Retratar a Fortaleza da primeira metade do século XX, abordar a existência e a destruição “de uma imponente edificação” que fez parte da capital cearense e contar a história do casal que levou à origem da construção: esses são alguns dos pontos levantados no livro "Castelo do Plácido - Apogeu e Destruição 50 anos depois".
A obra será lançada neste sábado, 24, no Passeio Público, às 11 horas. Escrito pelo jornalista Eliézer Rodrigues, o livro é publicado 50 anos depois da destruição do Castelo do Plácido, palácio erguido pelo comerciante Plácido de Carvalho, que teve importante atuação no cenário empresarial de Fortaleza. Localizado na Praça Luíza Távora, o espaço hoje é ocupado pela Central de Artesanato do Ceará (CeArt).
O interesse do jornalista em escrever o livro sobre a “queda” do Castelo do Plácido está relacionado ao seu histórico de “preocupação com a história dos patrimônios cearenses”, e tudo começou na década de 1980, quando atuou como repórter e, posteriormente, editor do Segundo Caderno, do O POVO.
No período, fazia cobertura dos assuntos culturais da cidade em diversos âmbitos, como literatura, teatro, artes plásticas e música. Eliézer já demonstrava “uma certa predileção pelo patrimônio histórico”.
“Comecei a perceber que Fortaleza não tem uma tradição de preservar os bens patrimoniais. Não existe uma conscientização da sociedade de Fortaleza para preservar a arquitetura e o urbanismo da Cidade. Eu acompanhei a destruição de muitos prédios e questionava os órgãos ligados ao patrimônio histórico. Nunca houve, pelo meu tempo de convivência, uma sintonia dos proprietários antigos com o patrimônio histórico”, relata.
Quanto à história de Plácido de Carvalho, o escritor começou a manifestar o interesse em contá-la em 2019, quando lançou seu primeiro livro, intitulado “A Avenida Santos Dumont no Contexto da Cidade". O Castelo do Plácido consta na capa do livro. Em meio à lembrança dos 50 anos da derrubada da construção, surgiu o interesse em escrever uma grande reportagem em formato de livro sobre a história do Castelo e dos seus personagens.
Para a pesquisa histórica, Eliézer Rodrigues recorreu a jornais que falavam sobre o Castelo quando ele ainda estava de pé e, claro, a publicações que retratassem o período no qual ocorreu a destruição do prédio. Sua intenção era saber “como a imprensa do Ceará se comportou diante da demolição”.
Em sua análise, a imprensa “foi omissa” e não houve um movimento preservacionista do Castelo. De acordo com Eliézer, jornais até colocavam em suas páginas depoimentos de intelectuais, mas eles não questionavam a compra do Castelo para posteriormente ser transformado em um supermercado pelo grupo Romcy.
No livro, Eliézer também aborda a evolução do pensamento do Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional (Iphan) sobre tombamentos de prédios históricos. Criado em 1937, o instituto inicialmente adotou “uma política modernista”, como relata o jornalista. Assim, o interesse era voltar as atenções para “prédios modernos” e não valorizar os antigos.
O Castelo do Plácido reunia diferentes estilos em sua arquitetura, ecoando manifestações clássicas e renascentistas, por exemplo. O Iphan até chegou a mudar sua linha de pensamento na década de 1980 com a valorização do tombamento de prédios antigos, mas, no caso do Castelo, já era tarde demais, pois já havia sido destruído.
Quanto a Plácido de Carvalho, o que se pode falar de sua história? O comerciante, nascido em Canindé em 1873 e falecido em 1935, teve importante atuação no cenário empresarial de Fortaleza. Trabalhou com o pai, também comerciante, e desde cedo desenvolveu seu talento pelo comércio. Inaugurou a loja “Casa Plácido”. Ele viajava constantemente para a Europa no início do século XX para trazer mercadorias e vender em sua loja.
Um dia, conheceu a italiana Maria Pierina Rossi, por quem se apaixonou. Segundo Eliézer, uma “lenda urbana” diz que ele tentou fazê-la morar em Fortaleza com ele, mas a amada só aceitaria caso o comerciante construísse um palácio em sua homenagem. Com isso, ela passou a morar no castelo criado.
Em sua trajetória, também construiu prédios como o Cine-Theatro Majestic Palace, o Cinema Moderno e o Excelsior Hotel, onde passou a morar nos anos finais de sua vida devido à proximidade de atendimento médico para cuidar de sua saúde.
Após a morte de Plácido de Carvalho, Maria se casou com o arquiteto húngaro Emílio Hinko. Ele desenhou e construiu em torno do Castelo seis palacetes para que servissem de aluguel. As construções permanecem na Praça Luíza Távora até hoje. Quanto ao Castelo, ele chegou a ser alugado para uma instituição de saúde pública voltada ao combate à malária.
Maria Pierina faleceu em 1957 e sua filha, Zaíra, vendeu o Castelo ao grupo Romcy. Veio a demolição do palácio para a construção de um supermercado, mas o terreno ficou abandonado. Por causa de dívidas da empresa com o Estado, o terreno foi repassado para o Governo do Ceará, que construiu o Centro de Artesanato Luíza Távora (Ceart).
Questionado sobre a importância de publicar o livro sobre a história do Castelo e de seus personagens no aniversário de 50 anos da demolição, Eliézer responde: “É um registro que não podia passar sem manifestação ou documento. Tentei dar uma colaboração para a história da nossa Cidade”.
Castelo do Plácido