de pandemia, retornando a partir da flexibilização gradual. “Mesmo quando voltou, realizamos um carnaval que ninguém podia ficar de pé, não podia dançar. Mas tinha gente fazendo som, trazendo alegria após o momento de tensão que tínhamos passado”, rememora a gastrônoma.

Para o Pré, o restaurante usa o cardápio usual. Já para os dias oficiais de folia, aposta em uma série de pratos específicos. “Durante o pré servimos o cardápio da comum da casa, os bolinhos da casa, caldinho de caranguejo e feijão preto, geralmente no final da tarde. No Carnaval, servimos um cardápio específico com cara de ressaca, com galinha com pirão, panelada, para tirar a pessoa do prego”, explica Van. 

Mercado dos Pinhões

Estabelecimentos no entorno do Mercado dos Pinhões, um dos polos carnavalescos oficiais da Prefeitura, também aproveitam o movimento gerado para garantir o lucro no decorrer da folia. Há 15 anos, o bar Papudim participa do Pré e do Carnaval de Fortaleza. “Aguardamos a programação da Prefeitura no Mercado dos Pinhões para nos organizarmos da melhor forma possível”, diz Sandra Saraiva, co-proprietária do bar com o marido José Nazareno.

“Temos uma expectativa boa porque o Mercado dos Pinhões chama atenção do público, com o Pré-Carnaval e atrai muita gente, principalmente os mais jovens”, revela Sandra. “Por causa disso, temos uma preparação diferente, nos organizamos para vender bebidas em latinha ou em copos descartáveis no caso dos drinks, retiramos a mesa e nos dias de Pré e Carnaval nos Pinhões, não temos música ao vivo, também disponibilizamos pulseiras para controlar o uso dos banheiros”, continua. O bar oferece pulseira para o uso do banheiro do estabelecimento para quem compra a cerveja do local. “Isso ajuda a dar um diferencial, já que muita gente não quer usar os banheiros químicos”, afirma.

Gastrobar

O Pré-Carnaval e o Carnaval também alteram o modo de funcionamento do Cravo e Canela Gastrobar. Administrado pelas irmãs Graziela e Gabriela Ribeiro, o espaço funciona desde 2022. “O desafio será atrair público para o nosso estabelecimento já que a nossa proposta é diferente de todos do entorno. Nosso propósito é o conforto e o bom atendimento aos clientes. Nossa cozinha está preparada para o nosso cardápio, com o diferencial dos pratos da casa a preços mais baixos e drinks de 500ml, que venderam bastante no ano passado”, revela Graziela.

Um lounge com mesas e cadeira completa a preparação do local, oferecendo uma vista privilegiada para o palco. Graziela ressalta que ela e a sócia esperam boas vendas, já que nos primeiros sábados de 2023, houve uma boa movimentação no estabelecimento. “Nossa casa é a maior das imediações, porque dispomos de dois andares. No andar de cima colocamos um painel instagramável que costuma atrair o público”, conta.

Bloco Unidos da Cachorra
Bloco Unidos da Cachorra

Blocos de Carnaval

Presentes na folia desde o Pré-Carnaval, os blocos iniciam a preparação já no ano anterior. Além da escolha do tema, os grupos ficam atentos aos editais lançados pela prefeitura, normalmente em setembro. Edital de Concessão de Apoio Financeiro ao Desfile das Agremiações Carnavalescas na Avenida Domingos Olímpio de Fortaleza, Edital de Concessão de Apoio Financeiro aos Blocos de Rua Independentes e Edital de Credenciamento de Artistas, foram os processos divulgados, somente em novembro de 2023.

Procurada pela reportagem para entender a razão da demora para a publicação dos editais, a Secretaria de Cultura de Fortaleza, responsável por conduzi-los, não conseguiu responder a essa questão até o fechamento deste material.

Apesar do imprevisto, blocos tradicionais da Capital conseguiram seguir com a organização para a folia. O Unidos da Cachorra, por exemplo, começa a pensar na festa já em abril, quando as turmas da escolinha de ritmistas abre as matrículas. “Em Maio, os trabalhos com a bateria se retomam, realizando ensaios e eventos até o pré carnaval”, revela Anderson Florêncio, mestre da bateria. Os ensaios acontecem toda semana, aos sábados, das 17h30 às 20h, depois das aulas da escolinha.

O Luxo da Aldeia, outro bloco de Carnaval clássico da Cidade, tem outro modo de se planejar para a folia. “Como temos um formato de banda com bateria, baixo e guitarra, não precisamos manter essa constância tão grande de ensaios como blocos formados por baterias de ritmistas que precisam de ensaio toda semana por serem compostos por muitas pessoas”, explica Mateus Perdigão, guitarrista do grupo.

Para 2024, o Unidos da Cachorra decidiu homenagear o presidente do bloco, conhecido por todos como senhor Gildo ou Gepeto pelos ritmistas mais antigos. Carpinteiro, Gildo costumava consertar e construir instrumentos de samba. Por meio de canções e muito batuque, o bloco irá narrar a história dele. “Todo mundo está falando que tem certeza que vai ser um pré muito emocionante, e conversar com o senhor Gildo, vê-lo todo emocionado me deixou ainda mais com aquela esperança de um Pré-carnaval bonito, especialmente este ano será incrível para todas as baterias”, conta Rafael Fernandes, tocador de tamborim.

O Luxo da Aldeia por sua vez celebra os 80 anos do compositor e poeta cearense Fausto Nilo. Intitulado de 80 carnavais, o bloco irá homenagear o artista explorando novos arranjos. O repertório do bloco é composto tanto de músicas autorais, como procura trazer as trilhas sonoras nativas do Estado.

A folia também é uma forma não só de homenagear os artistas cearenses, mas é encarado como algo político pelo Luxo da Aldeia. “Na verdade é uma coisa que fazemos com muita alegria, com muita vontade e com muita consciência do que tá fazendo. O Carnaval de certa forma é uma militância para nós, estamos desde 2007 nos apresentando nos prés e desde 2012 no Carnaval. Somos um bloco que pensa muito sobre o lugar que o Pré e o Carnaval ocupam na Cidade, o cuidado que a prefeitura tem em relação a isso, no sentido de oferecer políticas públicas”, pontua o guitarrista.

Coletivo Raízes do Griô
Coletivo Raízes do Griô

Tradição que resiste

O Pré e o Carnaval são os períodos mais aguardados do ano por grupos de Maracatu. A organização já inicia a partir do segundo semestre do ano anterior, por volta de julho, para o Chico Chico da Matilde, por exemplo. “Depois do meio do ano, passando as festas de São João, nós nos agrupamos para ensaiar nossas músicas novas”, explica Adriano Kanu, fundador do grupo. Ao longo da preparação para a folia, eles já emendam a do Reisado.

Para Kanu, a demora da divulgação dos editais, acabou prejudicando a preparação do Chico Chico da Matilde para os eventos culturais da folia, como também acaba excluindo muitos brincantes que lutaram para conseguir seu espaço. “Muitos grupos que ganharam espaço na gestão passada com muita resistência, perderam oportunidade de se apresentar no Pré e no Carnaval. O mesmo tipo de projeto vem sendo contemplado nos últimos anos”, revela Adriano.

Além da abertura de editais tardia, o compositor relata lentidão para a liberação da verba para o Carnaval de rua. “Há anos a verba sai praticamente na semana de Carnaval, então isso prejudica todo um trabalho de distribuição dos trabalhadores culturais que atuam nessas agremiações, produzindo as fantasias para os artistas em si. Porque falta dinheiro para comprar material, para comprar alimentação das pessoas que vão trabalhar no barracão, para pagar o ônibus o transporte dessas pessoas que tem que estar no barracão todo dia. Então, atrapalha bastante, o que acaba acontecendo as pessoas precisam pedir dinheiro emprestado a agiota”, expõe.

Fundado durante a pandemia, em 2021, o grupo se inspira em Francisco José do Nascimento Chico da Matilde, o famoso Dragão do Mar, um dos líderes do levante abolicionista na Praia de Iracema em 1881. Com um repertório de músicas autorais compostas por Calé Alencar, Fernando Nery, Raimundo Cassunde, Babi Guedes, Becca Lopes e o próprio Adriano Kanu. Mesclando loas de maracatus, cantos indígenas, afoxés e outros ritmos afro indígenas.

Os desafios do Pré-Carnaval

O grande volume de pessoas no Mercado dos Pinhões também traz o desafio de conseguir atender a alta demanda que o momento de folia gera. Por essa razão, Daniele Santiago e Rafael Santiago decidiram não abrir o Budega do Pinhões no Pré e no Carnaval de 2024 “Porque nos outros dois anos, nós abrimos e como não pode colocar mesa e cadeira, o atendimento ficou mais complicado.Gerava muita fila para servir cerveja, caipirinha, para ir ao banheiro, mesmo colocando pulseirinha para controlar melhor o fluxo. Tudo isso naquele calor,em razão disso achamos melhor fechar”, explica.

“Queríamos abrir, mas no ano que passou, não compensou, sobrou bastante coisa. Não é uma decisão definitiva, vamos observar como estará ao longo dos dias e pode ser que a gente abra. “Vamos ver como as coisas se desenrolam e pode ser que a gente abra”, conta a co-proprietária do bar. Ela é responsável pelo local junto com o filho e até o momento ambos irão aproveitar os dias de festa para descansar. O estabelecimento funcionará somente na quinta-feira, sexta e domingo.

Sandra Saraiva também compartilha da frustração em ter que limitar o espaço do bar Papudim, local que administra com o marido José Nazareno. “Como o nosso espaço é ao ar livre, neste período de Pré e Carnaval, só podemos funcionar no lado de dentro, fica um espaço restrito”, afirma.

loja Tao
loja Tao

Para incorporar a folia

O Pré e o Carnaval também são períodos importantes para Andréia Teixeira. A empreendedora atua vendendo acessórios para a data. Ritmista do bloco Unidos da Cachorra como tocadora de cuíca, ela começou a confeccionar os adereços para si mesma. Mas, após surgir demanda de encomenda, decidiu começar seu próprio negócio.

"Eu sempre trabalhei com artesanato, isso veio de mãe para filha. Antes dos adereços, eu trabalhava com o biscuit. Quando eu entrei no circuito de Pré-Carnaval como ritmista, comecei fazendo uma coisa aqui outra ali para o meu próprio uso. Aí de repente a demanda foi aumentando, os amigos de bloco foram fazendo encomendas e hoje cada vez a procura está aumentando", relembra Andréia.

A artesã inicia a confecção dos adereços cerca de dois meses antes do Ciclo Carnavalesco começar, por volta de novembro. "Eu vou criando alguns modelos com os materiais disponíveis que eu tenho no momento. E vou idealizando também os protótipos que irei apresentar para a diretoria do bloco. Quando tudo estiver aprovado, inicio a confecção", relata. Andréia mantêm um estoque de materiais, devido a experiência que possui com trabalhos artesanais.

"A produção é individual, são muitos desafios nesse processo, mas ver o resultado na avenida me deixa orgulhosa", reitera. Além de empreendedora, Andréia é funcionária pública e atua em uma unidade de saúde da Cidade. Os acessórios são uma forma de completar a renda.

Adereços com brilhos, rosas e penas são mais pedidos pelos clientes. As encomendas são feitas através do perfil da loja no Instagram, por meio de mensagem direta. "A pessoa diz o modelo que quer, verifico a disponibilidade dos materiais, faço o orçamento, confecciono a peça e o cliente faz a retirada", explica a artesã.

O Pré e o Carnaval fazem parte da programação da loja Tao há 6 anos. O empreendimento vê esse período como uma forma de sair da caixinha e lançar coleções mais divertidas, que explorando novas peças."A nossa expectativa é a melhor possível, porque estamos com essas peças inéditas, o Bustiê e os Arcos mais elaborados com ergonomia de acessórios de passista que dá mais segurança", diz Lena Nóbrega, diretora criativa da marca.

Os preparativos iniciam no final do ano anterior, com um estudo de materiais, tendências e outros aspectos importantes para a construção das peças. "Fazemos uma vasta pesquisa de materiais, tendências, estudos relativos à ergonomia nos corpos no final do segundo semestre do ano, que é também quando fazemos os pedidos de alguns materiais específicos para dar tempo da produção e desenvolvimento", ilustra Nóbrega.

As cabeças Frida Mística, Deusa do Amor, as ombreiras Amar sem Temer são as peças que tem maior demanda. "Os nossos bustiês Água Viva, Vogue Coração, Flor Mística, que são peças inéditas e muito diferentes, estão sendo as mais procuradas", revela a diretora criativa. Lena desenvolve uma peça piloto que é produzida por uma equipe de três pessoas. As encomendas podem ser feitas no site da Tao.

Espaços

 

Bar Cultural Lions

Onde: rua General Bezerril, 376 - Centro
Mais informações: Instagram

Cravo e Canela Gastrobar

Onde: Praça Visconde de Pelotas, 33 - Centro
Mais informações: Instagram

Papudim Bar e Restaurante

Onde: Praça Pelotas, 38 - Centro
Mais informações:  Instagram 

Culinária da Van

Onde: Unidade Barão de Studart (av. Barão de Studart, 2440 - Aldeota) e unidade Benfica (rua Waldery Uchôa, 260 - Benfica)
Mais informações: Instagram

Lamarca Café e Bar

Onde: av. da Universidade, 2475 - Benfica
Mais informações: Instagram

Andréia Teixeira Acessórios

Onde: Instagram 

Loja Tao

Onde: Instagram e site 

 

 

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