"Madame Teia" (2024) tinha tudo para ser um filme interessante. Na trama, Cassie Webb (Dakota Johnson), uma socorrista solitária de Nova Iorque, sofre um acidente durante o trabalho e sua percepção de tempo muda. Agora, a moça tem o poder de prever o futuro e voltar no tempo. Como se a vida já não estivesse complicada o suficiente, Webb ainda deve proteger três adolescentes que estão sendo ameaçados de morte por Ezekiel Sims (Tahar Rahim).
Mesmo com o potencial de ser um longa-metragem de qualidade com protagonismo feminino, algo raro entre as produções do gênero, o enredo se perde em um roteiro que não consegue resolver as questões fundamentais ao apresentar as novas personagens do "Aranhaverso" ao público.
Primeiro a própria Cassandra Webb, que passa quase as 1h54min de duração do filme tentando descobrir como os poderes que adquiriu funcionam. A protagonista não segue uma jornada da heroína, como em "Capitã Marvel" (2019), por exemplo, onde há mais conflitos internos do que externos.
"Madame Teia" vai na contramão disso. Deixando todo o sentimento de Cassie em relação à morte prematura da mãe, que falece durante o parto, de lado e focando na missão principal que é proteger o trio composto por Julia Carpenter (Sydney Sweeney), Anya Corazon (Isabela Merced) e Mattie Franklin (Celeste O'Connor), as futuras mulheres-aranha.
O espectador só consegue sentir as questões que perturbam Webb por causa da performance de Dakota, que demonstra isso. No mais, o enredo é uma grande nebulosa que vai prometendo responder algumas perguntas até o desfecho. Porém, não é o que acontece.
Julia, Anya e Mattie acabam ocupando um tempo desnecessário de tela, já que em nenhum momento se tornam heroínas de fato. E acabam sendo um fardo para a protagonista, que não pode focar em suas próprias questões e aprender a dominar seus poderes porque está ocupada demais sendo babá de três adolescentes.
A falta de cuidado em não adaptar a protagonista de acordo com as HQs é outra problemática. Cassandra é uma pessoa com deficiência, sendo cega e paralítica nas histórias em quadrinhos. Trazer essa personagem para o mainstream com a fidelidade com o modo como ela foi concebida na obra original seria de extrema importância para de fato ter mais representatividade num filme de grande visibilidade, além de mostrar pessoas com deficiência ocupando posições de poder.
Apesar disso, a trama consegue ser divertida e minimamente interessante para quem é fã do universo Aranha. Ela traz figuras como Ben Parker (Adam Scott) - o tio de Peter Parker que tem o fatídico destino - e a Mary Parker, a mãe do Homem-Aranha, que no longa ainda é um feto.
As cenas de luta são outro ponto positivo, com destaque para Sims, que interpreta um dos vilões mais poderosos que já vi e que não é derrotado tão facilmente. Entretanto, a narrativa falha ao não conseguir trazer a complexidade do personagem que é tão forte nas histórias em quadrinhos. Mesmo a atuação de Tahir Rahim sendo boa, o personagem acaba sendo simplista e clichê de um jeito chato.
Las Arañas, criaturas ancestrais com poderes de aranha, são um aspecto que poderiam deixar a obra melhor. Contudo, a abordagem é tão apressada e superficial, além da caracterização estranha, que vira algo escrachado. As criaturas parecem uma versão com maior orçamento de algum personagem da novela "Mutantes: Caminhos do Coração" (2008).
A nostalgia dos anos 2000 acompanha a totalidade da trama. Não só por ser ambientado em 2003, mas também por ser tão mal executado quanto filmes de super herói da época como "Demolidor - O Homem Sem Medo" (2003) e "Elektra" (2005). No entanto, não deixa de ser um enredo que entretém, assim como as duas produções anteriormente citadas.
A direção de S.J Clarkson até tenta dar mais qualidade à trama. Há um bom uso de enquadramentos e efeitos especiais impressionantes também, porém não são o suficiente diante do roteiro picotado de Matt Sazama, Burk Sharpless e Claire Parker.
Madame Teia" (2024)
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