A música sempre esteve presente na vida do cantor pernambucano Martins. "Tive uma relação muito bonita com a música desde muito pequeno. Comecei a tocar violão com 12 anos porque vi a minha avó cantar em casa. Ela tem a voz belíssima, eu admirava aquilo e achava muito bonito", relembra o compositor, que realiza um show em Fortaleza com Almério e a Orquestra Sintonia Nordestina nesta quinta-feira, 21, como parte da programação do 7º Festival Acordes do Amanhã.
No entanto, a literatura popular foi o que intensificou a conexão de Thiago Emanoel Martins do Nascimento, nome de batismo do também tocador de rabeca, com a arte. "A literatura dos cantadores de viola, dos emboladores de coco", ilustra.
O multiartista participou de um festival de literatura em Recife aos 18 anos, no qual ganhou o primeiro lugar. "A possibilidade de estar no palco, de estar declamando e tendo uma relação com o público, me deu muito fascínio. A partir desse momento, eu vislumbrei a possibilidade de começar a trabalhar com arte, de um modo geral", rememora Martins, que já foi gravado por grandes nomes da música brasileira como Ney Matogrosso e Simone.
"Eu já tocava um pouco de violão e fazia algumas canções, mas muito como um abrigo, brincadeira. A partir do momento que descobri que em Pernambuco, em especial na cidade do Recife, acontece um movimento muito importante para a música brasileira chamado manguebeat, eu pensei que poderia ser possível me relacionar ainda mais com a cultura da minha cidade", desenvolve Martins.
"Eu comprei uma rabeca, instrumento muito especial utilizado nas manifestações de cultura popular do estado de Pernambuco, como Cavalo-Marinho, que é um espetáculo de teatro de rua com música, dança e poesia", detalha o músico, que desde o contato com a rabeca, compôs mais músicas e decidiu montar sua primeira banda, a Sagarana.
Antes de resolver seguir como cantor solo, o pernambucano ainda criou a banda Marsa. "Encarei uma carreira solo e me coloquei neste lugar de compositor e intérprete. O lugar de compositor é onde eu me sinto imensamente confortável e o meu canto vem para defender essas canções que gosto de fazer".
O artista se interessa principalmente pela poesia presente nas canções, muito focado "na ideia do cancioneiro popular". "Estou atento aos estilos e às formas populares da música brasileira. Então, a minha canção está no ijexá, no forró, enfim, todas essas linguagens que compõem a estrutura da música popular brasileira".
Embora reconheça seu apego a MPB, o recifense manifesta desejo em explorar gêneros de outros países, como a morna, de Cabo Verde. "Lembra muito a linguagem das coisas desenvolvidas no Brasil, tenho ouvido bastante com muita empolgação e entusiasmo. Em algum momento penso em compor alguma coisa nesse estilo e prestar essa homenagem para esse lugar tão especial", diz o artista, que tem ouvido músicas de Mayra Andrade, expoente do gênero.
"Me movimento dentro desse contexto da música, mas observo e tenho outros interesses também, por outras linguagens. Sou uma pessoa que tem uma cabeça muito aberta e que gosta de conhecer novidades", salienta Martins. Para o compositor, o desafio central é se manter coerente e atual, diante das "demandas do nosso tempo".
"Nasci nos anos 1990 e, de lá para cá, muita coisa mudou. É outra geração, outra forma de ouvir e entender música. Tento sempre estar acompanhando essas novas formas, esse novo olhar", explica o cantor, que acumula 16 anos de carreira.
Para 2025, Martins está trabalhando em um projeto novo, um disco ao vivo onde cantará as músicas que o acompanharam na juventude e ainda fazem parte de sua vida adulta. "Como eu faço muitos vídeos cantando essas canções e posto nas redes, o meu público começou a me pedir, quase exigir que eu fizesse um disco cantando essas canções".