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Onda de remakes amplia discussões sobre audiovisual no Brasil
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Onda de remakes amplia discussões sobre audiovisual no Brasil

O crescimento da produção de remakes nos streamings amplia a discussão sobre memórias afetivas espaços para novas produções audiovisuais na TV brasileira
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Humberto Carrão e Duda Santos esão no elenco da novela
Foto: Rede Globo / Divulgação Humberto Carrão e Duda Santos esão no elenco da novela "Renascer", que estreia nesta segunda-feira, 22

Nos últimos anos, a TV aberta foi preenchida com mais frequência por remakes (produções novas com roteiros do passado). Sucessos de anos anteriores voltaram a ser reapresentados e levaram ainda mais pessoas para a frente das telinhas. Nesta segunda-feira, uma nova versão de "Renascer" estreia na Rede Globo gerando grandes expectativas do público que assistiu à versão original.

O lançamento é comparado ainda com o aclamado remake de "Pantanal" (2022), que teve sua estreia original em 1990 e também é uma narrativa sobre o campo. As duas tramas são do mesmo autor (Bruno Luperi), têm como cenário a vida rural e um homem dono de muitas terras como protagonista.

Essa "onda de regravações", no entanto, vem levantando debates sobre o universo da teledramaturgia. Se, por um lado, é uma forma de homenagear obras renomadas e repetir receitas de sucesso, por outro pode diminuir espaços para novos roteiros e narrativas no espaço de ampla audiência que é a TV aberta.

Manuela Costa Bandeira de Melo, mestre em Comunicação e autora do livro "Telenovela, O Amor em Doses Diárias" (2015), afirma que a memória afetiva é um dos elementos que faz os remakes se tornarem um sucesso. "Trabalhar obras que mexeram com a sociedade, pautaram rodas de conversas, mobilizaram torcidas por determinadas personagens... são ingredientes que tornam os remakes atrativos", destaca a especialista.

Para Raul Damasceno, escritor e roteirista de "O Melhor Amigo", que estreia nos cinemas em 2024, os remakes impactam na "falta de novidade": "Há tantas boas histórias pensadas e escritas por novas e diversas cabeças, das mais diferentes regiões. É só observar os destaques dos laboratórios de roteiro que crescem a cada ano no Brasil. No entanto, essa limitação de oportunidades para novas narrativas e autores parece ser mais evidente na TV aberta, um ambiente que tende a ser menos propenso a riscos, ao contrário do cenário do streaming, que permite explorar territórios mais ousados".

Os streamings aparecem, nesse contexto, como um ponto de convergência de opinião para os que defendem e os que não concordam com a ampliação dos remakes na TV aberta. Eles são apontados como uma forma mais ampla de produção, como um ambiente com mais abertura para inventar novas narrativas.

"Hoje os canais de streaming, como a GloboPlay, dão também a oportunidade de que novos autores e narrativas ganhem mais espaço. Na minha opinião, a aposta pelos remakes nos canais abertos é para que as novelas voltem a ganhar o espaço que tinham junto à sociedade em anos anteriores", afirma Manuela.

A comunicóloga, ao destacar as regravações como uma estratégia para reunir novamente mais pessoas no "ao vivo" de uma novela, cita novamente os streamings como impulsionador do movimento de segmentação de telas. "São um campo aberto para que novas possibilidades surjam e, com isso, podemos ter casos como o da novela 'Todas as Flores', que foi um sucesso e, em seguida, foi para a TV aberta".

Todavia, para Raul os streamings não representam uma forma democrática de consumo audiovisual no Brasil. A teledramaturgia ainda é a mais popular e culturalmente assistida nos lares, segundo o artista. "Quando se fala em streaming no Brasil é importante pensar que este é um país muito grande e economicamente muito desigual. A internet ainda não alcança todos os lares, e mesmo quando alcança, quantas dessas famílias, que têm outras prioridades, irão assinar um serviço de streaming?", declara.

Ele continua: "É muito fácil pensar que o costume de sentar na sala para acompanhar a programação da TV linear tenha se perdido nos grandes centros urbanos, mas esta não é uma realidade dos interiores. Novela é um produto audiovisual democrático. E esses locais mais descentralizados, onde a presença da TV ainda é muito forte, não entra na mostra de audiência nacional. Portanto, as grandes capitais acabam ditando o sucesso ou não de uma novela".

O sucesso e a "cultura de noveleiro" das teledramaturgias do Brasil são inquestionáveis. Para Manuela Bandeira, a internet também não substitui a televisão e isso é principalmente perceptível com o público mais velho. "Na minha família, por exemplo, tenho uma tia que só sai de casa após a novela das 18 horas. Assistir uma telenovela e muito mais do que simplesmente sentar na frente da TV. É estar envolvido em sua trama, e se deixar levar pelo suspense, compartilhar emoções, torcer pelos personagens, discutir as decisões. É estar imerso durante 8 ou 9 meses naquele mundo".

Entre o Sonho e o Real

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Nesta segunda-feira, 22, estreia "Renascer", a nova novela das 21 horas da Rede Globo. A produção, uma regravação da obra de 1993 escrita por Benedito Ruy Barbosa, teve roteiro adaptado por Bruno Luperi, o mesmo que escreveu o remake de "Pantanal" em 2022.

A trama conta a saga de José Inocêncio, um fazendeiro sem posses e sozinho no mundo que muda seu destino ao fazer uma promessa a um grande pé de jequitibá. Na segunda fase da novela, décadas depois, ele aparece como um homem rico e dono de grandes plantações de cacau. Mistérios, dramas, amores, vingança e lendas sobre a vida de Inocêncio e sua família são contadas nesta novela.

"Apesar de serem remakes, as histórias passam por determinadas adaptações, ganham personagens, histórias secundárias, entre outros elementos. Então não vejo como um aspecto negativo, mas sim como a aposta em uma história que mobilizou o País", declara Manuela Bandeira, mestre em Comunicação e autora do livro "Telenovela, o amor em doses diárias", sobre a nova regravação.

Sendo uma produção de remake ou não, uma característica da teledramaturgia brasileira são histórias que se aproximam da população e refletem contextos políticos e sociais da época em que são apresentados. Para Raul Damasceno, escritor e roteirista, essa construção se dá por meio de "sonhos".

"O brasileiro gosta de sonhar. E a novela dá vazão para todos esses sonhos. Seja o de ganhar na loteria, como Griselda (Lilia Cabral) em 'Fina Estampa'; ou mesmo, num belo dia, encontrar uma mala cheia de dinheiro, como Carlão (Francisco Cuoco) em 'Pecado Capital'. Seja aquele desejo mais obscuro de uma vingança, como Nina (Débora Falabella) em 'Avenida Brasil' e Ana Francisca (Mariana Ximenes), de 'Chocolate com Pimenta'; ou aquele sonho de prosperar montando o próprio negócio, como a Raquel (Regina Duarte) de 'Vale Tudo' e Maria da Paz (Juliana Paes) de 'A Dona do Pedaço'", elenca.

Mencionando o autor da nova novela das 21 horas, Raul continua: "E sabe o que todas essas novelas têm em comum? São costuradas por uma história de amor. Pois, como disse Benedito Ruy Barbosa, 'Antes de mais nada, uma novela precisa ser uma grande história de amor. Se não tiver isso, nem homem gosta'".

Independentemente se por meio de um remake ou com uma produção 100% inédita, a teledramaturgia continua "firme e forte" na cultura brasileira. Seja por meio do público fiel ou dos desbravadores dos streamings, as produções audiovisuais do estilo "novelão" crescem com diversidade temática, como é o caso de "Guerreiros do Sol", novela da Globoplay com estreia prevista para 2024.

"Não acho que o remake seja uma saída para a não repetição de histórias, mas uma maneira de captar a atenção do público para algo que já lhe seja familiar. Mas claro que sempre haverá espaço no coração do público para novas e boas histórias, vide o sucesso da maravilhosa 'Vai Na Fé', novela de Rosane Svartman para o horário das 19 horas", celebra o roteirista.

"Com seus personagens cativantes, diversos e cheios de camadas, a novela conquistou uma audiência diversificada, desde aqueles que assistem na televisão da sala durante a transmissão até os que optam pelo streaming em horários alternativos, participando ativamente das discussões nas redes sociais", afirma.

Relembrando produções que conquistaram o público brasileiro em anos anteriores, Raul Damasceno finaliza: "'Vai Na Fé' soube representar muito bem o brasileiro de 2023, assim como 'Vale Tudo' capturou o jeitinho brasileiro de 1989 - que perdura até hoje - e 'Avenida Brasil' abordou a ascensão da classe média brasileira em 2012 . Novela é sobre captar o espírito de seu tempo. O brasileiro quer sonhar, mas também quer se ver".

Outros remakes

Além de "Renascer" e da recente "Pantanal" (1990/2022), a Rede Globo também está no ar atualmente com o remake de "Elas Por Elas", produção original de 1982. A mesma emissora exibiu em 2016 "Haja Coração", nova versão de "Sassaricando" (1987), e "Guerra dos Sexos" (2012/1983).

Além dessas produções, há também "Mulheres de Areia", que é mais conhecida pela versão de 1993, mas foi originalmente desenvolvida em 1973 com direção de Edson Braga e Carlos Zara.

Fora dos Estúdios Globo, o SBT também produziu consagrados remakes dedicados ao público infantojuvenil. Como exemplo, "Rebelde Brasil", que ficou no ar de 2011 a 2012 e é inspirado na telenovela mexicana homônima. Assim como a produção original, o sucesso do elenco foi tanto que, após o fim das gravações dos capítulos, houve turnê pelo País com shows dos sucessos apresentados na novela.

"Chiquititas" é outro caso de regravação com grande sucesso. A primeira versão, que durou de 1997 a 2001, deu origem ao roteiro do remake de 2013, que se estendeu até 2015. Próspero em audiência, a obra regravada entrou no catálogo da Netflix em 2023 e nunca saiu das produções mais vistas do streaming.

Pensando nos próximos anos, a pesquisadora Manuela Bandeira conta quais são suas apostas para as próximas produções da "onda de remakes": "Minha aposta são os remakes das novelas do João Emanuel Carneiro, como 'Avenida Brasil', que parou não só o Brasil como diversos países. E mais novelas com temáticas de disputa de terras, como 'Terra Nostra' e 'Rei do Gado'".

"Renascer" 2024

  • Quando: segunda-feira, 22, às 21h20min
  • Onde: Rede Globo e filiadas 

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