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Cena do filme
Foto: StoryKnight/Divulgação Cena do filme "Como vivem os bravos", da produtora StoryKnight

E se olharmos para o interior do Ceará, como o problema de distribuição acontece nesta região? Daniell Abrew, da produtora StoryKnight, localizada em Quixeramobim, aponta que há “diferenças marcantes entre a capital e o interior”, como infraestrutura e o acesso do público às produções. “Fortaleza possui uma maior concentração de salas de cinema, além de centros culturais e festivais que promovem a exibição de filmes, tanto nacionais quanto internacionais”, inicia.

Continuando em seguida: “ No interior a oferta de salas de cinema é significativamente menor. Em muitos municípios, especialmente nos de pequeno porte, não há cinemas comerciais, o que limita o acesso do público a novas produções, sejam elas de âmbito nacional ou regional”.

O domínio do mercado exibidor cearense por grandes redes de cinema também dificultaria o acesso de produções locais e regionais às salas de cinema existentes no Estado, pois elas “tendem a priorizar lançamentos de grandes estúdios”, reduzindo a “visibilidade das obras” produzidas pelos menores ou independentes.

No interior, que tem uma quantidade menor de salas, a exibição das obras locais “depende de iniciativas alternativas como, por exemplo, cineclubes, festivais itinerantes e eventos culturais organizados por prefeituras”.

“Muitas vezes, após uma estreia num festival ou numa exibição pontual em cinema local, não há uma estratégia de continuidade para que essas obras alcancem um público mais amplo. A exibição acaba sendo restrita a eventos especiais ou a um público específico que tem acesso a esses festivais, dificultando que a obra chegue ao cotidiano das pessoas”, arremata.

Raylane Neres, da Argumento Produções, localizada em Meruoca, traz também que há uma diferença no volume de produções entre Fortaleza e demais regiões do Estado, para além da quantidade de salas disponíveis. Outro ponto é o trabalho de distribuição que as produtoras assumem por conta própria.

Sua produtora, por exemplo, atualmente está distribuindo um filme que finalizou a produção, um documentário sobre rezadeiras no interior do Ceará. “Nossa distribuição é exibir o filme para as comunidades. Estamos retornando as cidades onde foram gravadas (as cenas), indo aos cineclubes, indo aos espaços que as cidades têm, que às vez é um auditório, uma sala de universidade, ou só a praça e fazendo a exibição da obra”, elabora.

Geralmente, quando essas obras chegam até Fortaleza, são para salas de equipamentos públicos, como o Cineteatro São Luiz, mas “ainda com dificuldade”. “Mesmo que a Secretaria de Cultura do Estado tenha dado essa abertura para todos os realizadores audiovisuais, disponibilizando esses espaços públicos que ela gerencia, ainda há dificuldades, (como) de articulação de público”. afirma.

“Porque é um filme vindo do interior, né? As pessoas ainda tem muito preconceito com muitas questões, mas a isso (ser do interior) também”, desabafa.

O debate sobre a distribuição é constante, não se restringindo a apenas uma região do Estado — “quais espaços as produtoras do interior têm para exibir suas obras?”. Daniell Abrew propõe duas soluções. Uma delas é o desenvolvimento de uma plataforma de streaming cearense, para que elas as produções continuem acessíveis ao público. “Poderia ser uma vitrine para as nossas produções, permitindo que o público do estado e até de fora dele tenha acesso a esses conteúdos”, defende ele.

Também argumenta para a construção de pequenas salas de cinema públicas ou reativação de espaços culturais em cidades do interior. “ Essas salas poderiam funcionar com um circuito de exibição diferenciado, com foco em obras locais e regionais, além de produções de menor orçamento que não chegam ao circuito comercial tradicional”.

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