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Exposição de obras de jovens do Grande Mucuripe acontece na Bece
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Exposição de obras de jovens do Grande Mucuripe acontece na Bece

|linguagens artísticas| Exposição "Daqui Pra Lá" leva obras feitas por adolescentes da comunidade do Grande Mucuripe para a Biblioteca Pública do Estado do Ceará (Bece)
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Exposição com quatro linguagens artísticas acontecem na Bece (Foto: Divulgação/ Davi Pinheiro)
Foto: Divulgação/ Davi Pinheiro Exposição com quatro linguagens artísticas acontecem na Bece

Desenho, grafite, fotografia e audiovisual — a exposição "Daqui Pra Lá: arte de nós como cidade", do projeto homônimo, apresenta trabalhos nas quatro linguagens artísticas produzidas por adolescentes do Grande Mucuripe. As obras estarão disponíveis para visitação do público até domingo, 5, na Biblioteca Pública do Estado do Ceará (Bece).

Os trabalhos artísticos foram produzidos em 2023, durante o curso "Direito à Cidade", ofertado pelo projeto. Ao todo, 60 jovens, com idade entre 12 a 18 anos, participaram da formação que foi dividida em seis módulos: Direito à Cidade, Linguagem Poética, Desenho, Grafite, Fotografia e Audiovisual.

A culminância do que foi realizado no período do curso está sendo exposta em um dos equipamentos culturais do Estado, a Bece, como previa o II Edital Escolas Livres da Cultura, da Secretaria de Cultura do Ceará (Secult - CE) — que viabilizou a realização da formação. "Desde o início o projeto nasce com esse intuito, de viabilizar essas artes periféricas da nossa cidade", explica Iara Andrade, organizadora do Daqui Pra Lá e fundadora do Instituto Trêsmares, ONG que criou a iniciativa.

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Ela compartilha que o nome dado ao projeto está ligado com as mudanças de moradia que aconteceram no Serviluz, local em que o Instituto tem sua sede. Foi devido à construção de um equipamento que alguns dos residentes precisaram se deslocar para o bairro vizinho, o Vicente Pinzon.

"Com essas mudanças, buscamos elaborar um projeto que pudesse contemplar pessoas que fizeram essa transição de moradia. E por isso esse 'Daqui Pra Lá' — esses dois territórios têm muita ligação nesse movimento de resistência nos espaços de moradia", elabora.

Mas o "Daqui Pra Lá" também está atrelado a outro significado: ao movimento de levar a arte produzida na periferia para outros espaços da Cidade, localizados em eixos mais centralizados e visitados. "Fazemos produções nos bairros (do Grande Mucuripe) e elas vão para o centro da Cidade, que é onde a Bece está", aponta.

Bruno Ferreira, um dos professores do curso, afirma que a visibilidade de uma exposição com obras artísticas da periferia, realizada em um equipamento público do Estado, é valioso para os jovens talentos da comunidade. "Sem contar que é algo muito importante, sair daqui para ser exposto em outro local", pontua.

Sendo um dos artistas do território e conhecido como Jambo, Bruno ficou responsável pelas aulas de grafite do curso. Para ele, a arte é algo marcante. Seu módulo de ensino permitiu que algumas das atividades fossem realizadas na rua, o que tornou a experiência única para os alunos do projeto.

"Aqui no bairro, conseguimos fazer uma pintura em um mural. Cada um fez uma letra, (então) fizemos uma sopa de letras na parede. E as crianças amam, passam pelo local e admiram. Falam para os amigos e família. Você vê que é algo que modificou a vida dele", sustenta, acrescentando que um dia já esteve nessa mesma posição.

O artista celebra a inclusão do grafite no edital que o projeto passou, para mostrar e ensinar aos jovens essa cultura. "As paredes da cidade sempre falam alguma coisa. São expressões artísticas na rua. Foi muito bom ter dado essa aula e mostrar que elas também fazem isso".

Participante da exposição compartilha alegria: "Me senti realizada"

A estudante de Física, Lúcia Ísis Silva dos Santos, de 17 anos, foi uma das jovens que participaram da formação. O conhecimento sobre a realização do curso veio por meio dos colegas da escola em que estudava, já que haviam divulgado na instituição. Interessada por fotografia, um dos módulos disponibilizados, ela foi ao Trêsmares para se inscrever.

"Na verdade, achei que era escolhido apenas uma das categorias e eu fui com a intenção de fazer somente fotografia. Lá eu descobri que não, eram vários módulos", memora, dizendo que a presença das outras linguagens artísticas atraíram ainda mais ela para o curso.

O início não foi fácil, a adolescente se sentiu perdida com os assuntos que estavam sendo apresentados, até mesmo se questionando "o que estava fazendo ali". Foi a atenção e cuidado dos professores durante as aulas que tornaram a experiência confortável para ela.

Além do interesse prévio pela fotografia e audiovisual, a estudante já tinha afinidade com o desenho. Mas foi o grafite que a conquistou durante a formação. "Eu não tinha contato nenhum com o grafite, nem sabia o que era. Depois que pesquisei e fui saber o que era, me apaixonei", declara.

"Tivemos uma aula prática e foi incrível. Era meio-dia, (passamos) um hora no Sol e mesmo assim estava feliz da vida grafitando a parede junto com um monte de aluno", lembra. "Foi uma experiência tão única, eu sentia que (tinha) deixado uma marca ali, registrada", completa.

O "Daqui Pra Lá" deu outra experiência marcante para Ísis: a exposição na Bece. "Me senti realizada, porque nunca imaginei que ia, em algum momento, ter uma exposição com minha coisas e que eu ia poder levar minha família", revela. "Foi incrível toda a experiência, desde o início do curso até o fim, porque pude mostrar para minha mãe o curso e o que eu fazia lá", finaliza.

 

"Daqui Pra Lá" na Bece

  • Quando: terça a sexta, das 9h às 20 horas; sábado e domingo, das 9h às 17 horas
  • Onde: Bece (av. Presidente Castelo Branco, 2555 - Centro)
  • Mais infos: @institutotresmares
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