“Essa cor (vermelho) tem protagonismo, desejo, força, vitalidade; uma explosão, representa a vida. Mas, ao mesmo tempo, é uma cor extremamente frágil, que se misturada a outras cores, se desmancha fácil”, define o diretor Halder Gomes sobre a cor que nomeia e conecta seu novo filme, “Vermelho Monet”.
A produção estreia nesta quinta-feira, 9, e traz como personagem principal o pintor Johannes Van Almeida (Chico Díaz), especialista em arte de corpos de mulheres, que deseja conquistar um bom reconhecimento no mercado — algo que nunca teve.
Quando o artista encontra sua nova musa na atriz estrangeira Florence Lizz (Samantha Heck Müller), que também está em uma crise profissional, a inspiração vem de forma intensa. Mas ele não é o único a ter olhos na atriz. A negociante de arte, Antoinett Léfèvre (Maria Fernanda Cândido), também é atraída por Florence.
A ideia do diretor era trazer um drama “de relações humanas, onde o artista estivesse no pivô desse universo”, assim como também “todas as questões existenciais da arte entre esses protagonistas".
Uma das questões existenciais trazidas pelo cearense é a condição na qual o pintor Johannes se encontra: ele tem acromatopsia, um distúrbio que afeta a retina e interfere a capacidade de ver as cores, causando também sensibilidade à luz e diminuição da visão.
Refletindo um receio do próprio cineasta — que tem medo de um dia não poder mais pintar ou desenhar —, o longa acompanha a urgência e angústia do artista que tem sua doença agravada. “Esse desespero leva ele, inclusive, a buscar outras formas sensoriais dentro do filme”, revela.
O longa traz referências a estilos artísticos, como o Barroco, e simbolismos que marcaram a história da arte. Este conceito que deu ponto de partida para o roteiro veio do interesse pessoal que Halder tem com o universo das artes plásticas. Quando o desejo de se aprofundar no tema “transbordou”, ele decidiu que precisava fazer filmes sobre esse “universo”.
“Tenho muita vontade de colocar na tela outros universos da pintura que fazem parte desse todo, que ainda não é suficiente para esse filme. Quero fazer uma trilogia nas telas, que abordam outros assuntos que envolvam arte”, conta.
Para dar vida a Johannes, Halder escolheu o ator Chico Díaz, um desejo que o acompanhava desde “Cine Holliúdy 2: A Chibata Sideral” (2018). “Estava avançando no roteiro de ‘Vermelho Monet’ e eu (pensei): ‘puxa, o Chico pode ser o pintor’. Mas eu queria ver ele como pintor em uma personagem”, relembra.
Para o próprio ator, foi “uma alegria” ter sido escolhido para o papel de Johannes. “Eu pinto também e ele (Halder) me levar pelos meandros de um pintor foi de uma beleza ímpar”, declara Chico. E completa: “Acho que foi um dos personagens que mais me elevou esteticamente e mais me desafiou para procurar um lugar de verdade no tormento e na beleza que ele carrega”.
Johannes Van Almeida, para o ator, representa bem o lado do ser humano que não é apenas vitorioso ou sempre feliz, indo além ao mostrar um profissional que está em “declínio” e tem a história de amor com sua esposa refletida em sua nova musa.
“Ele tem uma instância humana que me interessa muito em interpretar, que é essa procura por um significado na vida e como representar esse significado”, afirma. “Esse paralelo que conseguimos fazer entre a vida do artista e a necessidade de imprimir expressão, as dificuldades que tem nela, e as realizações — é muito interessante”, continua.
Na visão dele, o ser humano encontra na arte a “verdadeira liberdade e singularidade” de exprimir sua visão de mundo, apesar dos custos que envolve cada um, como o filme representa. “Um cinema mais autoral e pensante”, é uma das formas que Chico Díaz define a nova obra de Halder Gomes. O diretor, por sua vez, corrobora com essa intenção de provocar no público geral reflexões sobre o longa.
“Por mais que ele tenha informações que podem alcançar profundamente um cara que é curador de um museu, ele transita em uma zona onde qualquer pessoa vai assistir, entender, se envolver e fazer questionamentos, porque é um filme que provoca o pensamento”, conclui Halder.
"Vermelho Monet"