Mario Sanders não é religioso atualmente, mas isso não apaga o catolicismo de sua trajetória — algo que ele próprio afirma. E, como as obras dele carregam a marca de expressar suas vivências e sentimentos, a exposição “Novena — o sagrado e o profano” mergulha na conexão e leituras que o artista tem com a religião cristã.
A montagem inaugura neste sábado, 25, na Galeria Leonardo Leal e fica disponível até o dia 25 de junho. Com bordados, pinturas e instalações de madeira, Sanders leva os visitantes a conhecerem não apenas seu olhar e interpretação sobre a temática, mas também a de outros artistas cearenses, como Arrudas, Gerson Ipirajá e Julia Mareco.
“Quando pensei em fazer a exposição, achei que era pertinente fazer sobre isso porque é um tema que faz parte da minha infância”, justifica ele. Mario nasceu e foi criado em Aquiraz, vivendo com sua família em uma comunidade chamada Tabajara. E assim como o bordado sempre esteve ligado a ele por meio de sua família, o catolicismo também ocupou um grande espaço, com a presença de missas, estatuetas e imagens de santos e as novenas.
“Minha bisavó, junto com uma tia nossa, faziam as novenas no mês de maio. Essas novenas saiam da Igreja Matriz de São José de Ribamar, que fica na praça no Centro de Aquiraz, e iam como cortejo até o Tabajara”, remonta uma parte da relação da família com o cristianismo.
O artista narra que cresceu em “uma atmosfera religiosa”, que o marcaram em dois extremos diferentes: havia a presença da fé, por meio da reza e rituais cristãos, mas também tinha o medo — este que representava o “medo de pecar e a questão de estar sempre (agindo) correto”. “Quando falo que é do sagrado ao profano, é porque tem essa cultura da religião, que é sagrada. E tem o profano, que é onde entram meus questionamentos (que tenho) desde criança”, elabora.
Apesar de trazer a temática das novenas — sendo, inclusive, o que nomeia a montagem —, não se trata de uma narrativa linear desses cortejos. “Ela (exposição) é composta de lembranças e é uma interpretação minha (enquanto) adulto do que era a visão que tinha naquele momento”, continua.
O artista destaca, no entanto, que trazer uma interpretação do que viveu não significa que houve uma volta ao passado durante o processo de criação, já que a conexão com a religião marcou sua cultura. “É muito mais uma percepção”, define. “Não é um documentário, que você retrata tudo direitinho como aconteceu, é uma interpretação livre que eu faço do eu vivi”, completa.
É com essa liberdade de interpretação que outros artistas foram convidados para participarem da exposição. A ideia partiu de Leonardo Leal, dono da galeria onde está a montagem, sugerindo que eles estivessem outras leituras “sobre o mesmo tema”, mas que não envolvessem a infância dele. “O convite foi estendido a pessoas que acreditávamos que pudessem ter uma relação com isso, mesmo concordando ou discordando de alguns aspectos religiosos”, conta.
“Quem for à exposição vai sentir que não é uma coisa linear, é uma história que tá completamente fora da curva; vai entrar na galeria e não vai ter um caminho correto a seguir. E vai ter toda essa pluralidade de linguagens de trabalhos de outros artistas falando basicamente da mesma coisa”, compartilha. Essa é uma característica do trabalho de Mario Sanders, montar seus projetos preocupado com o que deseja, com a história que definiu, deixando em segundo plano a correnteza que guia o mercado.
“Acho que o artista tem que ser verdadeiro. Faço acompanhamento artístico e tenho alunos, e sempre falo para eles: ‘Não sigam tendências, não vão para moda. Contém a história de vocês’. Vai ter gente que não vai gostar e vai ter quem vai adorar. Então conte a história de vocês da forma plástica mais bonita”, aconselha.
Ele reconhece que o comércio é complicado com o trabalho que realiza, mas visualiza uma pluralidade no público que consome obras artísticas, apontando que há aqueles que não querem uma obra para decorar a parede, mas “quer ter uma relação com trabalho”
“Cada trabalho meu tem um história, (mas) eu não me sinto obrigado a contar para ninguém. Eu quero que as pessoas interpretem, tenham suas visões, independente de conhecer arte ou não. Então, minha preocupação hoje é fazer exatamente aquilo que estou com vontade”, conclui.
Novena - o sagrado e o profano