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Indicado ao Oscar, 'Pobres Criaturas' chega aos cinemas na quinta, 1º
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Indicado ao Oscar, 'Pobres Criaturas' chega aos cinemas na quinta, 1º

Vida&Arte assistiu com antecedência ao novo longa de Yorgos Lanthimos, "Pobres Criaturas". Filme foi indicado em diversas categorias no Oscar, incluindo Melhor Filme
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Emma Stone vive a protagonista Bella Baxter, cujo o descobrimento do mundo ao seu redor é o que da norte ao longa (Foto: 20th Century Studios / Divulgação)
Foto: 20th Century Studios / Divulgação Emma Stone vive a protagonista Bella Baxter, cujo o descobrimento do mundo ao seu redor é o que da norte ao longa

Muitas pessoas vão comparar "Pobres Criaturas" com "Frankenstein" (1931), de Mary Shelley. A famosa história do médico obcecado pelo desejo de criar vida é uma das mais conhecidas da cultura pop como um todo.

Já adaptado de diversas formas para TV, cinema e até quadrinhos, o enredo foca em uma criatura que não pediu para ganhar a vida, mas que luta por ela e pela aceitação de uma sociedade que não a renega. E é inegável que o novo longa de Yorgos Lanthimo ("A Lagosta", de 2015), baseado no livro homogêneo de Alasdair Gray, escrito em 1992, tem sim inspiração nesse grande clássico.

Porém, ao contrário de Victor Frankenstein, o Dr. Godwin Baxter (Willem Dafoe), que dá vida a Bella Baxter, interpretada por Emma Stone ("La La Land", de 2016), não renega sua criação. Ele vê, mesmo que de forma inconsciente, a figura de uma filha em Bella, indo em um rumo totalmente diferente do que vemos em "Frankenstein". Aqui, o desejo da protagonista por conhecer o mundo que a cerca é o que nos guia durante toda a narrativa.

Misturando uma estética gótica e steampunk, que nos faz mergulhar em um universo único e extremamente rico visualmente, o longa nos apresenta uma fotografia que é quase um personagem dentro da trama. Somando isso a um trabalho de direção de arte e figurino, que não podem ser descritos de outra forma que não sejam excepcionais, a direção constrói um universo fantasioso, mas extremamente palpável. Fazendo com que o espectador, assim como Bella, queira cada vez mais desbravar aquele universo tão rico.

Já em outros momentos, o foco em Bella é extremamente pessoal. Muito disso se deve ao grande foco que Yorgos dá à vida sexual de Bella. O diretor patina em um gelo fino aqui, se arriscando ao focar tanto nisso, porém, acaba por não trazer erotismo e objetificação para esses momentos. O que é excelente, já que mostra que aquelas cenas não são escolhas gratuitas. E, em muitos destes momentos, podemos ver ângulos que simulam, de certa forma, o olhar de alguém que vê aquilo, quase como sem querer. Como alguém que pode, ou não, estar prestes a julgar tudo que acontece.

Confira o trailer de "Pobres Criaturas":

Porém, Bella deixa claro, em diversos momentos do longa, que esse julgamento é algo que não tem a ver com ela, e sim com quem a julga. Sendo uma personagem que prega acima de tudo sua tão sonhada liberdade, não permitindo que a confundam com uma mera libertinagem. Bella é dona de si, de seus desejos, e não permite que nem mesmo God (Deus, em tradução livre), como chama seu criador, a impeça de exercê-los.

E é importante destacar o trabalho de Emma Stone aqui. A atriz consegue nos passar a transição gradual de Bella de forma muito natural. Desde os primeiros momentos, onde a personagem é quase como um bebê que está aprendendo a andar, falar e compreender suas emoções, até o final, onde lida de forma muito clara e natural com sentimentos como luto, aceitação e o mais complexo de todos, o de pertencimento como um ser único.

Ao ser revelada a origem de sua aparência e mente, a personagem se depara com uma profunda reflexão do que é, de fato, ser um indivíduo. E o trabalho de Emma é muito importante em tudo isso. Desde suas expressões corporais, tom de voz e olhar, a atriz consegue dar vida a esse personagem tão forte e frágil ao mesmo tempo, de uma forma inquestionável.

Além disso, os personagens coadjuvantes desta sátira da "construção" de um ser humano são essenciais para trazer equilíbrio entre o sombrio e o cômico. Willem Dafoe ("O Farol", de 2019) traz um Dr. Godwin Baxter pragmático e frio, mas, ao mesmo tempo, extremamente amoroso. Enquanto Mark Ruffalo ("Vingadores: Ultimato", de 2019), que interpreta Duncan Wedderburn - personagem com quem Bella parte, em um primeiro momento, em sua aventura pelo mundo -, traz um alívio cômico imenso e, ao mesmo tempo, discreto para a trama.

"Pobres Criaturas" é, sem dúvidas, o filme mais "comercial" de Yorgos Lanthimos. Trazendo uma narrativa linear e focada em sua protagonista, o diretor consegue equilibrar o bizarro e o natural enquanto constrói uma personagem complexa e divertida. E apesar de não estar totalmente em seu estilo habitual, Yorgos prova que existem diversas formas de fazer cinema, e que todas são necessárias e encantadoras, por mais diferentes que sejam. Assim como Bella Baxter ou o excêntrico e amoroso Dr. Godwin Baxter.

Pobres Criaturas

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