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Nega Lu relança projeto sobre afrofuturismo e religiões de matriz afro
Vida & Arte

Nega Lu relança projeto sobre afrofuturismo e religiões de matriz afro

Projeto autoral "Minha Ancestralidade", de Nega Lu, Carlos Henrique Freitas e Bruno Brasil é apresentado na Mostra de Artes da Escola Porto Iracema das Artes
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Cantora mato-grossense Nega Lu (Foto: Alan Sousa/Divulgação)
Foto: Alan Sousa/Divulgação Cantora mato-grossense Nega Lu

A frase que inicia esse texto é refrão da faixa de abertura do álbum “Rito de Passá”, da MC Tha. No trabalho, a artista aborda no ritmo do funk as religiões de matriz africana e o afrofuturismo. Algo semelhante ao que faz a mato-grossense Nega Lu em seu projeto “Minha Ancestralidade”, trabalho explorado durante a edição 2023 do Laboratório de Música da escola Porto Iracema das Artes. O resultado será apresentado durante a Mostra de Artes da Escola Porto Iracema das Artes, em 6 de março, às 19 horas no Cineteatro São Luiz.

“Minha Ancestralidade” é uma releitura de uma produção já realizada pela cantora em 2018. “São músicas autorais que compus ao longo da minha trajetória artística, e em 2018 recebi um convite para apresentar esse projeto na mostra de música do Sesc do Mato Grosso”, explica. Havia a intenção de levar o trabalho para outros lugares do País, no entanto, com a pandemia o projeto teve de sofrer uma pausa.

“Decidi então em 2021 me mudar do Mato Grosso para o Ceará, e Fortaleza, dos lugares que eu pesquisei, foi onde me senti pertencente, mesmo sem nunca ter pisado os meus pés aqui”, revela a também compositora, que escolheu fazer morada na Capital após perder a mãe em 2020. O desejo de sair do centro-oeste era um desejo antigo da artista. “Eu queria viver meu luto em outro lugar que não fosse a música. Minha mãe era envolvida com a política, era professora, foi sindicalista, a primeira vereadora negra de Rondonopólis, então precisava respirar novos ares e me reconectar comigo mesma”, diz Nega Lu.

Depois de se instalar na Capital, a compositora tentou a seletiva para o Laboratório de Música da Escola Porto Iracema das Artes.“Mudanças internas aconteceram de 2018 para cá, que se refletiram nos sons desse projeto. Então a proposta foi rearranjar as músicas, as melodias e letras”, relembra. O guitarrista e produtor musical Carlos Maya e Bruno Brasil, contrabaixista e flautista, o baterista Michael da Silva, como convidado, dividiram o processo de revisita de “Minha Ancestralidade”.

“É um projeto de músicas autorais, que fazem parte de mim, das minhas histórias e vivências que são/estão permeadas na minha religião também, eu sou a minha religião, eu sou axé, então vai dialogar diretamente com o meu projeto, ou com qualquer outra coisa que eu venha a fazer, isso faz parte de quem eu sou”, ilustra a cantora.

“Não se desassocia o orì (cabeça) de qualquer outra parte do corpo, não desassocia o meu orì da minha arte. Poder falar do meu amor que é político, que é resistência, que existe, é relevante porque quando eu falo, estou reafirmando pra mim, e estou falando para pessoas que durante muito tempo não escutaram suas histórias sendo contadas por pessoas como elas, que não se sentiam ou ainda não se sentem seguras para expressar sua fé”, completa. “O afrofuturismo para além de se pensar em estéticas, roupas e cabelos, é pensar que a minha música, que a música do meu povo existiu ontem, existe hoje e existirá amanhã”, finaliza.

Para a tutoria, Nega Lu convidou Ellen Oléria, musicista que é uma inspiração para a artista mato-grossense há anos. “Outro grande momento marcante, mulher a qual eu admiro tanto a carreira, acompanho a trajetória e agora teria a oportunidade de conviver durante esses meses de aprendizado, para além das pesquisas ter a oportunidade de dividir o palco com Ellen foi/é transformador”, conta Lu. As duas se apresentaram juntas em dezembro de 2023, onde o projeto foi levado a público para que pudessem receber feedbacks da audiência.

As tutorias ocorreram de modo on-line, já que Oléria mora em São Paulo. Foi a primeira vez da artista brasiliense orientando um projeto. “A distância é sempre desafiadora e a minha passagem foi muito breve. Mesmo assim, poder ver o ensaio dos meninos presencialmente, ver nascer de fato foi muito bonito”, pontua a cantora. “É bem poderoso o modo como o Laboratório é produzido e como ele alcança a comunidade em que está inserido”, afirma.

“De formação sou educadora artística, mas de formação, nunca tive a oportunidade de estar junto de um projeto e acompanhá-lo assim, vê-lo crescer. É muito bonito, fiquei feliz de ser parte desse processo, a Nega Lu é muito generosa, ela vem partilhando seus olhares, as suas canções de um jeito aberto e expansivo, fico feliz de ser parte desse processo”, revela Ellen.

Ensaios do projeto "Minha ancestralidade", com Ellen Oléria e Nega Lu(Foto: Alan Sousa/Divulgação)
Foto: Alan Sousa/Divulgação Ensaios do projeto "Minha ancestralidade", com Ellen Oléria e Nega Lu

“Para além das experiências enquanto artista, Ellen Oléria é sensível demais, quando a vi pela primeira vez tocando e cantando, ela um violão e uma voz absurda fiquei impactada primeiramente, e depois eu pensei ‘poxa, eu também posso’, vi possibilidade no meu trabalho, aquele corpo se parecia com o meu corpo. Mulher, preta, LGBT, com seu violão, do axé, são muitos encontros em um encontro só’, pontua Nega Lu.

A orientação da compositora brasiliense foi fundamental por estabelecer um diálogo entre o “Afrofuturo”, álbum lançado por Ellen Oléria em 2016. “Essa conexão com África em diáspora e com o afrofuturismo, nossa proposta de projeto conversa com essa ancestralidade, com o passado, e atravessa o presente acreditando nesse futuro, caminhamos escrevendo, cantando, que a música preta resiste hoje, pra continuar existindo amanhã, esse é o nosso afro-futuro”, elucida Lu.

A compositora brasiliense trouxe sua perspectiva de produtora para a tutoria, tecendo apontamentos. “Compartilhava caminhos possíveis para materializar os desejos do grupo, eles levantavam o que chamamos de Cozinha (estrutura do som, parte instrumental, bateria baixo, percussão com um link melódico). Eu dava feedback sobre o que escutavam e assim as canções foram renascendo”, explica Oléria.

“Estou com grandes expectativas, o resultado é continuo. ‘Minha Ancestralidade’ não finaliza aqui, não estamos dando um ponto, são reticências mesmo... Estamos construindo e me sinto satisfeita até aqui, satisfeita com o inicio, com o espaço onde pudemos abordar o material, com os colaboradores, satisfeita com a escola Porto Iracema das Artes que possibilitou os acessos”, salienta Nega Lu sobre a conclusão inicial do projeto. “Nego Bispo diz: ‘Nós somos o começo, o meio e o começo, nossas trajetórias nos movem, nossa ancestralidade nos guia’. Seguimos”, destaca.

Além da releitura do “Minha Ancestralidade”, Nega Lu estará lançando um novo EP intitulado “Estéreo”. A produção abordará o amor livre e outras questões que a artista estará divulgando em breve. 

Minha ancestralidade - Nega Lu, com participação de Ellen Oléria e Adna Oliveira

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