Há 60 anos, uma equipe formada por humanos com mutações genéticas que lhe concedia poderes e guiada por um professor, foi apresentada para os leitores da Marvel Comics. De início, os X-Men — como eram chamados — não foi a equipe mais famosa da editora. Anos depois, contudo, na década de 1980, eles se tornaram o principal grupo de heróis da Marvel, com publicações como "Dias de um Futuro Esquecido" e "Deus Ama, o Homem Mata".
É o gancho desse sucesso que levou, em 1992, o lançamento de "X-Men: The Animated Series", criada por Eric e Julia Lewald, pela Fox Kids. Por cinco anos, até 1997, a animação foi exibida e conquistou o público que já era fã, como também atraiu aqueles que estavam conhecendo a equipe pensada por Stan Lee.
E com todas as alternativas que poderiam ser escolhidas, é com a mesma série, ou mesma premissa, que a Disney, por meio da Marvel Animation, traz de volta os mutantes para as produções audiovisuais.
Intitulada "X-Men '97", a animação estreia nesta quarta-feira, 20, com seus dois primeiros episódios. Ela seguirá os acontecimentos do momento que parou em 1997, continuando os eventos que finalizou o desenho na última temporada — com o professor Charles Xavier em coma — e trazendo a trama do mundo que teme e odeia os mutantes por sua diferença.
Daniel Lima, fã da equipe mutante e da animação, acredita que a escolha de retornar com a animação antiga e sua estética é uma estratégia para uma "aceitação do público" ao clássico uniforme amarelo.
"Também pode ser uma forma de resgatar a imagem tradicional dos X-men como forma de aumentar o hype, explorando novas histórias e dando continuidade àquela que o público conhece", acrescenta.
Entre as colocações sobre a volta dos X-Men para as produções audiovisuais, é que as histórias e os personagens não percam sua essência, apesar das adaptações. Ele também aponta que a animação o "desafio agradar esse público mais antigo e nostálgico e conquistar um público novo e mais jovem".
"O que não é para ser difícil já que os personagens e as histórias são muito ricos, basta termos uma boa direção no cinema", completa.
Pesquisador na área de quadrinhos e em estudos sobre narrativa, o professor Ricardo Jorge afirma que o revival tem duas opções: escolher pela manutenção ou atualização de elementos da obra. Seja qual for escolhido, uma parte do público pode ficar insatisfeita com o que foi apresentado.
"Ou você mantém o mesmo clima da história dos anos 90, que era um outro contexto histórico e cultural, e talvez desagrade uma parte do público de hoje. Ou você atualiza e parte do pessoal vai dizer que está lacrando e desagrada os saudosista que tem uma outra visão dos X-Men", explica.
É importante relembrar que assuntos como a diversidade e igualdade, por exemplo, sempre estiveram presentes e foram debatidos nas mídias dos mutantes. As histórias da equipe costumam abordar temáticas que pautam a sociedade a partir de alegorias.
Em suas primeiras edições, os X-Men tiveram influência do Movimento dos Direitos Civis, que acontecia na década de 1960, e a luta contra a segregação racial nos Estados Unidos. Anos depois, a busca pelos direitos da comunidade LGBTQIA também passaram a ser abordados nas histórias, sendo trazidas em forma de aceitação e igualdade que os mutantes buscavam dentro da sociedade humana.
Ricardo Jorge, também docente do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará, afirma que, ainda assim, é possível manter um equilíbrio entre manutenção e atualização, visando atingir e agradar os dois públicos citados por Daniel anteriormente.
"A questão é se a história é bem contada, se ela faz sentido, se o desenvolvimento da personagem faz sentido dentro daquele contexto", pontua o professor, acrescentando a importância de respeitar o material original e os arquétipos de cada personagem, como Ciclope continuar sendo o bom líder.
Respeitando as narrativas já presentes nas tramas dos X-Men, Daniel corrobora no debate, acrescentando os desejos para o futuro da obra:
"Espero que eles sejam inseridos no MCU de forma inteligente e lógica, mostrando que sempre estiveram lá, no universo deles, mas fazendo analogias com o MCU que já conhecemos. Espero também que novas histórias sejam abordadas".
Ainda não há informação se a animação será responsável pela introdução dos mutantes no Universo Cinematográfico Marvel (MCU), ou sobre sua continuação em outras temporadas — principalmente após a demissão do showrunner responsável Beau DeMayo. Mas aqueles fãs podem mergulhar na nostalgia com a série que está disponível no Disney .
X-Men '97