Cantor, compositor, violonista, cronista, artista múltiplo, assim é conhecido Zeca Baleiro, uma das atrações principais do Carnaval de Fortaleza neste sábado, 10, no Aterro da Praia de Iracema.
O maranhense vai apresentar o Baile do Baleiro, que traz ao público versões irreverentes de canções de Jorge Ben Jor, Novos Baianos, Tim Maia, Pinduca, Originais do Samba e Wilson Simonal, além de sucessos próprios.
Criado há 20 anos pelo artista, o Baile propõe o encontro de várias linguagens através de músicas de diversas gerações. No show, ele também assume o papel de mestre de cerimônias, fazendo a ponte entre tradição e modernidade, promovendo encontros memoráveis com ídolos de outras gerações e novos talentos da música brasileira.
Em entrevista ao Vida&Arte, Baleiro declara que esse formato de apresentação é um jeito divertido e democrático de fazer show no Carnaval. "Esse Baile é o meu xodó. É quando descanso do meu próprio repertório e ponho minha faceta 'crooner' para trabalhar", brinca o músico.
Zeca já lançou 30 álbuns, entre eles acústico, ao vivo, músicas do universo infantil, trilha sonora para TV e teatro, se consolidando como um importante nome da MPB dos últimos tempos.
E sem ficar parado, no mês de março o músico lança um novo disco em parceria com o amigo Chico César para celebrar 30 anos de amizade. No mesmo período também estreia seu programa de entrevistas, intitulado Evoé, misto de podcast e talk show. Com plateia e gravado na Casa de Francisca, em São Paulo.
O POVO - Você se dedica, além da música, a muitas outras coisas. O que te inspira e motiva no momento de criar algo novo, relacionado a música ou não?
Zeca Baleiro - A vontade de criar - e criar coisas novas sempre - é inerente ao ofício do artista. Criar ativa minha energia vital, me sinto vivo, feliz, tenho muito prazer no meu trabalho e, sobretudo, quando estou criando, compondo, pensando num álbum, fazendo a trilha de uma peça teatral etc.
O POVO - Seu último disco, "Mambo Só", apresenta letras que falam muito sobre os tempos atuais, o uso das redes sociais e os avanços da tecnologia. Para você, o dever do artista é refletir o seu tempo?
Zeca Baleiro- Sim, penso. Não falaria em "dever" ou "missão", palavras pesadas e impositivas talvez. Mas, sim, no meu imaginário, o artista é um grande "pacote": faz pensar, diverte, entretém, emociona, comove, mobiliza… O artista é em suma um cronista do seu tempo.
O POVO - Recentemente músicas de Gal Costa, Djavan, Roberto Carlos e Maria Bethânia foram retiradas do Spotify sem aviso prévio. No cenário atual em que vivemos, onde o mercado fonográfico está mudando rápido com o aumento de acessos a plataformas digitais, você acha que os artistas ficam refém do poder delas? Qual será o futuro da execução da música além das plataformas?
Zeca Baleiro - Vejo com certa apreensão esse futuro. Tudo é muito estranho e misterioso ainda. Além das plataformas, praticamente não há mais espaço para produções musicais. As rádios e tvs estão loteadas por jabás e trocas de favores… Enfim, é no show que o artista se realiza hoje, artística e financeiramente também.
O POVO - E como avalia o cenário musical do Brasil atualmente ?
Zeca Baleiro - Difícil, especialmente pro nicho da chamada mpb. Mas ao mesmo tempo, a força dessa música é tão grande que se regenera o tempo todo, a cada ano surgem novos e sólidos talentos, é um manancial infinito.
O POVO - Algumas pessoas falam de Nordeste ou nordestinidade como algo similar ou uma possível forma que integra os nove estados nordestinos, mas esses estados são muito distintos. Em termos culturais, muita coisa acontece num estado e o outro nem toma conhecimento. Como você vê essa ideia de nordestinidade?
Zeca Baleiro - É algo com que não me preocupo, não penso sobre isso. A origem é inerente à nossa existência, mas não creio numa ideia determinista. Gosto de ver bandas nordestinas fazendo rock ou som experimental, por exemplo, porque rompe com o clichê do forró ou de uma música "nordestina". Mas o fato é que o nordeste é uma nação cultural fortíssima e incontornável. Tem a frase célebre do Belchior: , "Nordeste é uma ficção, Nordeste nunca houve". Num certo sentido, mais filosófico, ele tá com a razão, noutro não.
Aterrinho da Praia de Iracema
17h30min - DJ Ada Porã
18h30min - Superbanda
20h30min - Márcia Fellipe
22h30min - Zeca Baleiro