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Cannes: as vitórias do Cinema Brasileiro enquadram sua influência no mundo
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Cannes: as vitórias do Cinema Brasileiro enquadram sua influência no mundo

De 1953 a 2019 o Brasil venceu apenas seis prêmios na principal competição da França
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Foto: Vitrine Filmes/DIVULGAÇÃO "Bacurau", filme de Kleber Mendonça foi exibido em Cannes

 

 

"Houve um tempo em que sempre tinha Brasil aqui", disse Werner Herzog em entrevista de 2017 no 70º Festival de Cannes, lembrando para a comunidade internacional que o Cinema Brasileiro se fez presente nas revoluções estéticas vividas de forma coletiva pelo mundo na segunda metade do século XX. Nesse período nossa presença era tão recorrente que o país chegou a permanecer na seleção oficial por seis anos consecutivos. O primeiro prêmio veio em 1953 para “O Cangaceiro”, de Lima Barreto, com o já extinto troféu de “Melhor Filme de Aventura”.

 Cartaz do filme "O Pagador de Promessas", filme que ganhou Palma de Ouro em Cannes                      (Foto: Wikipedia )
Foto: Wikipedia Cartaz do filme "O Pagador de Promessas", filme que ganhou Palma de Ouro em Cannes

A frequência era tamanha que há 60 anos, em 1964, concorriam na mesma edição dois filmes que viriam a se tornar grandes pilares da nossa história: “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, de Glauber Rocha, e “Vidas Secas”, de Nelson Pereira do Santos. Quando Glauber venceu seu primeiro prêmio no festival francês, Melhor Direção em 1969 por “O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro”, disse que a vitória era significativa para “acabar com esse complexo de inferioridade do público brasileiro”.

Exatos 50 anos depois, quando os pernambucanos Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles subiram ao palco do Grand Théâtre Lumière para receber o prêmio por “Bacurau”, em 2019, um deles disse algo parecido: “Somos embaixadores da cultura e merecemos respeito”. Dizia isso no contexto em que Jair Bolsonaro era presidente do Brasil e pouco se importava com o desenvolvimento cultural do país. Uma fala em plena Ditadura Militar e outra em meio a um regime democrático, mas tão parecidas no lamento de um país fechado para consumo em massa de seu próprio cinema.

Em 1962, quando “O Pagador de Promessas” venceu a única Palma de Ouro brasileira até agora, o diretor Anselmo Duarte desfilou com o prêmio na cidade de Santos acompanhado de uma multidão emocionada com o acontecimento. Apesar da alegria, esse prêmio ainda rendeu certa confusão intelectual por aqui porque Glauber, esse líder nato do movimento, jamais aceitaria o filme como integrante do Cinema Novo por seu autor vir das chanchadas.

Fernanda Torres, no filme "Eu sei que vou te amar": prêmio de Melhor Atriz em Cannes(Foto: DIVULGAÇÂO)
Foto: DIVULGAÇÂO Fernanda Torres, no filme "Eu sei que vou te amar": prêmio de Melhor Atriz em Cannes

Em 1986 acontece outro feito brilhante com a vitória de Melhor Atriz para Fernanda Torres, então com apenas 20 anos, no belíssimo “Eu Sei que vou te Amar” de Arnaldo Jabor, um romance esteticamente pouco usual. Foi uma grande surpresa porque “prêmios óbvios” baseados em consenso de público e crítica não são recorrentes em Cannes – em 2016, o júri presidido por George Miller (Mad Max, Furiosa) ignorou a aclamação que Sonia Braga recebeu por seu papel em “Aquarius”. Em 2008, o prêmio se repetiu com Sandra Corveloni por seu papel em “Linha de Passe”, de Walter Salles e Daniela Thomas.

É importante lembrar que o Brasil também foi premiado em importantes mostras paralelas do festival. “A Vida Invisível”, do cearense Karim Aïnouz, emocionou o júri de Nadine Labaki com a história de duas irmãs que se perdem de si, vencendo o prêmio principal da Mostra Un Certain Regard. Sem precedentes, esse feito alçou o filme para concorrer a uma vaga no Oscar de Melhor Filme Internacional e levou Aïnouz a entrar duas vezes na competição oficial – em 2023, com o drama britânico “Firebrand”, e agora em 2024 com “Motel Destino”, thriller erótico gravado em Beberibe.

"Bacurau", filme de Kleber Mendonça, recebeu prêmio em Cannes, em 2019(Foto: DIVULGAÇÃO )
Foto: DIVULGAÇÃO "Bacurau", filme de Kleber Mendonça, recebeu prêmio em Cannes, em 2019

Em 2016, Eryck Rocha venceu o prêmio Olhar de Ouro – entregue ao melhor documentário da seleção – com o “Cinema Novo” justamente por relembrar o movimento no qual seu pai estava não só inserido, mas encravado, e que ganhou grande repercussão mundial por conta do festival francês. Eryk estará presente novamente neste ano com “A Queda do Céu”, filme que codirige com Gabriela Carneiro da Cunha na adaptação do livro homônimo escrito por Davi Kopenawa Yanomami e Bruce Albert.

Há uma tradição protocolar do festival que a produção do evento só convida para a cerimônia de encerramento as equipes dos filmes que serão premiados. Na edição de 2019, o momento em que Kléber e equipe surgiram no tapete vermelho causou grande furor pelas redes sociais, mesmo que quase ninguém ali tivesse assistido ao filme, mas pela certeza de que o Brasil sairia premiado daquela edição. Será que no dia 25 de maio vamos ver Karim subindo as escadas vermelhas?

 

 

O Brasil em Cannes

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