Logo O POVO+
O legado de risos que Paulo Diógenes deixa para o humor brasileiro
Vida & Arte

O legado de risos que Paulo Diógenes deixa para o humor brasileiro

Comediante Paulo Diógenes morre aos 62 anos após fazer história por mais de 30 anos com a personagem Raimudinha
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Paulo Diógenes morreu aos 62 anos nesta quarta-feira (Foto: Reprodução/Instagram @gloriadiogenes)
Foto: Reprodução/Instagram @gloriadiogenes Paulo Diógenes morreu aos 62 anos nesta quarta-feira

Paulo Diógenes, a Raimundinha, faleceu na última quarta-feira, 14. A notícia foi confirmada por Glória Diógenes, irmã do artista, através do perfil próprio nas redes sociais, a causa da morte não foi divulgada. O velório acontece nesta quinta-feira, 15, no Cemitério Jardim Metropolitano, a partir 5 horas. 

“Quando Cacilda se foi, Drummond disse: ‘Morreram Cacilda Becker’.É assim que a gente se despede também do querido Paulo Diógenes. Paulo morre no plural. Leva sua extraordinária Raimundinha e outro tanto de tipos engraçadíssimos junto”, lamenta Magela Lima, pesquisador e crítico de teatro.

Nascido em 1961, no Rio de Janeiro, mas criado em Fortaleza, Paulo Diógenes é filho de Sueli dos Santos e Osmar Maia Diógenes. Iniciou carreira no humor nos anos 1980 quando ainda cursava Comunicação Social na Universidade Federal do Ceará (UFC). Antes disso, o artista havia ido estudar Teatro no RJ, onde teve suas primeiras vivências na comédia.

Chegou a trabalhar no Banco do Estado do Ceará, mas largou a estabilidade financeira para viver da comédia. O sucesso veio com a personagem Raimundinha, uma caricatura da mulher suburbana. Uma personalidade conhecida por roupas e maquiagens coloridas, por falar alto e sapatos de salto bem altos.

“Ela (Raimundinha) era indiscutivelmente o alter ego dele e a forma popular dele se comunicar com todo mundo, com as pessoas, com o universo ao redor, com todas as classes sociais”, conta Carri Costa, ator que trabalhou com Paulo.

A personagem surgiu numa peça de teatro em que Diógenes interpretava a mãe que queria transformar a filha crente numa estriper. A inspiração pelo modo de falar da Raimundinha veio do cotidiano, após Paulo ver uma mulher no Centro da Cidade gritando com o filho.

Ricardo Guilherme conta que não foi um amigo íntimo, mas que sempre que se encontravam era com muito afeto. “O Paulo é filho de um ex-ator de teatro, o Osmar Diógenes, que trabalhou Nadir Papi Saboya e Maristher Gentil. Elas criaram o Teatro-Escola, que foi responsável pela renovação do meio. Fernanda Quinderé, Claudio Santos também eram atores do grupo. Então o Paulo tem teatro no sangue”, lembra o ator cearense, acrescentando que Paulo Diógenes também fez trabalhos além do humor. Um deles foi a peça “O caldeirão da Santa Cruz do Deserto”, de Oswald Barroso.

Entre os mais de 30 anos de carreira, o comediante esteve em casas de show, teatro e programas diversos da televisão como o “Tudo a ver”, da TV Record, e “Programa do Ratinho”. Chegou a viajar pelo Brasil a peça "Caviar com Rapadura", ao lado do amigo de longa data Ciro Santos, a Virginia Del Fuego.

O show de humor ficou conhecido por popularizar as peculiaridades da comédia cearense. A ideia nasceu no final dos anos 1980, quando Santos ainda morava na capital carioca e veio passar as férias em Fortaleza. O amigo cearense sugeriu que Ciro aproveitasse para se apresentar como Virginia.

Posteriormente, resolveram reunir o melhor dos dois mundos: a dondoca carioca Del Fuego com a periférica cearense Raimundinha. Devido a amálgama dos universos distintos veio o nome: Caviar com Rapadura.

Paulo Diógenes morreu aos 62 anos nesta quarta-feira(Foto: Reprodução/Instagram @gloriadiogenes)
Foto: Reprodução/Instagram @gloriadiogenes Paulo Diógenes morreu aos 62 anos nesta quarta-feira

A peça retornou em 2023, sob o nome “Caviar com Rapadura: 30 anos depois…”, dirigida, produzida e estrelada pela dupla. Revisitando as diferenças por meio de piada e muito humor com a cosmopolita Virginia e a espalhafatosa Raimundinha.

Mas nem só de riso foi feita a jornada de Paulo. Por 10 anos, o artista enfrentou a dependência química em álcool e cocaína. Ele chegou a ir para São Paulo tratar dos vícios e até onde a reportagem apurou, esteve sóbrio.

Em 2012, o comediante decidiu seguir os passos do pai, que fora deputado estadual, e se candidatou a vereador de Fortaleza, em 2012, sendo eleito com 3.858 votos. Depois de entrar para a Câmara Municipal deixou a personagem Raimundinha de lado para se dedicar às responsabilidades da vida política.

Durante seu mandato, Diógenes atuou dentro da causa LGBTQIAP+ e na defesa de direitos de jovens dependentes químicos, por ter sido adicto. Entre 2017 e 2019, na gestão do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), ele foi o coordenador especial de Políticas Públicas para a Diversidade Sexual da Secretaria de Cidadania e Direitos Humanos de Fortaleza.

Em 2016, conseguiu na Justiça a guarda de uma menina de 7 anos por meio de uma Ação Declaratória de Paternidade Sociafetiva, que concede ao pai não biológico os mesmos direitos e deveres dos genitores da criança.

A decisão era inédita no Judiciário cearense devido à guarda ser concedida de forma compartilhada entre o pai biológico e o pai socioafetivo, casal homoafetivo, que atua em igualdade de direitos e obrigações. O pai biológico da criança é o empresário Tarcísio Rocha, que era casado com Diógenes há três anos, na época da decisão.

“Paulo era dono de um talento ímpar, além de um sujeito do bem. Deixa seu nome registrado na história do teatro no Ceará como um dos nossos melhores e mais versáteis palhaços. Paulo transformava qualquer canto de bar num verdadeiro e poderoso palco e se agigantava, mesmo com toda a precariedade de recursos. Rimos muito com sua capacidade de improviso e sua capacidade de conexão com o público”, conclui Magela.

Homenagens de humoristas

“Vamos lembrar dele sempre assim, com essa alegria, irreverência, meu querido professor pessoa responsável por eu estar aqui. Foi brilhar lá no céu. Obrigado por ter vindo para montarmos o ‘Caviar com rapadura 30 anos’”

Ciro Santos, humorista

“Minha grande inspiração na arte de fazer rir... Você foi muito especial na minha vida. Estou muito triste”

Luis Antônio Costa dos Santos (Aurineide Camurupim), humorista.

“O cara que abriu caminho para dar trabalho para uma nova geração de humoristas e famílias inteiras que sobreviviam do humor”

João Netto (Zé Modesto), ator

“Perdi um grande mestre do humor. Um pai, meu padrinho. Gratidão por tudo, o humor cearense fica mais pobre”

Luciano Alves (Luana do Crato), humorista

“O humor cearense perde um grande nome, amigo dos amigos e de um talento inquestionável. Que conforte os familiares e amigos”

Valério Vitoriano (Rossicléa), atriz e humorista

“Obrigado Paulo Diógenes, obrigado Raimundinha! Vá em paz e na luz, descanse em paz. Meu filho vai sentir saudade do número do palhaço que você tanto nos emocionava no final dos seus shows”

Titela, humorista

“Impossível viver desse ofício, neste estado e não ter Paulo e sua Raimundinha como norte do fazer. Obrigado por TUDO, Paulo. Obrigado por TUDO, Raimundinha”

Moises Loureiro, humorista

“Meu amigo de tantos anos, tantas coisas vividas juntos (ruins e boas), confidências, apoio mútuo...”

Karla Karenina, atriz

“Meu coração tá dodói só de pensar que meu ícone nos deixou aqui nessa terra e foi fazer o povo sorrir lá em cima, já deixando todas nós com saudade da sua arte… Muito obrigado por tudo Paulo a única e eterna Raimundinha”

Denis Lacerda (Deydianne Piaf), ator

“Gratidão meu irmão por ter pavimentado a estrada dos que hoje fazem humor em bares, pizzarias e tantos lugares. Muito obrigado por ter despertado em nós o orgulho de sermos cearense, por defender nossa maior expressão cultural “O humor Cearense”. Siga em paz com sua alegria e saiba que sua missão nesta vida foi completa. Poucos seres humanos vem a este planeta para trazer alegria, você é um deles. Muito obrigado por tudo”

Bené Barbosa (Papudim), humorista

“Perdemos o talentoso Paulo Diógenes, mas fica pra sempre a Raimundinha que nos encheu de graça e que abriu muitas portas para nós humoristas cearenses. Descanse em paz amigo e que Deus conforte a família”

Tirullipa, humorista

O que você achou desse conteúdo?