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"No Ano Que Vem": série com Julia Lemmertz debate etarismo
Vida & Arte

"No Ano Que Vem": série com Julia Lemmertz debate etarismo

Com Julia Lemmertz e Jennifer Dias, nova série do Canal Brasil aborda etarismo, sororidade e maternidade a partir do encontro de duas mulheres com vidas muito diferentes
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Série inédita do Canal Brasil,
Foto: Angélica Goudinho/Divulgação Série inédita do Canal Brasil, "No Ano Que Vem" é protagonizada por Julia Lemmertz e Jeniffer Dias e aborda temas como etarismo, sororidade e amizade

Em uma festa de Réveillon, Ana (Julia Lemmertz) e Bel (Jeniffer Dias) se esbarram no banheiro e se conectam imediatamente. De gerações, culturas e visões diferentes, elas carregam consigo traumas indescritíveis. Separadas temporalmente por 30 anos, logo elas percebem que podem contar uma com a outra para superar barreiras e se redescobrirem.

É nesse contexto que surge a série "No Ano Que Vem", lançada pelo Canal Brasil nesta segunda-feira, 4, e com estreia no Mês da Mulher. Ao longo de cinco episódios, a trama aborda temas como etarismo, crises conjugais, sororidade, relacionamentos modernos e maternidade. Os capítulos são exibidos diariamente às 20h30min. No sábado, 8, além do último episódio vai ao ar no canal uma maratona da produção.

Dirigida pela atriz Maria Flor, a série também conta com nomes como Isio Ghelman, Bernardo Marinho, Duda Batsow, Drayson Menezes e João Oliveira no elenco. Eduardo Moscovis, Georgiana Góes e Erom Cordeiro fazem participações especiais em uma obra composta por equipe 90% feminina.

Depois de se conhecerem no Réveillon, Ana, de 59 anos, e Bel, de 29, voltam a se encontrar dias depois por acaso em um hospital. Enquanto Ana precisa retirar um seio por causa de um câncer, Bel perde um filho que nem sabia que estava esperando. O luto pelas perdas provoca transformações em suas vidas.

Ambas as personagens terminam seus casamentos e procuram se reinventar. De um lado, Ana tenta novas formas de relacionamento após passar a vida em uma relação sem emoções. Do outro, Bel foca em sua carreira e no objetivo de ser uma grande chef após deixar seus sonhos para se dedicar ao namorado dependente químico. Ao longo da jornada, as duas passam a ser porto seguro para confidências e desabafos, fortalecendo a amizade.

"No Ano Que Vem" é um projeto idealizado há sete anos. Entretanto, a iniciativa sofreu atrasos devido a uma paralisação da verba da Agência Nacional do Cinema (Ancine) durante o governo de Jair Bolsonaro. Quando os recursos foram disponibilizados, a pandemia colocou dificuldades para a execução. Assim, as filmagens começaram apenas em 2023.

Com o lançamento após esse período de espera, Maria Flor admite sentir "muita emoção" com a veiculação do projeto. Segundo a artista, ele "foi amadurecendo e se transformando". Inicialmente eram previstos dez episódios e a própria diretora interpretaria uma personagem. Houve alterações também nas características de Bel.

As transformações seguem também o percurso de amadurecimento de Maria Flor como diretora. Sua primeira direção - a série "Só Garotas", de 2014 - tinha uma abordagem diferente, com foco no público jovem e com uma pegada mais cômica. Em 2017, dirigiu a obra "Filme Ensaio", que acompanha o processo de montagem do espetáculo teatral "Nômades", com Andréa Beltrão, Malu Galli e Mariana Lima.

"Essa nova série é uma grande realização. É um projeto mais maduro, no qual sabia mais como diretora o que eu queria esteticamente. Acho que consegui construir nesse projeto o que eu estava pensando. Então, é muito emocionante para mim", relata.

Entre os temas abordados pela produção, Maria Flor destaca como tem interesse pela amizade feminina, pontuando como as protagonistas se modificam ao se encontrarem. De universos e tempos diferentes, elas vivem quase "uma história de amor" ao se transformarem a partir da amizade.

Ela também desejava abordar o mundo das redes sociais e dos aplicativos de encontro, mostrando como essas ferramentas "interferem em nossas vidas". Além disso, questionar visões estabelecidas sobre pessoas mais velhas, como a possibilidade de ter relações sexuais.

O fato de as protagonistas serem de gerações diferentes influenciam no modo como se relacionam, de certa forma. Na avaliação da diretora, a Bel "dá as ferramentas para Ana existir no mundo contemporâneo" ao mostrar que ela pode ter várias relações, pode se encontrar com homens mais jovens e que ela "não precisa namorar nem casar", pode "simplesmente viver como uma mulher independente".

A produção ressalta como os temas são discutidos a partir do olhar feminino. Para Maria Flor, essa característica é muito importante, pois destaca como as mulheres são bastante cobradas em diferentes aspectos - "precisam ser bem sucedidas, boas mães, dar conta da casa e do casamento", como exemplifica.

Tocar em assuntos como o envelhecimento, então, ganha outras camadas: "O envelhecimento para a mulher é muito mais cruel. Nós somos muito mais generosas no olhar para o homem nesse aspecto do que os homens são conosco. As mulheres não podem ter rugas, cabelo branco, seios caídos… Têm que estar a todo momento na busca por uma juventude, que passa - e é bom que ela passe. É bom que nós, mulheres, possamos ter o rosto que temos, que nosso cabelo possa ser branco e possamos buscar a felicidade", analisa.

Em "No Ano Que Vem", a equipe é 90% formada por mulheres. Para Maria Flor, essa presença feminina "faz toda a diferença". Ela caracteriza o set como "muito generoso e amoroso", com um elenco companheiro e harmonioso. Em sua avaliação, havia uma "calma" e, ao mesmo tempo, um "cuidado". Para além disso, eram constantes as discussões para o desenvolvimento das cenas, com trocas de opiniões que resultaram em cenas mais "potentes".

"Várias vezes a Camila Moussalem (diretora de arte) vinha conversar sobre a cena com a Júlia e com a Jennifer. Nós conversávamos. São assuntos que movem nós, mulheres, então era gosto discutir também com essa equipe - não só qual a função de cada departamento, mas a dramaturgia", aponta.

Em 2024, Maria Flor celebra dez anos da sua estreia como diretora. Uma década depois, como definiria sua forma de dirigir atualmente? Para a artista, sua trajetória ainda está em construção. Os dois outros trabalhos em que esteve à frente da direção foram "de muita tentativa e erro" e com um peso menor da função. Agora, ela tem uma compreensão "mais concreta" de seu papel, sabendo que "precisa fazer escolhas" e entendendo o set de uma outra maneira.

"O 'No Ano Que Vem' é um projeto em que estou mais madura. Acredito que entendi melhor a minha função como diretora. Acho que assumi mais isso e me 'autorizei' a ser diretora. É um processo que você vai vivendo", caracteriza.

 

No Ano Que Vem

Quando: segunda-feira, 4, a sexta-feira, 8, às 20h30min; maratona na sexta-feira, a partir das 23h30min

Onde: Canal Brasil

Classificação: 16 anos

Duração: 45 minutos por episódio

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