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Carnaval 2024: Artistas fazem balanço e apontam demandas para próximos anos
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Carnaval 2024: Artistas fazem balanço e apontam demandas para próximos anos

|cartola| No encerramento do Carnaval, artistas fazem o balanço do evento em 2024. Destaques envolvem interesse do público na programação e necessidade de ampliação de polos
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Show da cantora Solange Almeida no Aterrinho da Praia de Iracema na segunda-feira, 12 (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Show da cantora Solange Almeida no Aterrinho da Praia de Iracema na segunda-feira, 12

Este fim de semana marca o último respiro do Ciclo Carnavalesco de Fortaleza, visto que a programação de "ressaca" da folia ainda segue em alguns pontos da Capital. Após uma programação iniciada numa manhã de sábado com chuva intensa, a qual ocasionou cancelamentos de atrações em polos como o Parque Rachel de Queiroz, os festejos fortalezenses seguiram até a última terça-feira, 13, com animação.

Após a euforia inicial da folia, que permaneceu estabelecida em oito pontos (Benfica, Domingos Olímpio, Parque Rachel de Queiroz, Mercado da Aerolândia, Mercado dos Pinhões, Mocinha, Passeio Público e Aterrinho da Praia de Iracema), artistas compartilham as impressões do período carnavalesco que se finda.

Um dos nomes que marcam a festividade em Fortaleza é o do cantor Pingo de Fortaleza, um dos fundadores do Maracatu Solar. Para ele, a Cidade já pode "se vangloriar" de ter um "grande Carnaval multicultural", mas que ainda pode ser potencializado. Entre os pontos que precisam de melhoria, o compositor cita a ampliação de polos e a diminuição da disparidade existente entre estes espaços. "Não só na infraestrutura, mas também no campo das atrações. Acho que todos os artistas de Fortaleza tem potencial, capacidade criativa, para estar ocupando todos os polos", opina.

A avaliação é reforçada para os maracatus, afoxés, escolas de samba e demais agremiações, considerados pelo artista como projetos de formação contínua e referências de cultura. "Ainda podemos ter uma cara ainda mais nossa no Carnaval, o público pode se identificar muito mais, mas deve ser uma política, uma visão do fazer cultural onde os artistas do lugar são prioridades", complementa.

A opinião é corroborada pela cantora Lorena Lyse, que performou três apresentações "mágicas" com a banda Soul do Axé marcadas pelos ritmos do axé e samba-reggae numa "verdadeira explosão de cores e ritmos" com opções para "todos os gostos". Ela diz que percebe um aumento crescente dos interesse dos fortalezenses pela programação e fortalecimento de formatos de blocos de ruas e cortejos, mas segue com a necessidade de repensar a inclusão e a diversidade para os próximos anos.

"Precisamos garantir que todos os estilos musicais e manifestações culturais tenham espaço para brilhar, celebrando a riqueza da nossa diversidade. Principalmente nossos artistas", acrescenta. O olhar de Lorena para os próximos carnavais, assim como o de Pingo, pensam em expandir a energia já existente: "Acho que o Carnaval de Fortaleza ainda tem muito espaço para crescer e atrair gente do Brasil e do mundo. Estou trabalhando muito para isso".

*O Vida&Arte entrou em contato com a Secretaria da Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor), mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria

Depoimentos

Veja versão estendida dos depoimentos dos cantores Pingo de Fortaleza e Lorena Lyse:

Pingo de Fortaleza

"A gente deve sempre estar repensando, procurando melhorar. Existe uma ausência de polos na periferia que ainda não é contemplada. É preciso ampliar esses polos, discutir esse polo maior da Praia de Iracema, fazer com que os artistas fortalezenses participem mais ativamente desses momentos. É preciso melhorar a qualidade da infraestrutura da Domingos Olímpio, o olhar com essas agremiações. Todas essas medidas podem ser pensadas para melhorar a festa, que vai além do que a gente enxerga como música, de alegria, de consagramento, de cura, de mercado da economia da cultura. É uma festa mundial que agrega muitos valores, que exermplifica o potencial da cultura brasileira, da sua diversidade.

É preciso pensar esse Carnaval sempre de uma forma mais profissional, coesa, podendo enxergar caminhos e direções que possam ser tomados para democratizar mais ainda o acesso dos artistas cearenses e também do próprio público, ampliando os espaços de atuação, saindo do ciclo do meio da cidade para a periferia. Fortaleza já pode se vangloriar de ter um grande Carnaval multicultural, mas ainda pode se potencializar, nós podemos ter uma cara mais nossa no Carnaval, o público pode se identificar muito mais com essas atrações. Mas deve ser uma política, uma visão do fazer cultural onde os artistas do lugar são prioridades. Sou muito feliz de fazer parte desse Carnaval com o Maracatu Solar, como artista e como composito, sendo um dos autores de "Noite Azul", uma das músicas mais cantadas".

Lorena Lyse

"O axé é uma parte fundamental do nosso Carnaval! A representatividade negra é a essência, a alma pulsante do Carnaval de Fortaleza, seja nos repertórios de axé ou nos maracatus, sambas e afoxés espalhados pela Cidade. É um orgulho imenso poder ser uma voz para nossa comunidade, celebrando nossa cultura e nossa história a cada batida do tambor. Os pontos positivos foram a energia contagiante e a alegria que o axé traz para os foliões, criando uma atmosfera de festa sem igual. Quanto aos negativos, de modo geral, talvez tenha faltado um pouco mais de diversidade dentro do próprio ritmo, com uma maior valorização e inclusão de outros estilos musicais afro-brasileiros, como o samba, o maracatu, o frevo, mostrando a riqueza da nossa cultura musical.

Para os próximos anos, é importante repensarmos a inclusão e a diversidade em todas as esferas do Carnaval. Precisamos garantir que todos os estilos musicais e manifestações culturais tenham espaço para brilhar, celebrando a riqueza da nossa diversidade. Principalmente nossos artistas locais,que trabalham um repertório autoral, mas são boicotados por não fazerem um repertorio de musicas já estouradas. É contraditorio, nosso carnaval homenagear grandes compositores da nossa terra, mas nao permitir que as novas gerações mostrem seu trabalho autoral.

Teve um dia esse ano, que eu era a única headliner mulher num dia inteiro de programação num polo. O Carnaval de Fortaleza ainda é dominado por homens, homenageia homens. Eu penso que isso só vai mudar com a mulherada fazendo zoada. E eu sempre que posso, levanto essa bandeira".

ARACATI-CE, BRASIL, 09-02-2024: Ivete se apresenta em trio elétrico no carnaval de Aracati. (Foto: Fábio Lima/O Povo)
ARACATI-CE, BRASIL, 09-02-2024: Ivete se apresenta em trio elétrico no carnaval de Aracati. (Foto: Fábio Lima/O Povo)

Entre o descanso e a folia

Por Miguel Araujo

É possível analisar o Carnaval de Aracati sob diferentes aspectos. Por um lado - e provavelmente o mais chamativo -, a festa na cidade foi marcada pelo “furacão” Ivete Sangalo. Por outro, foliões que se alternavam entre as praias de Majorlândia e Canoa Quebrada buscavam relaxar ou se agitar com atrações musicais e o mela-mela.

Havia também o aspecto do “contraste”. Enquanto chuvas intensas acompanharam diversos municípios do Estado, incluindo a Capital, os primeiros dias do período carnavalesco em Aracati foram “banhados” pela presença constante do sol e por temperaturas elevadas. O calor da multidão se juntava ao da sensação térmica de mais de 32º C.

Presença constante também foram a dos chamados “paredões de som automotivos” que puderam ser observados em Majorlândia e na rua Coronel Pompeu (por onde desfilaram os trios elétricos) no sábado, 10, por exemplo. Em Majorlândia, policiais militares chegaram a coibir a ação de pelo menos dois responsáveis pelos aparelhos. Mesmo em período “propício”, o volume elevado era um incômodo.

Como uma das principais festas de Carnaval do Ceará, era de se imaginar, então, a diversidade de avaliações. A variedade se estendia ao próprio público que compareceu aos dias de festa, vindos de diferentes locais do Estado. Os foliões também eram múltiplos: crianças, jovens, adultos ou idosos, cada um curtia o período à sua maneira.

Isso deu margem para histórias curiosas como a do Bloco Sem Molecagem, organizado por amigos naturais do município de Russas. Os integrantes do bloco se reúnem em Majorlândia há cerca de dez anos para curtir o Carnaval. Em 2024, montaram uma estrutura improvisada que projetava o esguicho de uma lavadora de alta pressão em direção à rua.

Assim, quem passasse pelo local poderia se refrescar. "Essa estrutura não é só para a gente, é para todos os foliões que passam em Majorlândia e descem até a praia", indicou o empresário Caetano de Oliveira ao O POVO. “O Carnaval mexe com a cabeça do brasileiro de Norte a Sul. Ele espera essa data para curtir, brincar, fazer as pazes, para amar. Eu tô de lua de mel nesse Carnaval", compartilhou.

De um lado, a animação de quem ama a data. Do outro, a oportunidade de descansar em praias como a de Canoa Quebrada, como no caso da vendedora Suyanne Ellen, 21. Ela saiu de Fortaleza para passar o Carnaval em Aracati e, acompanhada de familiares, queria ficar “sossegada”. "Era tudo o que eu estava precisando. Tem que aproveitar as férias", afirmou.

Evidentemente, porém, a ideia mais remetida ao período é, sem dúvidas, a agitação - e sexta-feira, 9, foi a prova de como uma cidade pode se envolver em torno de uma artista e vice-versa. Grande nome do Carnaval em Aracati, Ivete Sangalo mostrou os motivos pelos quais consegue arrastar multidões por onde passa.

Carismática, a “Mainha” - como é carinhosamente conhecida - prometeu um show “à altura” dos 30 anos de carreira. Com “Macetando”, uma das apostas do Carnaval 2024, levou a plateia que lotava a cidade ao delírio, tanto que a cantou várias vezes. Sem dúvidas, a música foi a principal canção da folia.

Desse público, os rostos eram diversos. Independentemente da idade, era possível notar o desejo de se entregar ao agito. Um dos destaques foi a ausência de fantasias elaboradas. Os foliões estavam mais interessados aparentemente em garantir um bom “look” apenas com adereços carnavalescos, como tiaras coloridas. Mais um espectro, então, que marcou um dos principais Carnavais do Ceará.

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