"Em Fortaleza precisamos de mais políticas públicas para circulação, difusão para as companhias e artistas independentes", é o que afirma a cearense Wilemara Barros, bailarina e professora de balé clássico que será um dos destaques da 9ª mostra internacional de teatro de São Paulo, que acontece de 1 a 10 de março.
A artista celebra 50 anos de carreira como uma das principais bailarinas negras do Estado e do Brasil. Na exposição, vai apresentar seu solo autobiográfico "Preta Rainha" revisitando suas memórias afetivas, tomando para si o legado cultural e ancestral vindo da família: dança, canto, percussão e crença tomam a cena.
Com direção de Fauller, coreógrafo e fundador da Cia. Dita, o solo também dá continuidade aos diálogos e pensamentos da artista acerca do corpo negro e suas possibilidades na dança. Mergulhando no passado para caminhar no presente, atravessando o tempo e o espaço tornando seu corpo um lugar político e poético.
"Eu fiquei surpresa, mas a minha surpresa, na verdade, foi no sentido de pensar em ser uma artista do Ceará, que geograficamente é distante do eixo do Rio, São Paulo. Mas, claro que me sinto honrada em ser homenageada como artista em foco dessa edição do MIT SP", revela a bailarina, acrescentando que isso é o resultado da construção de uma trajetória sólida na dança cearense brasileira.
Com uma carreira que começou ainda criança no estilo clássico, aos 10 anos, no bairro de Carlito Pamplona, filha de pai operário e mãe dona de casa, foi no contemporâneo que ela pôde encontrar seu norte.
"Eu analiso a minha trajetória como desafiadora e forte, na qual eu encontrei muitas pessoas que me estenderam a mão e foram minhas parceiras e colaboradoras, como por exemplo, o coreógrafo Fauller que colabora comigo há 23 anos, sempre com o seu olhar afiado sobre as minhas possibilidades na cena. E através dessas possibilidades eu fui e ainda continuo entendendo qual lugar que eu quero que a minha dança esteja", declara a cearense que vem formando diferentes gerações que se espelham em seu reconhecimento na dança.
Sua passagem pelo balé clássico inclui "Giselle" do coreógrafo sueco Mats Ek e uma releitura de "Morte do Cisne", dirigida por Fauller. Que juntos fundaram a Cia. Dita, referências da dança contemporânea do Nordeste.
"Eu percebo a produção em dança se potencializando cada vez mais nos interiores do estado, como Juazeiro do Norte, Paracuru, Itapipoca, Quixadá e outras cidades. Mas falando mais especificamente em Fortaleza, que é o lugar em que eu vivo, nós temos importantes escolas de formação em dança, mas existe uma lacuna no nosso cenário, porque eu acho que as pessoas se formam e essas pessoas precisam de campo de trabalho", expõe.
E continua. "O Ceará é reconhecido lá fora como um estado que tem uma produção em dança muito interessante e autoral. E nós produzimos material de muita qualidade e diversificado, mas é necessário mais políticas públicas voltadas para a dança", pontua.
Ao ser questionada sobre até onde pretende chegar com a sua dança, a bailarina declara: " Eu sou uma artista atenta às questões do tempo e, através dessas questões, pretendo dançar até o fim".