Após uma gestão de 30 anos e 9 meses, o cineasta cearense Wolney Oliveira não é mais o diretor da Casa Amarela Eusélio Oliveira (Caeo), equipamento da Universidade Federal do Ceará (UFC). Divulgada na última semana, a decisão, entretanto, vinha sendo considerada desde 2021, quando o servidor se aposentou da instituição como administrador.
"Já vinha pensando nessa transição. Continuo na universidade no cargo de professor, colaborando com projetos ligados à sétima arte", explica o cineasta cearense, acrescentando que "já era tempo da nova geração assumir a Caeo".
A Casa Amarela foi fundada em 1971 por Eusélio Oliveira, pai de Wolney, quando a ditadura militar ainda comandava o País e as obras artísticas eram alvo constante de censura. Também professor, cineasta e agitador cultural, o progenitor foi um dos precursores do movimento cineclubista no Estado.
Eusélio lembrava orgulhosamente da ação feita por ele, memora o filho: "Como ele mesmo falava, 'criar um equipamento cultural em plena ditadura militar foi um atrevimento, uma ruptura em termos de presente e em termos de futuro um compromisso'".
Quando Eusélio foi assassinado, há quase 33 anos atrás, Wolney assumiu, pouco tempo depois, a frente da Casa. Seguindo os ensinamentos do pai mesclado com as próprias experiências, se dedicou fervorosamente ao cargo que lhe foi dado, colocando-a à frente até mesmo de projetos pessoais.
O início, contudo, não foi fácil. A área da cultura, como apontado pelo professor, enfrenta uma luta diária para a captação de recursos e àquela época não seria diferente. Eram poucas as leis de incentivo ao audiovisual nacional, a Agência Nacional de Cinema (Ancine) ou o Mecenato Estadual do Ceará, ainda não existiam.
"O audiovisual brasileiro é como uma fênix, sempre renascendo das cinzas. Que o diga Fernando Collor de Mello, quando com uma canetada em 1990 acabou com a Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme), uma instituição criada por um governo militar", pontua.
Foi com essa resiliência do cinema nacional que Wolney buscou montar as estratégias de sua gestão. Muitas são as conquistas que podem ser listada desse período, a exemplo da aquisição de uma casa na avenida da Universidade com recurso estadual voltado para a fomentação cultural, por intermédio da Coelce, para a "construção e implantação do Núcleo de Cinema de Animação do Ceará (Nuca), aumentando em 30% a área física da Caeo".
Outro trabalho a ser destacado é a reforma e modernização física do Cine Benjamin Abrahão, o primeiro e único da UFC. "A história do cinema cearense seria outra se não fossem as conquistas e avanços da Universidade Federal do Ceará através da Casa Amarela Eusélio Oliveira e do Cine Ceará", ressalta.
Muito, porém, ainda precisa ser feito. Apesar da reforma citada no Cine Benjamin Abrahão, o cineasta destaca a necessidade da atualização dos equipamentos de exibição — o que ele conta que já deixou, juntamente com a equipe, encaminhado antes de sua saída.
A esperança do artista é que a nova gestão à frente do Ministério da Educação e da Reitoria da Universidade, como também as leis de incentivo cultural do governo federal (Lei Paulo Gustavo e Lei Aldir Blanc), representem a chegada de dias melhores para o setor.
Dedicando um olhar às três décadas que passaram, o sentimento é de "dever cumprido". "Acho que cumpri muito bem minha missão como gestor. Como meu saudoso pai, também deixei um legado importante para a Caeo e para o audiovisual cearense", sustenta.
O ciclo no equipamento pode ter sido encerrado, mas outros projetos seguem ativos na lista de Wolney. Em setembro, pretende realizar a 34ª edição do Cine Ceará - Festival Ibero-Americano de Cinema, importante evento para o audiovisual brasileiro criado por ele. A realização do 5º Mercado Audiovisual do Nordeste (MAN) também está programada.
Durante o circuito comercial e os festivais de cinema em 2024 e 2025, pretende lançar três longas documentários que dirigiu: "Soldados da Borracha", "Memórias da Chuva" e "Lampião Governador do Sertão".
Segundo Wolney, a dedicação agora integral a esses projetos ou a despedida do cargo de diretor da Casa Amarela não significa necessariamente o fim da relação com o equipamento. "Estarei sempre à disposição da Caeo. Sempre", firma.