Da mocinha Luana de "O Rei do Gado" (1996) à vilã Flora de "A Favorita" (2009), Patrícia Pillar é figura marcante nas produções audiovisuais brasileiras. Aos 60 anos recém celebrados na última quinta-feira, 11, a atriz relembra, em entrevista ao Vida&Arte, momentos importantes da carreira e analisa novas perspectivas do consumo de telenovelas no Brasil.
Sobre a trajetória nas artes cênicas, Patrícia menciona que começou a estudar teatro aos 14 anos e, aos 17, estreou nos palcos com a peça "Os Banhos" em 1981. Depois de mais de quatro décadas e com carreira consolidada, ela comemora todos os passos do percurso artístico.
"Logo quando comecei a estudar teatro, criamos um grupo em que montávamos nossos próprios projetos, baseados em autores como V. Maiakovski, Bertold Brecht e Fernando Arrabal. Montando esses espetáculos, aprendi a trabalhar em grupo e a participar de todas as etapas do processo: discutir cada ponto do roteiro, ajudar na bilheteria, martelar pregos no cenário e fazer costuras no figurino", relembra a artista.
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Para ela, a essência de seus trabalhos e o gosto pela produção teatral não mudou: "Continuo assim até hoje. Gosto da troca, do ensaio, da preparação. Gosto de fazer projetos que tenham um conteúdo a ser discutido. Gosto de questões ligadas à nossa história e ao comportamento humano e de poder refletir sobre a realidade e o futuro".
Patrícia Pillar, ao longo dos anos como atriz, acumulou prêmios para colocar em sua estante, como o APCA, Troféu Imprensa e Melhores do Ano. "Um prêmio que não ganhamos foi, talvez, o mais emocionante: concorremos ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro com 'O Quatrilho'. Foi uma aventura e tanto!", recorda.
Nas telenovelas, Patrícia se consagrou com personagens marcantes e, em suas próprias palavras, desafiadoras. Para ela, o papel como a cortadora de cana Luana na trama "Rei do Gado", de Benedito Ruy Barbosa, foi um trabalho muito importante, principalmente pelos temas abordados. "Essa novela levou à mesa das famílias brasileiras um tema tabu, que até hoje não conseguimos resolver: a reforma agrária", pontua a atriz.
"A série 'O Rebu' (2014) também foi um desafio grande, pois ela se passava em praticamente 24 horas. Uma festa, um assassinato e uma investigação dentro de um único dia", destaca, que interpretou Angela na produção. Ainda no contexto das telenovelas, Patrícia cita sua personagem de maior complexidade: a Flora, da novela "A Favorita". "Ela era insanamente livre. Portanto lhe cabia qualquer tom, da perversidade ao humor, ou da ternura fingida à extrema violência", detalha.
Como resultado de tantas grandes interpretações na TV brasileira, a artista é chamada nas ruas por diversos nomes diferentes de "Patrícia". "Já fui Ana, Teresa, Isabel, Emerenciana, Luana, Angela, Flora, Constância, Cássia… É uma sensação muito gostosa a de ter deixado todas elas passarem por mim. Ficaram marcas e aprendizados que até hoje carrego comigo. Posso dizer que Luana e Flora são as mais lembradas pelo público nas ruas até hoje", conta.
E nesses 43 anos de experiência na arte, Patrícia afirma que não faria nada de diferente e que valoriza os aprendizados que teve no tempo de profissão. Aos "novatos" que iniciam suas histórias nas artes cênicas, ela deixa um recado: "O melhor da profissão é contar nossas histórias e construir personagens que possam, de alguma maneira, tocar as pessoas e melhorar o mundo. E se isso servir de inspiração para seguir a carreira, tende a ser um trajeto para uma grande realização; mas se for sucesso e dinheiro, talvez não seja a melhor escolha".
Questionada pelo Vida&Arte, Patrícia analisou a evolução das produções audiovisuais brasileiras no contexto da ascensão dos streamings e os impactos pessoais que ela sentiu: "Atualmente, temos o conforto de poder assistir à programação que quisermos, quando e onde quisermos. Isso trouxe benefícios, mas também perdemos algo muito valioso: saber que todos estão assistindo simultaneamente àquela cena da mesma novela".
"Produções como 'Roque Santeiro' (1985), 'Vale Tudo' (1989) e 'Avenida Brasi' (2012) pararam o país, como um jogo da Copa do Mundo, e isso era lindo! Agora está cada vez mais improvável de voltar a acontecer. Por isso, o encontro ao vivo no teatro tem sido tão prestigiado no período pós-pandemia, com salas lotadas e peças maravilhosas em cartaz. O cinema tem se ressentido dessa realidade, mas ir ao cinema, para mim, ainda é a melhor diversão", argumenta.