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Livro sobre traduções de contos de Clarice Lispector é lançado em Fortaleza
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Livro sobre traduções de contos de Clarice Lispector é lançado em Fortaleza

Explorando os contos traduzidos de Clarice Lispector para o inglês, Vladimir Araújo mergulha em outras faces da escritora
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Clarice Lispector (1920-1977) tem obra revisitada em versão manuscrita  (Foto: Acervo/IMS)
Foto: Acervo/IMS Clarice Lispector (1920-1977) tem obra revisitada em versão manuscrita

"A escrita de Clarice Lispector, longe de ser convencional, traz, em sua essência, aspectos que exigem do tradutor de seus textos um mergulho profundo numa obra cuja linguagem atua essencialmente como protagonista", sustenta Vladimir Araújo no breve resumo que precede o início de sua obra "As faces da Esfinge: Contos de Clarice Lispector em sua tradução para o inglês".

O livro é fruto da pesquisa e análise da tese de mestrado do autor, realizada na POET (Pós-graduação de Estudos da Tradução), da Universidade Federal do Ceará (UFC), e já tem data de lançamento, marcada para o dia 3 de fevereiro na Livraria Leitura do shopping Iguatemi Bosque.

Mas a relação estreita de Vladimir com os textos da escritora brasileira não nasce com esse projeto. Desde a adolescência, ele já era um fiel leitor dos contos e romances de Clarice e sempre teve um questionamento, este que foi importante para o futuro do trabalho: "Por que ela ainda tem o estigma de ser uma autora difícil?".

A pergunta na mente jovem, ainda fora do campo de pesquisa da universidade, nunca abandonou os pensamentos do também professor. "Vieram mais leituras e estudos sobre a obra dela. E veio uma pergunta essencial: se aqui no Brasil muitas vezes ainda havia esse estigma de difícil compreensão dos textos dela. Como é que ela chegou no exterior?", detalha.

O simples questionamento levou até a pesquisa e análise, esta que rendeu 114 páginas que se debruçam e comparam a tradução dos contos "Tentação" e "Uma amizade sincera" para o inglês. As escolhidas foram as traduções do britânico Giovanni Pontiero — publicada em 1992 — e as da norte-americana Katrina Dodson, publicadas em 2015.

A escolha dos textos a serem estudados foi subjetiva, eles foram os primeiros contos da escritora que chamaram sua atenção. "Esses dois nem são os mais citados quando se trata a crítica literária a obra dela. Mas eles me chamaram bastante a atenção, são curtos e densos", explica, acrescentando que eles dão ao leitor uma "ideia do que é a obra da Clarice".

A escolha dos tradutores é diferente. Giovanni Pontiero foi o que mais traduziu os trabalhos da autora, ainda no século 20. Já Dodson traduziu todos os contos da brasileira para a edição "The complete stories", ganhando autoridade no assunto com isso.

Mas o que motivaria escolher os mesmos tempos, mas de tradutores diferentes, se ambos traduzem a mesma obra?

Vladimir desenvolve: "Quem traduz praticamente reescreve a obra daquele autor que está sendo traduzido. Então quando o profissional vai efetuar a tradução, ele a faz partindo de sua própria cultura, interpretações e leituras que ele fez".

Isso foi observado na análise feita durante a pesquisa. A obra traduzida por Pontiero difere da que foi traduzida por Dodson. "Foi interessante perceber que o mesmo conto traduzido por Giovanni Pontiero, que é o mesmo de Katrina Dodson, foram por vertentes diferentes. A escolha de palavras que ele fez, muitas vezes era totalmente diferente das que ela fez", revela.

A norte-americana, ao mergulhar nos textos de Clarice, trouxe o mais próximo da linguagem utilizada pela brasileira: textos que falam em suas palavras escritas, mas também com aquelas que não foram escritas — o que dá a fama de difícil aos trabalhos.

Já Pontiero, em seu cuidadoso trabalho, não apenas traduziu, como tornou a "leitura mais palatável" para o público estrangeiro, escapando daquilo que a tornaria mais complexa.

"Quando falamos de tradução que o autor deixou a obra mais palatável para quem está lendo, não é uma crítica negativa. O que se tem a se contrapor é só que a Dodson se prendeu à forma mais original", afirma.

"A Clarice traduzida é diferente da Clarice em língua materna? Não. É a mesma, dando ao leitor a liberdade de ler o que ela não disse, de interpretar o que ela diz", destaca e, em seguida, completa: "O que acontece com a traduzida é que entra as escolhas que o tradutor faz para levar esse texto até o leitor estrangeiro".

Na divisão dos três capítulos do livro, Vladimir propõe analisar essas diferenças, as comparando com os contos em sua língua materna e levantando pontos, a partir de sua catalogação bibliográfica, para explicar que a complexidade e densidade de Lispector continua presente.

E espera que os leitores se sintam convidados e instigados a direcionar a atenção aos contos e romances dela, mergulhando nas palavras escritas e tentando decifrar os enigmas ocultos nas entrelinhas.

"Que esse livro sirva para trazer o interesse de novos leitores para a obra dessa autora que é tão importante na literatura brasileira", finaliza.

 

Lançamento "As Faces da Esfinge: Contos de Clarice Lispector em sua tradução para o inglês"

  • Quando: 3 de fevereiro, às 18 horas
  • Onde: Livraria Leitura do Shopping Iguatemi (avenida Washington Soares, 85 - Edson Queiroz)
  • Entrada gratuita
  • Preço do livro: R$ 30
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