A arte é esperança do artista. Em um ambiente onde se espera melancolia, ansiedade e preocupação, a expressão artística surge na contramão trazendo energia vital, paixão e satisfação. Essa é a história do projeto Rim Art, criado pelo serviço de Nefrologia do Hospital Geral de Fortaleza (HGF).
Com quase 23 anos de atividade, o projeto reúne pessoas transplantados e da ala de hemodiálise do hospital para a produção de artesanato, como bonecas, mandalas, porta-retratos, chaveiros, porta-jóias e outros. A iniciativa começou em 2001 como reação aos casos de depressão dos pacientes que estavam em tratamento.
A enfermeira aposentada Suely Freitas, uma das fundadoras do projeto, destaca que sua intenção era criar um grupo ocupacional no hospital que ajudasse os pacientes da hemodiálise a motivar-se naquele espaço. Com muita dedicação e uma pequena sala cedida pelo HGF, Suely acompanhou a vida de mais de 200 pessoas serem repaginadas pelo projeto.
Uma dessas pessoas é Raimundo Nobre, professor de história e de arte aposentado. "Quando eu entrei, estava adoentado sem saber exatamente o que eu tinha, fui internado, fiquei no corredor e deu que era problemas renais. Um rapaz daqui, maqueiro muito amigo meu já me conhecia do meu trabalho com arte e falou para a Dona Suely. Ela me pegou lá, me trouxe para cá e aí eu nunca saí mais", explica.
"Se você soubesse o impacto que ele (Rim Art) causa numa pessoa que sabe que o tempo dela é reduzido… é muito grande na gente. (...) Você tem que construir uma nova história em um novo tempo com novas atividades. Nessa construção, é onde entra o Rim Arte, ocupando, conversando. Ele traz esse sentido", destaca Raimundo, que é transplantado e comparece ao hospital todos os dias de atividade do projeto.
O professor fala orgulhoso de sua especialidade no projeto: as mandalas. Com delicadeza e dedicação, belas peças de arte ganham vida em sua mão. Além disso, o artista dedica-se a diferentes outros objetos de decoração, como jarros e porta-retratos. Um simples papelão descartado vira uma obra com seu manuseio.
Outra participante do projeto é Conceição Farias, que sai da cidade de Itapipoca, onde mora, às 2 horas da manhã para chegar ao projeto. "Eu venho de Itapipoca duas vezes por semana para vir ao projeto. O projeto é tão legal, a gente se sente tão bem, tão à vontade. Aqui é como se fosse uma casa de apoio emocional, assim é o projeto Rim Art, conta.
"Aqui o projeto é muito acolhedor. É uma família, a família Rim Arte. Eu tive ansiedade e começo de depressão, tenho alergia a todo medicamento. Mas aqui no projeto, com o convívio com os participantes, com toda essa família… eu fiquei boa", aponta Conceição, que destaca seus porta-retratos feitos com pedrarias de bijuterias.
Os materiais utilizados pelos artistas do Rim Art tem origem, em sua maior parte, de doações de dentro e de fora do hospital. Pedras, botões, tampas, papel, papelão, retalhos de tecido, CDs, metais no geral… tudo ganha uma perspectiva artística quando recebem a paixão de produzir que as pessoas que estão no projeto dispõem.
Para doar material para a iniciativa, é necessário ligar para o número do hospital (85 34579308) anunciando que fará uma doação ao Rim Art e deixar os materiais endereçados na recepção do HGF.
Mensalmente, as produções do projeto são colocadas à venda em uma feirinha feita pelos artistas do Rim Arte. Metade do dinheiro arrecadado vai para os participantes, a outra metade é reinvestida em materiais específicos para a continuidade das atividades, como cola quente, máquina de costura e enchimento de bonecos. Além disso, é com esse capital que celebrações de aniversário de cada um dos artistas são feitas.
"Por aqui tem o convívio, a amizade e a conversa. Eu recebo muita gente que vem querendo ganhar dinheiro, mas isso aqui é um projeto. O hospital dá espaço, dá os profissionais como eu, que sou enfermeira, dá o assistente social e a enfermeira", afirma Suely, que ressalta a existência do projeto como um espaço social.
Para além das tradicionais oficinas de produção de artesanato, os encontros do Rim Art também promovem jardinagem e passeios pela cidade. Uma das intenções da iniciativa é promover amizades, risadas e novas experiências. A paciente Eliane, uma das caçulas do projeto por estar há menos de um ano como participante, diz que os encontros são a melhor parte de sua semana.
"Aqui é muito bom. Às vezes a gente vem para cá até com algum problema de casa ou por causa dos remédios. Mas a gente chega aqui e começa a conversa e fica melhor. A sala é sempre muito alegre e aqui a gente conversa, aprende e ensina. É muito bom. Eu fico pensando no dia de vir para o projeto sempre", afirma a artesã especialista em bonecas.
Feira de Artesanato do projeto Rim Art