"Aquele que controla a Especiaria, controla o universo". É com essa frase que "Duna: Parte II" tem início. O novo longa do diretor franco-canadense Denis Villeneuve ("Blade Runner 2049" de 2017) é uma continuidade direta de seu predecessor "Duna", de 2021. Inspirado no livro de Frank Herbert, a continuação agora foca em como Paul Atreides se une ao povo nativo do planeta desértico Arrakis, os Fremen, e aprendendo assim seus costumes e como conseguem viver em harmonia com aquele planeta tão complexo. Ao mesmo tempo em que ele pensa como vingar a morte de seu pai, Duque Leto Atreides I, morto no primeiro longa.
Villeneuve sempre deixou claro sua grande vontade de adaptar "Duna" para os cinemas. O grande clássico da ficção científica é uma grande referência do gênero, servindo de clara inspiração para grandes clássicos como a franquia "Star Wars", por exemplo. Porém, em "Duna", a política é muito mais presente na trama como um todo, assim como a religião.
No primeiro longa, a direção trabalha esses dois pontos, porém é em "Duna Parte II" que o diretor e roteirista aprofunda o tema. Começando pela religião, já que Paul é o que podemos chamar de messias para o povo Fremen, o "Lisan al Gaib", algo como "a voz do mundo exterior", aquele que trará a terra prometida. Porém, a direção mostra que até mesmo essa profecia foi algo "plantado" anteriormente e propositalmente, como uma forma de controlar as pessoas daquele planeta que possui a maior fonte de especiaria da galáxia. O que o torna extremamente valioso para as grandes casas que controlam o universo, juntamente ao império, já que a especiaria é o principal combustível para viagens intergalácticas.
Aqui o roteiro e direção deixam extremamente claros os paralelos que isso representa. Já que o povo de Arrakis é representado por povos "muçulmanos", fazendo clara referência à religião do islã, tanto na língua como nos costumes. Mostrando uma claríssima crítica aos governos que invadem os países de origem desses povos em busca de petróleo. Apesar da crítica já existir no livro que dá origem ao longa, Villeneuve consegue dar vida àquelas palavras, nos fazendo visualizar não apenas o "físico" do planeta Arrakis, mas também toda sua cultura, costumes e religião de forma profunda, nos fazendo mergulhar naquele imenso mar de areia.
E é Greig Fraser que nos ajuda nisso. Não falando apenas de Arrakis, que com toda certeza é um espetáculo visual à parte, mas em todas as cenas do longa como um todo. Não utilizando um único recurso em vão, neste quesito. Vale destacar uma cena específica, fora do planeta desértico, onde existe uma utilização da fotografia em preto e branco que é algo que este que vos escreve particularmente, nunca havia visto de forma tão criativa e hipnotizante. Sendo, sem dúvidas, algo que vai saltar aos olhos de qualquer espectador que vá assistir o filme, sendo um grande fã do gênero ou não.
Outro ponto forte desse novo épico de Villeneuve são as atuações. Aqui, Timothée Chalamet consegue trazer um Paul mais maduro e ciente do peso de suas escolhas. Trazendo de forma gradual a linha entre Paul Atreides, o estrangeiro, até Paul "Muad'Dib Usul" Atreides, que é seu nome de Fremen (nome que significa "Aquele que mostra o caminho"). Além de mostrar a enorme evolução do garoto imaturo que ansiava por dar orgulho a seu pai, do primeiro filme, até o líder forte e destemido que se torna ao decorrer do filme. Quase como uma lenda viva dentro daquele planeta. Além claro de todas as outras atuações muito bem desenvolvidas de todo o elenco, como Rebecca Ferguson, que interpreta a mãe de Paul, Lady Jessica, e Javier Bardem, como o nativo e lider do povo Fremen, Stilgar.
Porém, destaque mesmo, para além de Timothée Chalamet, é Austin Butler como Feyd-Rautha Harkonnen, um dos antagonistas do longa. Apesar do pouco tempo de tela comparado ao restante do elenco, Butler é assustador e enigmático, dando vida a esse personagem que com tão pouco se torna extremamente marcante dentro de algo que já orbita o épico.
Além claro do trabalho do já extremamente consagrado Hans Zimmer ("Interestelar", de 2014; "Gladiador", de 2000; "Rei leão", de 1994) na trilha sonora original do longa. Responsável também pela trilha do primeiro longa, Zimmer consegue fazer tudo o que fotografia, atuação e roteiro fazem em tela, porem se utilizando apenas do som. Sendo, sem dúvidas, um dos melhores trabalhos do compositor de toda sua carreira. Algo que definitivamente não é pouca coisa, com vista de seu currículo excepcional quando o assunto são trilhas sonoras.
Com uma ficção científica extremamente madura, que mescla religião e política, enquanto traça críticas importantes a governos imperialistas que se utilizam de seu poder armamentista para invadir e invalidar povos que consideram inferiores, "Duna Parte II" encerra seu primeiro arco de forma magistral, ao mesmo tempo que dá primeiro passo rumo a essa, que pode, ser uma das maiores trilogias da história cinematográfica até então.
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