Sobre o impacto social e as atividades desenvolvidas pelo Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, o Vida&Arte conversou com Rosely Nakagaha, gestora do equipamento, desde seu planejamento.
O POVO - Como foi a escolha de Sérvulo Esmeraldo para ser homenageado com o nome do centro?
Rosely Nakagaha - Essa política é uma homenagem que também existiu nos outros equipamentos inaugurados recentemente, como foi o Museu da Imagem e do Som, que leva o Chico Albuquerque como homenageado. E o Sérvulo Esmeraldo é um artista do Cariri. Ele nasceu no Crato, todo ano tem um festival que homenageia o Sérvulo Esmeraldo, então a gente achou uma justa homenagem. Ele é um artista reconhecido no Brasil todo e merece o nome perpetuado ali no Centro Cultural.
OP - É possível afirmar que, nesses dois anos de atividade do Centro Cultural, houve uma mudança social na região?
Rosely - Essa pergunta é complexa, porque, na verdade, o Centro Cultural vem quase como uma urgência em relação ao que acontece na cultura do Cariri. É um lugar muito rico, com tradição, com manifestação, com formação cultural ancestral, e era quase uma necessidade que o Centro Cultural fosse construído, não só porque existe uma cultura própria que precisa de um lugar para se manifestar, para se encontrar. Os mestres todos têm seus terreiros, mas a consagração e o encontro deles precisa de um espaço a altura. Um espaço de lazer com essa qualidade, segurança, infraestrutura, sombra, árvores, um parque mesmo, verde, era uma necessidade. Então, quando o Centro Cultural foi aberto, que foi entregue no dia 1º de abril, ele foi acolhido já como uma coisa de pertencimento quase que natural, uma decorrência natural por merecimento, digamos assim. Isso faz uma transformação no autorreconhecimento, na valorização de si próprio, mostrando que o que se produz ali é importante, que a universidade também agora tem um lugar para a sua prática.
OP - Na sua concepção, o que uma exposição como a "Encarnar", de Efrain Almeida, representa para o equipamento?
Rosely - O Centro Cultural do Cariri tem como política principal, objetivo, meta, valorizar os artistas e a arte produzida na região. A escolha do Efrain é justamente porque é um artista do Nordeste, que construiu todo o processo artístico a partir da observação do pai dele, um marceneiro, que nunca teve reconhecimento especial por isso. Ele faz no trabalho dele um processo de pesquisa de todos os saberes tradicionais e essa exposição é resultado de três anos de intensa pesquisa, de convivência com os mestres artesãos do Cariri.
OP - Quais são as estratégias para chamar atenção de pessoas de fora para o equipamento?
Rosely - Nós convidamos vários escritores, artistas visuais, fotógrafos, os formadores de áreas técnicas, como o pessoal que trabalha com arquivo, com o restauro de obra de arte, com cenógrafo, bailarino, diretor de teatro. A gente convida muita gente da cidade, da região. Mas também convidamos os de Fortaleza, do Rio de Janeiro, de Pernambuco, da Paraíba, desde que essa pessoa possa ser uma elo de ligação com quem trabalha no Cariri e que possa também ir até Pernambuco, Recife, Fortaleza, São Paulo, Rio de Janeiro, num intercâmbio. E esse intercâmbio não só leva o profissional, como leva toda a experiência que esse profissional tem de vivência na região do Cariri. A gente agora brinca que o Centro Cultural do Cariri é o "Centro Cultural do Quero ir", porque todo mundo que conhece fala: "eu quero ir para o Cariri". Então, sempre que a gente recebe alguém, a gente faz questão de que esse alguém que veio também leve um artista da região. E isso está ajudando muito a tornar visível a produção da nossa região. Isso é mais do que trabalhar só com a difusão na mídia ou no jornal. É uma troca efetiva de saberes, que é uma dinâmica que já acontece no próprio, mas que a gente está agora ampliando para fora do território.
OP - Que relevância o Centro Cultural tem para estudantes do Cariri?
Rosely - Nós temos essa grande preocupação com a formação básica de educação, porque a cultura e a educação são fundadoras de autoestima, de confirmação de valores. Ela é uma complementação da sua formação com caráter pessoal. Esse programa de trazer as escolas não é só para os alunos, é também para a escola, para o diretor, para o professor, para que eles conheçam a nossa infraestrutura de oficinas, de biblioteca, de espaços cômodos para fazer reuniões, para fazer exercício, para dança, para teatro, para que a escola possa adotar o Centro Cultural como formação complementar.
OP - Mesmo localizado distante do centro de Crato, a ocupação do Centro Cultural é gigante. Qual a estimativa de pessoas em um final de semana comum no equipamento?
Rosely - Aos sábados e domingos, a gente fica entre 2 mil e 3 mil pessoas, em média. Ele é bem acolhido, é bem visitado. Logo que a gente abriu, há dois anos atrás, já recebíamos 500, 600 pessoas.