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Com avanço do acesso às telas, universo do brincar sofre alterações
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Com avanço do acesso às telas, universo do brincar sofre alterações

Ao ar livre ou dentro de casa, individual ou coletivamente, analógica ou digitalmente: universo do "brincar" passa por adaptações, mas segue essencial para o desenvolvimento infantil
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Felipe Ponce de Leon é proprietário da loja Eu Quero Saber Brinquedos, em Fortaleza, que vende brinquedos educativos e inteligentes  (Foto: Samuel Setubal)
Foto: Samuel Setubal Felipe Ponce de Leon é proprietário da loja Eu Quero Saber Brinquedos, em Fortaleza, que vende brinquedos educativos e inteligentes

Em 2024, o Dia das Crianças no Brasil completa cem anos desde a sanção do projeto de lei que deu sua origem, em 5 de novembro de 1924. Há um século, as atenções voltadas para as crianças eram diferentes das de hoje. Ao longo do tempo, as compreensões sobre as necessidades das crianças evoluíram - se antes eram vistas como “pequenos adultos”, passaram a ser tratadas como indivíduos com características específicas de suas faixas etárias.

Nisso, também são incluídas a proteção às crianças e a garantia de seus direitos. A Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o dia 20 de novembro como o Dia Mundial das Crianças. A ideia era promover a cada ano “a conscientização e a melhoria do bem-estar das crianças” e, se falamos de direitos das crianças, um dos mais importantes é o “brincar”.

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) diz que a criança e o adolescente têm direito de "brincar, praticar esportes e divertir-se". Afinal, o “brincar” é uma prática que ajuda na socialização e no desenvolvimento de habilidades psicomotoras, cognitivas, físicas e emocionais.

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Com o passar das décadas, brincadeiras se mantiveram e se diversificaram, acompanhando as evoluções da sociedade. Amarelinha, peão, bola, pipa, pega-pega, bonecas de pano, Barbies, carrinhos e videogames são alguns dos exemplos das transformações do "brincar".

Hoje, é fato que as novas gerações estão cada vez mais conectadas às telas digitais, como tablets e celulares. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), o tempo de contato com telas deve ser nenhum em crianças menores de 2 anos e de até uma hora por dia em crianças de 2 a 5 anos de idade. Cada vez mais tecnológico, esse universo requer ainda mais cuidado para que sua execução traga os melhores resultados para o desenvolvimento infantil.

As modificações do brincar

O “brincar” pode ser compreendido, então, como uma cultura que sofre modificações ao longo do percurso, mas que mantém alguns elementos. Essa é a análise de Georgia Toledo, mestre em Psicologia e doutora em Educação Brasileira. Para a especialista, isso se expressa de diferentes formas, como, por exemplo, o “pular corda” utilizado para exercícios físicos, que veio de “uma cultura de brincar urbana e interativa”.

Atualmente professora do Departamento de Estudos Especializados da Universidade Federal do Ceará (UFC), ela também coordena a brinquedoteca da Faculdade de Educação (Faced). Na avaliação de Georgia, modificações no “brincar” ao longo dos anos são benéficas, pois mostram que essa cultura “não é estática”.

Se no tempo dos “nossos avós” as brincadeiras eram com bonecas de pano ou de sabugo de milho, hoje se destacam as bonecas Newborn, caracterizadas pelo realismo que apresentam. Isso se estende para a indústria midiática, que cria desenhos animados (como a “Patrulha Canina”) e seus personagens se transformam em bonecos para serem vendidos pela indústria dos brinquedos. Se antes a força principal era a televisão, hoje há também uma companhia de criações da internet.

“O ‘brincar’ é um espaço de ressignificação onde as crianças pegam regras sociais e passam a pensar nelas a partir desse mundo simbólico, criando um contexto de relações. Elas passam a vivenciar isso. Esse ‘passado, presente e futuro’ se atualiza na ação de ‘brincar’, porque é uma ação feita no presente, com referências de gerações anteriores e com projeções de possíveis modificações futuras na sociedade”, contextualiza.

Como exemplo, cita a Barbie, uma boneca que está “sempre se atualizando” e trazendo referências de projeções da sociedade, como quando foi criada a linha “Barbie Profissões” para sinalizar a presença da mulher no mercado de trabalho. “A indústria do brinquedo se atualiza para oferecer essas referências, mas o ‘brincar’ não vive disso. É apenas o conteúdo. A essência é outra”, opina.

"Fortalecer a cultura do brincar"

Em seu campo de atuação, Georgia ajuda a promover eventos para “fortalecer a cultura lúdica” do “brincar intergeracional” - ela destaca, pois, que o “brincar” não é apenas entre crianças, mas entre pais, avós e amigos. Entre as ações estão a participação em uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) para requisitar orçamento para que bairros de Fortaleza tenham atividades relacionadas ao “Dia Mundial do Brincar”, em 25 de maio, para “fortalecer a cultura do brincar”.

Questionada se existem na Capital equipamentos públicos suficientes que contribuam para brincadeiras de crianças, Georgia indica que não, apesar de locais como o Parque do Cocó e praças que “dão suporte a essas brincadeiras”. “As pessoas precisam entender a importância de frequentar esses espaços e de estar presente com seus filhos em lugares que favoreceram essa cultura”, defende.

Há, porém, uma questão: a violência urbana. Por mais que entenda que a falta de praças e outros equipamentos “nunca foi um problema” para crianças brincarem nas ruas, percebe que a violência tem afastado cada vez mais esse público do contato com atividades ao ar livre, levando-as a uma reclusão que não era observada há algumas décadas.

Nesse sentido, vale perceber como o “brincar” é diferente de acordo com a classe social da criança e com a sua localidade. Se ela mora em um bairro nobre, em um condomínio com piscina e tem videogames, a tendência é que suas brincadeiras sejam diferentes das de uma criança da periferia que não tem acesso a essas estruturas. A alternativa, muitas vezes, é a interação nas ruas.

Presença de outras gerações

Como ressaltado por Georgia Toledo, o “brincar” é uma cultura que pode se modificar ao longo dos anos, mas que segue com sua essência. Além disso, envolve ensinamentos intergeracionais, o que é destacado pela psicopedagoga Thiala Amaral. Ela costuma atender crianças e adolescentes e também orienta famílias sobre maneiras de brincar.

A profissional compartilha casos em que foi procurada por pais para aprenderem a brincar com seus próprios filhos, uma vez que seus pais não fizeram isso na infância. Assim, há um exercício de voltar ao passado, para que indiquem quais costumavam ser suas brincadeiras - na rua ou construindo brinquedos, por exemplo.

Em seu trabalho, Thiala busca também “desmistificar” a análise sobre o brincar, pois ele serve não só para entretenimento, mas para aprendizado também: “Às vezes, as pessoas acham que a criança só aprende com o que coloca no papel. Nós, especialistas, olhamos de outra forma. Para nós, brincar faz toda a diferença”.

Dessa forma, a brincadeira assume um papel fundamental no desenvolvimento infantil: “Às vezes nós já queremos que a criança escreva, mas não que ela rabisque. Ela tem que rabiscar, tem que brincar, tem que desenhar em um local diferente, usar outros recursos como giz de cera e tinta guache. O ‘brincar’ é um elo comum que une as crianças e um veículo para aquisição de novas habilidades”.

Segundo a psicopedagoga, existem brinquedos e brincadeiras específicos que são mais benéficos a depender da faixa etária. De acordo com Thalia, há também cinco níveis “do brincar”: o exploratório, o funcional, o pré-simbólico, o simbólico e o jogo de regras, que vão ser escolhidos de acordo com a idade da criança.

Além disso, destaca que as brincadeiras não se reduzem a brinquedos já fabricados. É possível interagir com a criança adaptando itens já existentes, como construir uma “casa” a partir de uma caixa de papelão ou fazer “massinha” misturando farinha de trigo, sal, água e óleo. O mais importante, assim, é estar presente. “É importante você dispor do seu tempo. Não é sobre o valor financeiro de um brinquedo, mas o tempo de qualidade. Brinquedo nenhum vai substituir a presença dos pais”, pontua.

Brincadeira como terapia

O “brincar” é, sem dúvidas, uma ponte para o desenvolvimento de diferentes habilidades e, como afirma Thiala Amaral, “o elo que une as crianças”. Por isso, é fundamental proporcionar momentos de brincadeiras a todas elas, para que possam se sentir acolhidas e incluídas nesse universo.

A bibliotecária Ananda Escobar, 35, entende que a brincadeira também é uma forma de terapia necessária para sua filha, Nina. Hoje com 2 anos e 7 meses de idade, a pequena nasceu com paralisia cerebral, deficiência na qual a criança tem alterações neurológicas permanentes que afetam seu desenvolvimento motor e cognitivo, causando limitações em atividades do dia a dia.

Ananda Escobar e sua filha, Nina, tem rotina de brincadeiras(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Ananda Escobar e sua filha, Nina, tem rotina de brincadeiras

Nina é acompanhada por profissionais da fonoaudiologia e da fisioterapia. Eles orientam Ananda sobre as melhores formas de estimular o desenvolvimento da filha, sendo as brincadeiras algumas das principais ferramentas.

“Sempre gostei muito de brincadeiras ao ar livre e do contato com a natureza. Com a chegada da Nina e as orientações que recebemos, vamos ajustando a rotina, pensando em brincadeiras na areia, na praia, na água, trazendo bonecas de pano, contação de história, fantoches… Tudo muito palpável”, afirma.

No leque de possibilidades também estão atividades que usem “muitas cores”, pois Nina tem baixa visão, e que também tenham vários sons para estimular sua imaginação. Como compartilha Ananda, “tudo é adaptado” para que a filha possa aproveitar a interação. Ela cita como exemplo ocasiões nas quais apresenta uma boneca para ensinar partes do corpo.

Ananda Escobar e sua filha, Nina(Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Ananda Escobar e sua filha, Nina

A bibliotecária emenda ligas de cabelo umas nas outras e cria um suporte para que a boneca fique na mão de Nina, visto que ela não consegue segurar o brinquedo. O xilofone também entra no universo, por exemplo, quando uma baqueta é presa na mão da pequena para que ela movimente-a e consiga bater no instrumento para, assim, sair o som.

“É um brincar assistido o tempo inteiro, coordenando a movimentação dela, para que, com o passar do tempo, ela consiga fazer sozinha de tanto repetir a brincadeira”, aponta. Ananda também destaca a falta que sente da oferta mais acessível (em quantidade e em preço) de brinquedos mais voltados para a “facilidade de segurar o brinquedo”, como os de madeira. Em sua avaliação, nem sempre os produtos atendem às necessidades.

Brinquedos educativos

Sentimento semelhante foi o do administrador Felipe Ponce de Leon, 47, ao criar a loja Eu Quero Saber Brinquedos, em Fortaleza. Inaugurado em 2017, o empreendimento surgiu quando o proprietário levou seu filho ao pediatra e o viu brincando com brinquedos educativos e em madeira na sala de espera.

Interessado pelos itens, Felipe não encontrava na Capital um lugar para comprá-los, e recebia a informação de que eram trazidos de outros estados. “Eu pensei: se eu tenho essa demanda, então outros pais também têm. O objetivo de criar a loja foi trazer esses tipos de brinquedos para Fortaleza, que são aqueles nos quais o pai e a mãe vão sentar com seus filhos e ensiná-los a brincar. Juntos”, recorda o vendedor.

 

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Desde então, ele comercializa principalmente brinquedos educativos e pedagógicos, evitando os chamados “brinquedos comerciais”, como Barbies e bonecos de super-heróis. Os educativos dão a possibilidade de crianças explorarem e desenvolverem habilidades enquanto brincam com eles. Os pedagógicos são utilizados para o aprendizado da criança, mas é importante a presença ou o acompanhamento de adultos, e geralmente possuem regras.

Para Felipe, a partir da brincadeira a criança consegue se expressar e socializar com outras pessoas, além de poder desenvolver habilidades, como no caso dos brinquedos educativos. Ele cita como exemplo blocos de encaixe, que auxiliam na coordenação motora. Essas são algumas das possibilidades.

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Momentos de troca e conexão

A publicitária Carol Montenegro, 35, acrescenta que as brincadeiras “aumentam a criatividade e a imaginação”. Ela aplica isso em sua rotina ao brincar com sua filha, Maria Helena, 7. Após passar o dia na escola, a criança se depara com atividades em casa com a mãe, como jogos, pintura e a leitura de um livro todos os dias antes de dormir.

Ela explica o que procura transmitir para a filha com esses momentos: “Sou uma mãe que se esforça para brincar. Gosto muito de jogos, pois sempre são atividades direcionadas, com algum objetivo, além de vencer o jogo. Pintar, para ela aprender a ter o pensamento menos acelerado, pois é bem agitada. Brincar de escola, ensinando a ter paciência e lidar com os alunos. Na maioria das vezes, porém, a ideia é ter momentos de troca e conexão entre mãe e filha”.

Carol Montenegro e sua filha, Maria Helena, têm rotina de brincadeiras(Foto: Beatriz Muniz/Divulgação)
Foto: Beatriz Muniz/Divulgação Carol Montenegro e sua filha, Maria Helena, têm rotina de brincadeiras

Nas brincadeiras entram também jogos eletrônicos. Quanto ao acesso às telas virtuais, Carol afirma que, na escola, a filha tem apenas duas aulas com tecnologia digital, então passa o dia sem o contato com as telas. Ao chegar em casa, tem a possibilidade de usar tablet por até 1h30min, mas sempre com supervisão, seja para jogar, ver séries ou filmes.

Mas, afinal, como encara o uso da tecnologia no mundo das brincadeiras? “Acho que é importante mediar, é impossível excluir da rotina, até por conta das trocas sociais que acabam acontecendo na escola. Acho que excluir ou proibir não é o caminho, acaba sendo mais uma demanda materna esse filtro... mas é uma realidade, não temos como fugir", pontua.

Como será o amanhã?

“Lidar com o mundo das telas é uma demanda grande que temos na loja. Os pais chegam aqui e perguntam sobre os brinquedos, porque querem tirar o filho do celular e do tablet”. A fala de Felipe Ponce de Leon vai ao encontro do discurso de Carol Montenegro: sim, o mundo das telas já é uma realidade.

“A tecnologia é uma realidade. Não tem como brigar com isso. A gente tem que se aliar, porque ela faz parte da criança de hoje e vai continuar fazendo parte da criança de amanhã”, destaca Ana Amélia, co-fundadora, junto com Aurélia Picoli, da Play Pesquisa e Conteúdo Inteligente, empresa de pesquisa de mercado e de opinião pública que atende a empresas que têm a família como público principal.

Amélia indica que estudos “futuristas“ apontam que até 2030 uma criança vai alcançar a sua “superioridade tecnológica” com até oito anos de idade, o que demonstra a importância de um olhar cada vez mais atento a esse tópico. Aliás, a tecnologia no universo do “brincar” pode trazer reflexões sobre o futuro, mas também são necessárias análises sobre o presente.

“Hoje, o repertório de brincadeiras das crianças é muito maior do que já foi na nossa infância. A criança tem uma ânsia muito puxada por ser nativa digital e, por conseguir as coisas de uma maneira diferente do que a gente conquistava no nosso tempo, querem as inovações de forma muito rápida”, alega.

Com isso, ela analisa que “a faixa etária da brincadeira está diminuindo”, ou seja, as crianças estão brincando “genuinamente” até os oito anos. Depois dessa idade, ela pode até continuar brincando, mas de outras coisas e menos com brinquedos e dividindo, claro, a atenção com as telas.

Mais criatividade e participação

A diretora comercial da Play aponta outro aspecto chamativo. As crianças de hoje talvez sejam mais criativas que as de gerações anteriores, mas precisam mais de pontos de partida para brincadeiras. “O brinquedo tem que vir com um storytelling para ela um pouco mais pronto e, a partir disso, ela vai trazer a cocriação na brincadeira”, afirma.

Quanto aos papéis dos pais em relação ao “brincar” com as crianças do futuro, Ana Amélia indica que os pais da geração Z (nascidos entre 1995 e 2010) podem ser ainda mais participativos que as gerações anteriores. Ela indica que esses pais vão atrás com mais ênfase no que traz “felicidade” e encaram o trabalho de uma forma diferente, então buscarão passar maior tempo de qualidade com os próprios filhos.

Para Ana Amélia, as tendências do universo do brincar para as crianças do futuro envolvem a “parte da interação”. Ela destaca a importância também de analisar contextos. Há um crescimento da quantidade de filhos únicos nas famílias, e possivelmente isso será potencializado em cinco anos.

A co-fundadora da Play também ressalta que os brinquedos precisam continuar tendo como objetivos o desenvolvimento infantil, para que a criança consiga “se projetar no futuro”. Em sua análise, a tendência é de que a inteligência artificial também passe a fazer parte do universo da brincadeira - cita exemplo de crianças que já pedem de presentes uma assistente virtual como a Alexa, da Amazon, devido à interatividade.

“Eu te diria que administrar isso tudo realmente será um desafio, porque as crianças vão se engajar ainda mais a tudo que trouxer tecnologia”, compreende. Por fim, Ana Amélia destaca a necessidade do equilíbrio dos brinquedos com as telas, para que as crianças sigam desenvolvendo suas habilidades motoras, por exemplo.

O setor dos brinquedos

Segundo Celia Bastos, diretora da Circana (empresa global de data tech para análise do comportamento de consumo), algumas tendências importantes de brinquedos para os próximos anos são a exploração de licenciamento de produtos envolvendo não apenas cinemas, mas streamings e mídias on-line, além de colecionáveis.

Para ela, a tecnologia no mundo dos brinquedos poderá ter um papel facilitador e integrador do entretenimento e da aprendizagem. E quanto a possíveis novas interações? “A tecnologia sempre estará embarcada nos brinquedos, desde brinquedos à pilha, até possivelmente soluções mais recentes, com a IA. O ponto central é o cuidado e proteção em relação à forma que se dará a interação entre crianças e novas tecnologias”, reforça.

Feira de Brinquedos Abrin reuniu mais de 170 expositores para apresentar novidades do setor no início de março
Feira de Brinquedos Abrin reuniu mais de 170 expositores para apresentar novidades do setor no início de março

Feira de Brinquedos

Olhar para o passado, discutir o presente e projetar o futuro: esses foram alguns dos motes da 40ª edição da Feira Abrin, maior feira de brinquedos da América Latina. A partir de mesas-redondas, palestras e produtos, o evento discutiu tendências atuais e futuras sobre temas como inclusão e sustentabilidade no mundo dos brinquedos.

Promovida em São Paulo (SP), a feira reuniu mais de 170 expositores e mais de 1.500 produtos. O Vida&Arte cobriu a programação a convite do evento, realizado de 3 a 6 de março. Além de novidades em lançamentos de marcas, apresentou diferentes formas de proporcionar o desenvolvimento infantil a partir dos brinquedos e como são diversificados os alcances desses itens, envolvendo desde as mais novas às mais antigas gerações.

Exemplo disso é o destaque dado ao mercado dos “Kidults”, formado por adultos que também veem os brinquedos como forma de lazer e buscam “resgatar a infância” por meio deles. Em levantamento feito pela Circana, empresa que analisa comportamento de consumo, os Kidults foram um dos principais impulsionadores de crescimento da indústria de brinquedos em 2023 a nível global.

Um dos dados apresentados pela edição foi o de que a média de lançamentos por ano da indústria de brinquedos, “que vive de novidades”, é de 1.300 produtos. Questionado se há a possibilidade de o “teto de inovações” ser atingido, Synésio Batista, presidente da Associação Brasileira dos Fabricantes de Brinquedos (Abrinq), afirma que “há mudanças o tempo inteiro”, seja na forma de uma boneca se vestir ou na ideia de um jogo de tabuleiro.

No leque de variedades, é preciso incluir também brinquedos inclusivos e acessíveis. A Feira Abrin contou com exposição de itens voltados à brincadeiras, por exemplo, para crianças autistas, com baixa audição, baixa visão ou com déficit de atenção. A Xalingo foi uma das marcas. Um de seus brinquedos, o “Jogo da Memória das Sombras”, é voltado para crianças que precisam ampliar e desenvolver habilidades como concentração, criatividade, memória e autocontrole.

“É um mercado no qual ficamos muito felizes em atender, porque os educadores relataram bastante dificuldade em ter ferramentas para trabalhar com crianças que têm essas necessidades, e agora conseguimos trazer isso”, destaca ao Vida&Arte Rodrigo Ebert Harsteln, presidente da Xalingo.

A sustentabilidade é um dos temas que passam pela marca Eu Amo Papelão. Criada a partir do “sonho de tirar um pouco as crianças da tecnologia e gerar momentos felizes com a família”, a empresa trabalha com produtos feitos de papelão. Além disso, busca estimular a criatividade das crianças.

“Muitas vezes vemos a crianças passando mais tempo no celular do que realmente brincando, interagindo e aprimorando a coordenação motora. Nossos produtos foram desenvolvidos para abordar toda a parte de imaginação e coordenação motora”, alega Diego Araújo, gerente comercial e de marketing da Mazurky, grupo que contém a marca.

Números

R$ 9,8 bilhões é o faturamento previsto pela Abrinq para 2024

1º lugar foi ocupado pelo segmento de brinquedos classificados como relações sociais, com 17% das vendas

13,1% foi a porcentagem de vendas de jogos e bonecas no Brasil em 2023, ocupando a terceira posição

 

Dicas para o brincar

"A família pode tornar o dia a dia das crianças mais divertido e leve através do 'brincar' na rotina. Uma noite do pijama, um filme juntos com pipoca, uma ida à cozinha para fazer um bolo, um jogo de tabuleiro, uma contação de história, são atividades que podem ser feitas juntos. Algo flexível e prazeroso. Um momento de banho com brinquedos, por exemplo. O segredo é observar os interesses da criança, sua motivação e criar as oportunidades dentro da rotina. Permita-se criar conexão com seu filho, ouvir sua criança. E seja exemplo, coloque o celular em um cantinho e desfrute de tempo de qualidade com seu filho. O tempo voa! Ela só vai ser criança uma vez, então crie memórias afetivas e você terá filhos saudáveis e felizes! Nenhum presente ou tela substitui sua presença!", afirma Thiala Amaral.

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