Após sofrer um atentado na própria casa, Bob Marley se refugia em Londres com sua banda, os The Wailers. Juntos, eles irão produzir um novo disco de reggae, algo que leve a mensagem rastáfari de forma mais intensa e que possa auxiliar a trazer paz para a Jamaica. Desde que havia ficado independente da Inglaterra, o país se via em uma guerra civil sangrenta. O filme "Bob Marley: One Love", em cartaz nos cinemas nacionais, acompanha esse processo.
O enredo vai e volta na memória de Nesta (nome do meio de Bob Marley), trazendo momentos da infância e adolescência. A narrativa também mostra como o artista se converteu ao rastafári e como a religião impactava em sua música, demonstrando a relevância da espiritualidade para o jamaicano.
Por outro lado, a trama falha ao enfatizar o desinteresse de Marley na política. Ele procurava não fazer campanha para nenhum dos candidatos à liderança do país na época, mas isso não significava que Bob não fazia revolução à sua maneira, através das letras das músicas.
Este fator poderia ser abordado durante as cenas que acompanham a produção do álbum "Exodus" (1977), trabalho que tornou Nesta e os The Wailers famosos mundialmente. Cria-se essa expectativa na audiência a partir desse processo, quando o cantor fala sobre fazer algo novo, que traga a mensagem de Jah e impacte no contexto sócio-político da Jamaica.
Porém, não há a concretização desse desejo de modo explícito e tudo parece ficar num plano ideal. Como se a música não fosse o instrumento de denúncia do rei do reggae. O êxito é, de fato, como a história consegue mostrar a genialidade musical de Marley na criação do novo álbum, explorando novas sensações despertadas pelo reggae através dos diferentes modos de fazer música com a guitarra, bateria, violão e baixo.
Poderiam ter aproveitado esse gancho para abordar a trilogia pan-africanista de Bob e The Wailers, composta pelos álbuns "Survival", "Uprising" e "Confrontation", lançados em 1979, 1980 e 1983, respectivamente. Faria até mais sentido com o período que o filme acompanha, do atentado até a descoberta do câncer, doença que levou o jamaicano à morte.
O elenco é o grande destaque da produção. Kingsley Ben-Adir, embora não tenha raízes jamaicanas, nasceu para interpretar Nesta. O sotaque jamaicano foi bem executado, além da performance do ator que exala a essência de Bob. Assim como Lashana Lynch, que traz uma Rita Marley impactante e tem muita química com Kingsley.
O restante do elenco não fica para trás, conseguindo deixar sua marca em meio a essas duas personalidades fortes de Bob e Rita. Um dos destaques é o ator que dá vida ao sacerdote rastafári, cujo nome não foi possível de ser identificado. O modo como ele incorpora o líder religioso nos faz ficar atentos a cada fala e ensinamento proferidos durante as cenas.
No fim, o longa-metragem acaba sendo um tanto raso. De certa forma, quebra o estigma em torno da figura de Bob Marley, demonstrando a sua genialidade musical e abordando a sua espiritualidade. Mas não vai além disso.