Em outubro de 2021, um grupo de jovens fortalezenses postou, no YouTube, vídeo de uma coreografia apresentada em festival de dança no bairro Pirambu. Nos comentários, muitos reforços positivos: "Independente do estilo musical, vejo muita técnica e profissionalismo nível gringo", elogiou um seguidor em comentário que acumula mais de 500 curtidas.
Florescia ali a CIA 085, grupo cearense que vem ganhando espaços no cenário nacional da dança. Natural de Fortaleza, o coletivo já participou de clipe da cantora Pabllo Vittar, dançou ao lado de Ludmilla na turnê "Numanice" e, na última semana, subiu ao palco da Anitta em show no Marina Park.
"A sensação é de conquistar aquilo que a gente sempre almejou. É o reconhecimento de artistas tão grandes e que a gente admira. Isso mostra que estamos fazendo o trabalho certo", celebra Cley Monteiro, coreógrafo e diretor da Cia. "A cada grande momento, vem o flashback das dificuldades", completa.
Daquele vídeo no Pirambu para cá, o coletivo vem acumulando virais nas redes sociais. Sob direção e coreografias de Cley, ao lado de Cristhian Gabriel, a 085 surgiu, há pouco mais de dois anos, após encontro de amigos. Sem muita pretensão, eles resolveram se reunir para gravar um vídeo dançando músicas de brega funk. Na hora de escolher o nome, o coletivo optou por fazer referência ao "DDD 85", a discagem direta à distância de Fortaleza.
"Nosso 'corre' sempre foi difícil, pois é independente. A gente sempre buscando maneiras de se manter, conquistar patrocinadores, só que ninguém acreditava no começo. Mas eu sempre acreditei na minha dança", sustenta o bailarino.
Cley, porém, já tinha trajetória na dança. Há mais de 10 anos, o jovem foca nas artes cênicas e, em 2017, lançou a Cia Focos. "Eu sempre amei dançar e danço desde os sete anos de idade. Cresci e me profissionalizei em 2017, quando comecei a Cia Focos, que era voltada a danças urbanas. Participamos de festivais de hip hop, viajamos para São Paulo, Curitiba", rememora, com orgulho.
Já na 085, a atenção se volta à nordestinidade do brega funk, ritmo das periferias do Recife que vem ampliando espaços nacionalmente nos últimos cinco anos. A proposta musical é unir muitas referências e mesclar tudo em passos de danças ousados e irreverentes.
"A CIA 085 busca sempre coreografias autênticas no brega funk. Nesses últimos anos, tem crescido muito (esse segmento), com muitos meninos e meninas dançando pelo Brasil", conta Cley, ressaltando que o gênero musical tem chamado atenção mundo afora. Hoje, os cearenses têm seguidores engajados em países como Chile e Espanha.
A priori, os ensaios do coletivo eram realizados em quadras abertas pelos bairros de Fortaleza, sujeitos a mudanças climáticas. Agora, Cley e a trupe possuem o próprio espaço para ensaios e reuniões.
Ao todo, a CIA 085 agrupa cerca de 25 dançarinos. De acordo com o coreógrafo, para além do aspecto artístico, o coletivo é também espaço de acolhimento para histórias de vida que são, muitas vezes, marcadas pelo preconceito e desafios sociais e econômicos.
Entre altos e baixos, o grupo tem conseguido manter agenda ativa, com participação em mais de cinco festivais de dança e passagens por Recife e Natal.
Em maio do ano passado, a CIA 085 participou do clipe "Cadeado", da maranhense Pabllo Vittar, gravado no bairro Vicente Pinzón, em Fortaleza. O diretor explica que o convite surgiu após um trabalho que realizou com a coreógrafa da artista, Jéssi Müller, em uma festa de halloween para convidados.
Sobre a participação no palco da turnê "Ensaios da Anitta" em Fortaleza, Cley conta que tudo começou com um vídeo da companhia dançando "Bota Niña", parceria de Anitta com Bad Gyal. Com a ajuda de fãs-clubes e público, o vídeo viralizou e em questão de horas, a artista comentou e a equipe dela entrou em contato com os cearenses.
Empolgado, Cley projeta cenário de ampliação para 2024: "Queremos viajar para o Norte, para o Sudeste e para mais estados do Nordeste. Fazer projetos, conquistar parcerias, dançar muito. O céu é o limite", pontua.
Como inspiração para jovens que se interessam pela dança, o cearense indica: "Muito esforço, dedicação, entrega e principalmente paixão". (Colaborou Renato Abê)
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