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Ainda existe cena noturna em Fortaleza? Produtores avaliam mudanças de festas e shows
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Ainda existe cena noturna em Fortaleza? Produtores avaliam mudanças de festas e shows

Produtores culturais e proprietários de casas de show se reinventam para atrair público e organizar projetos em novo momento da cena noturna
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. (Foto: julio caesar)
Foto: julio caesar .

Ao longo das décadas, a vida noturna em Fortaleza passou por diversas transformações em relação ao público, ao consumo e aos shows. Após quase três anos desde o fim definitivo da pandemia de Covid-19, pode-se perceber um "clima diferente" na Cidade, seja pelo anseio para recuperar o tempo perdido ou pelo aumento de pessoas que preferem aproveitar de forma mais caseira.

Para alguns proprietários de bares e boates, os primeiros anos após a pandemia foram os melhores em relação à quantidade de público e aumento de eventos. Essa é a defesa de Daniel Meireles, sócio e gestor das empresas do grupo Austin, que administra as casas noturnas Living, Pagode da Diretoria e Austin.

"O pós-pandemia foi muito bom para a gente. Ninguém quer voltar para a pandemia, mas, pudéssemos voltar ao ano pós-pandemia, para o entretenimento, seria maravilhoso", afirma Daniel, que destaca o aumento de frequentadores em seus estabelecimentos.

Ele acrescenta: "Em 2022, foi espetacular. Já em 2023 e em 2024, a gente alcançou um patamar mais adequado de consumo de eventos, mas ainda assim satisfatório". Segundo Daniel, suas casas noturnas precisaram passar por reformulações em relação à divulgação de eventos nas redes sociais.

"A gente se reinventa um pouco na comunicação a cada ano, porque, com as redes sociais, a forma de se comunicar e buscar novos públicos mudou. O público antes usava o Facebook, depois passou pelo Instagram. Hoje a gente tem que estar presente também no TikTok".

Assim como ele, a produtora cultural e DJ Ana Kethlen, conhecida como AK, discute o quanto as redes sociais impactam a organização de eventos. Ela menciona que o Facebook era uma importante ferramenta para mensurar o público nos eventos, pois as pessoas poderiam antecipadamente marcar interesse em uma festa divulgada na plataforma.

"Antigamente, tinha aquela história de confirmar presença no Facebook. Tínhamos como divulgar por lá e já ter uma noção de qual a estimativa de público que a gente teria. Hoje não, a gente faz uma festa sem saber qual a média de pessoas que vai dar", afirma.

AK, que organiza a Festa da Quebrada e já esteve à frente da festa Animals, conta ter uma média de 800 a 900 pessoas por evento. Ela pontua que as pessoas presentes em cada festividade têm comportamentos diferentes daqueles antes da Covid-19.

"O pessoal que está saindo agora é de uma nova geração. Antes, a gente lidava com um tipo de público e, após a pandemia, a gente está lidando com outro. Acontecia algo que não acontece mais: a compra de ingressos antecipados. Agora, não sei se o pessoal ficou com medo do que aconteceu na pandemia, de muita gente perder o valor do ingresso, mas as pessoas passaram a comprar o ingresso mais próximo ao evento. Em uma festa que vai ter uma divulgação de três meses, o pessoal sempre vai deixar para comprar o ingresso na terceira semana próxima ao evento e, principalmente, na semana da festa", explica.

A produtora destaca ainda que, para continuar organizando festas de sucesso na Capital, é preciso estar atento às necessidades do público, que sempre está mudando: "No mundo dos eventos, você tem que estar se renovando o tempo todo para manter o que tem. Você tem que estar se adaptando para as novas pessoas que estão vindo".

AK diz que criou a Festa da Quebrada após a pandemia por sentir que Fortaleza necessitava de eventos novos e diferentes. Ela compartilha alguns dos retornos: "Eu adoro ouvir feedback de todo mundo, para trazer para a minha festa alguma atração que a cidade pede. Algo que eu estou percebendo é que o pessoal está reclamando muito da mesmice, que está rolando sempre a mesma música nos lugares, que está sempre com as mesmas coisas".

Mudança de horários

Para Vládia Soares, proprietária da casa de reggae Deixe Comigo Bar, os últimos anos foram de aumento progressivo de público em seu estabelecimento. Antes da Covid-19, a maioria das pessoas que frequentava seu bar ficavam dispersas pela rua Castro Alves, mas, por decisão da Prefeitura, as suas festas passaram a acontecer dentro do pub.

"Quando voltamos da pandemia, a movimentação retornou por uns três meses e ficou muito lotado, mas depois foi normalizando. Antes da quarentena, a gente já não estava mais fazendo movimentação na rua por conta da fiscalização, por não poder ocupar a calçada", conta Vládia, que destaca que seu bar é uma dos dois únicos locais de música e gastronomia que restaram na rua, juntamente com o Toca do Plácido.

Ela aponta: "Hoje em dia eu sou muito mais feliz porque, naquela época, era a rua aberta, com tudo muito exposto a todo mundo. E agora não, agora, tem um filtro, porque as pessoas pagam R$ 5 ou R$ 10 e podem entrar para curtir, escutar reggae e aproveitar o espaço com tranquilidade".

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Vládia ressalta que o Deixe Comigo Bar é atualmente procurado pelo público como local de "after", espaço de curtição que as pessoas procuram após o primeiro evento da noite acabar. No passado, não havia horário marcado para a casa fechar e as festas no local costumavam durar até depois do amanhecer. Atualmente, a proprietária adotou regras para o horário de encerramento, mas conta que ainda hoje precisa ter que lidar com os "inimigos do fim" em seu espaço.

"Antes a gente fechava de manhã, mas, hoje em dia, eu tenho feito um movimento de tentar trazer a galera mais cedo para cá. Passamos a ter limite de horário pois fica muito mais organizado". Com o atual horário de fechamento às 4 horas nos finais de semana, ela conta que o bar continua lotado: "Às vezes, eu tenho que chegar desligando as lâmpadas e o som, porque, se não, a galera não vai embora. O público não diminuiu por causa disso, mas a galera entendeu que a gente tem um novo horário".

 

Piarata Bar no íncio do funcionamento
Piarata Bar no íncio do funcionamento

Em contrapartida

Enquanto as novas casas noturnas de Fortaleza crescem diante da procura do público por bares, shows e festas, os locais tradicionais entre turistas têm demonstrado perda de público. Para Lissandro Turatti, proprietário do grupo Turatti e da Lupus Bier, existem dois movimentos acontecendo em seus estabelecimentos.

Enquanto os bares da Turatti têm mostrado aumento de demanda, a Lupus Bier não acompanhou os mesmos passos. Lissandro relata que a tradicional casa de humor do Ceará tem sofrido com a diminuição da frequência de turistas na casa.

"A Lupus Bier é uma casa específica de show de humor e tem 20 anos que ela só faz show de humor em quatro vezes na semana. A proposta é mais turística, ela tem um público muito específico, em que praticamente não há cearenses. O cearense vem se for para acompanhar alguém que vem de fora", relata.

O empresário desenvolve: "Existem dois fatores para a queda do público nos últimos anos. Antigamente, Fortaleza estava sempre no auge da divulgação externa, o governo fazia uma divulgação muito forte fora. Hoje, a gente quase não vê. Se existe, não é visível para quem mora aqui".

"A outra razão é que hoje tem muitas pessoas que vêm para o Ceará, mas chegam somente para pousar em Fortaleza e já pegam uma van para as praias. A gente percebe até que vários hotéis na Beira Mar fecharam. Vão construir prédios residenciais porque não têm sustentação", afirma.

Assim como a Lupus Bier, a casa noturna Pirata Bar - também localizada na rua dos Tabajaras - vem sofrendo com a mudança de plateia. O proprietário Rodolphe Trindade conta que o local, fundado há 38 anos, já foi um grande sucesso.

"Antes, você tinha um público que era bem diferente, que consumia muito mais bebidas, que ia até de manhãzinha nas festas", declara. O proprietário declara que as pessoas que chegam em seu estabelecimento atualmente têm um perfil mais "tranquilo".

Ele destaca que tem encerrado sua programação mais cedo em razão dos visitantes: "A gente ficou realmente impressionado com a mudança de hábitos, foi gigantesca. A gente quase era obrigado a botar o pessoal para fora. Hoje, percebo que as pessoas chegam cedo e terminam cedo", destaca Rodolphe.

Ele menciona ainda um problema relacionado com o desprezo do público pelos ingressos das casas de show. "Um grande problema de todo mundo é achar que o ingresso não vale nada. 'Por que eu não posso entrar de graça?' É como pedir para um dentista fazer um canal de graça, os eventos têm um preço para acontecer".

Outro grande estabelecimento que depende do fluxo de turismo no Ceará é o Chico do Caranguejo, administrado por Francisco Lourenço. Ele conta que, depois da pandemia, seu público diminuiu cerca de 30% a 40% no turno da noite.

"Depois da pandemia, ficou muito difícil, tem muita gente que perdeu muitas coisas. E nós sentimos essa queda aqui mesmo. Por exemplo, nas altas estações, antes da Covid, dava o horário de 20h30min, 21 horas, e eu fechava a porta para não entrar mais ninguém, porque o espaço nem suportava. Desde o retorno da quarentena, nós não tivemos mais uma superlotação por aqui".

"O pessoal hoje em dia está bebendo menos, comendo menos, todo mundo mais mão fechada ali. Antigamente, você olhava uma mesa com uma caixa de cerveja, cheia, mas atualmente isso caiu quase para a metade. O pessoal não quer gastar, não chegam mais exagerado", finaliza.

 

Deixe Comigo Bar funciona até às 3 horas na semana e, até às 4h, no final de semana
Deixe Comigo Bar funciona até às 3 horas na semana e, até às 4h, no final de semana

Para madrugar

Deixe Comigo Bar

Onde: rua Castro Alves, 520 - Joaquim Távora

Quando: quinta e sexta, das 21 às 3 horas; sábado e domingo das 21 às 4 horas

Mais informações: @deixecomigobar

Bar do Vinil

Onde: rua Vasco da Gama, 920 - Montese; av. Humberto Monte, 2535 - Bela Vista

Funcionamento sede Montese: sexta e sábado, das 20 às 7 horas

Funcionamento sede Bela Vista: quarta a domingo, das 17 às 6 horas

Mais informações: @bardovinil

Toca do Plácido

Onde: rua Castro Alves, 503 - Joaquim Távora

Quando: quarta a sábado, das 19 às 4 horas

Mais informações: @placido_toca

The Lights

Onde: av. da Universidade, 2322 - Benfica

Quando: sexta e sábado, das 22 às 4 horas; domingo, das 17 às 23 horas

Mais informações: @thelightsbar

Opah Bar

Onde: rua Dom Joaquim, 177 - Centro

Quando: todos os dias, exceto terça, das 18 às 5 horas

Mais informações: @opah_oficial

Boteco do Lee

Onde: rua Ana Bilhar, 1460 - Varjota

Quando: sexta e sábado, das 17 às 3 horas; demais dias, das 17 às 2 horas

Mais informações: @botecodolee

Yolo Club

Onde: rua Perdigão de Oliveira, 657 - João XXIII

Quando: quinta, das 19h30min a 1h30min; sexta, das 22 às 4 horas; sábado, das 22 às 5 horas

Mais informações: @yoloclubbrasil

Boteco do Robertinho

Endereço: rua Antônio Augusto, 638 - Meireles

Quando: terça a sábado, das 17 às 4 horas; domingo, das 17 às 5 horas

Vibe 085

Endereço: rua dos Pracinhas, 937 - Benfica

Quando: sexta e sábado, das 19 às 4 horas; domingo, das 20 às 2 horas; terça, das 19 a 1hora

Mais informações: @vibe085pub

Caribe Bar

Endereço: rua Frederico Borges, 430 - Varjota

Quando: todos os dias, de 22 às 7 horas

Mais informações: @caribebarerestaurante

De Vóisse Bar

Endereço: rua dos Pracinhas, 937 - Benfica

Quando: terça a domingo, das 19 às 4 horas

Mais informações: @devoisse

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