Olhando para outros realizadores do Estado, a Ceará Filmes também representa o anseio de uma potencialização que ela pode significar em suas produções para produtoras independentes menores.
Gislandia Barros, uma das fundadoras da Bom Jardim Produções, espera que maiores recursos possam chegar para as produtoras da periferia, além de um aumento do "número de vagas em cada categoria". "São muitas produtoras no Ceará, e demora para ter um edital específico para o audiovisual, e quando tem as vagas são mínimas e a maioria das produtoras ficam de fora", aponta.
A produtora atua no setor desde 2008 e memora que o investimento e número de editais eram escassos anteriormente, mas que desde de 2020 notou-se um aumento nas políticas públicas de fomento ao audiovisual.
Mesmo com o aumento, ela destaca a dificuldade para a participação de cada edital, classificando-os como "muito burocráticos" e acrescentando que "geralmente os recursos maiores" não vão para "as produtoras de periferia".
"Na periferia tem muita gente fazendo cinema e buscando seu espaço, mas tudo pra cá é mais difícil", sustenta. "É necessário garantir esses e outros investimentos para que as produtoras continuem desenvolvendo seus projetos", completa.
"Temos esperança que com a Ceará Filmes, essa realidade de investimento nas produções de pequenas produtoras, principalmente as de periferia, mude para melhor", revela. "Seria importante um olhar mais sensível às produções periféricas que apesar de não serem produzidas com os mais caros equipamentos, são produções realizadas com muito zelo", continua.
Raylane Neres, da Argumento Produções, compartilha dos mesmos anseios. Fundadora da produtora que se localiza em Meruoca, no interior do Estado, ela espera que a Ceará Filmes represente um apoio durante os processos de filmagem e estruturação de equipes dos projetos audiovisuais.
"Inclusive garantindo a distribuição. Ela pode ser uma distribuidora pública das obras do Ceará, uma vez que a gente tem esse déficit de distribuidoras no Estado", idealiza, acrescentando que pode ser um "ramo de oportunidades para além dos editais", dando mais visibilidade para as produtoras.
Durante o primeiro contato com o Vida&Arte, Raylane também chama atenção para uma possível ausência de produtores do interior nos grupos de trabalhos montados para a pesquisa de desenvolvimento do programa. Ela afirma não saber da presença de realizadores que estejam fora do eixo da capital.“Como vão fazer um levantamento ou elaborar um documento, do qual não tem nenhuma participação do interior? Ou não de uma forma direta”, questiona.
Dias após a entrevista, no entanto, a produtora informou que recebeu o convite para a participação de um dos grupos por parte da Camila Vieira, coordenadora do setor de Cinema e Audiovisual da Secult, e que foi incluída.
Com os caminhos que o projeto está trilhando, a realizadora espera que a Ceará Filmes “saia do papel” e que contribua para o entendimento do audiovisual “como mercado e como indústria”.