Em 22 de janeiro de 1952, o advogado Pedro Wilson Mendes foi assassinado de forma violenta em um tocaia montada pelo "colega" de profissão, Francisco Carvalho Pereira. A morte ganhou repercussão em Fortaleza, local do ocorrido, por se tratar de dois profissionais importantes da Cidade e foi amplamente noticiada pela mídia.
Pedro Wilson, no entanto, já tinha espaço no meio jornalístico antes. Para além de seu trabalho no meio jurídico, realizou uma expedição de Quixeramobim a Canudos, para trilhar, contar e documentar a trajetória de Antônio Conselheiro, com todo o processo sendo publicado por partes no Jornal O POVO.
É com base nas duas narrativas que se estrutura o livro de Mário Mendes Júnior, intitulado "Relatório da Expedição de Pedro Wilson a Canudos e o Romance Histórico Sangue Não Lava a Honra", que será lançado no dia 12 de março, na Casa de Antônio Conselheiro, em Quixeramobim.
Sobrinho e afilhado do advogado, a obra é como um memorial à figura que foi Pedro Wilson, aproximando o leitor de seu trabalho e vida. "Foi como um desabafo. Eu tinha que escrever alguma coisa para a memória dele não se acabar. Porque não se acabou", compartilha em entrevista ao Vida&Arte.
O livro é dividido em três partes, sendo a primeira o relatório. Nela, Mário acessou e escreveu sobre o material produzido por seu tio, estudando-o e analisando-o. Quando Pedro Wilson começou sua pesquisa sobre Conselheiro e Canudos, ele queria ver "o que sobrou depois de 50 anos [do massacre da fazenda de Monte Belo]".
"[Ele] queria ver o que sobrou para que pudesse ajudar no objetivo dele, que era tirar os pejorativos das costas dele [Conselheiro] e o colocar no pódio dos Heróis do Brasil", explica.
A segunda parte traz, em forma de romance histórico, a tragédia que resultou na morte de seu tio. Pedro Wilson foi assassinado a tiros enquanto voltava de uma consulta com seu pai, devido a um desentendimento que tinha com Carvalho Pereira.
A desavença começou por causa de um processo de terras em Baturité, que foi passado de Wilson para o outro advogado. A rixa entre eles foi parar em páginas de jornais, usando o espaço que era destinado a textos sobre o meio jurídico para disseminar ofensas um contra o outro.
Quando Paulo Sarasate levou a questão para Ordem dos Advogados, acreditou-se que a situação havia ganhado uma solução. Mas o tio de Mário já havia sido ameaçado de morte pelo outro causídico, que a cumpriu. O atentado foi presenciado pelo avô do escritor, um senhor de idade que não enxergava, mas escutou seu filho ser morto com os tiros.
O assassinato repercutiu bastante na mídia cearense e assim nasceu a terceira e última parte do livro: um clipping feito pelo poeta Bruno Paulino com matérias de jornais da época que cobriram o caso. O material foi acessado a partir do acervo da Biblioteca Pública do Estado do Ceará (Bece).
Mas todo esse trabalho quase ficou guardado em uma gaveta, pois Mário não pretendia publicá-lo. "Primeiro, não queria gastar dinheiro, porque a pessoa ser um escritor de quase 80 anos — agora tenho mais que isso —, ninguém ia se interessar por esse livro e ia gastar muito", revela.
Cerca de dois anos depois, Bruno Paulino, o poeta que já havia conversado com ele sobre a publicação após uma palestra, entrou em contato e avisou que havia pessoas interessadas na impressão da obra.
Com uma felicidade explícita na voz, ele conta que a "emoção foi aumentando" a cada novidade anunciada, como a data do lançamento da obra. Outra que foi bem recebida foi a notícia que ele havia ganhado o título de cidadão de Quixeramobim, a mesma terra de Antônio Conselheiro.
"Estou feliz e emocionado com a repercussão desse meu trabalho, que é um trabalho muito simples", expõe.
Quando Pedro Wilson morreu, Mário tinha apenas 10 anos. Mais de 70 anos depois, ele consegue, por meio da obra a que dedicou sua energia, manter viva a memória e importância do padrinho.
"Gente de carne e osso como o dr. Pedro Wilson Mendes, amante do povo, deslumbrado por flores, doido por bichos, louco por doidos — entra na memória do povo e não sai… Nunca…", é assim que finaliza o romance histórico Mário Mendes Júnior, em memória a seu tio.
Lançamento "Relatório da Expedição Pedro Wilson e o Romance Histórico Sangue Não Lava a Honra"