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Metas: a tradição do planejamento
Vida & Arte

Metas: a tradição do planejamento

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Tipo Notícia

No Ano-Novo, as tradições podem ir de escrever sobre os últimos 365 dias a comer uvas nos momentos finais para a virada. Há, entretanto, uma tradição quase universal, que percorre os imaginários e nem sempre são explícitas: a de traçar metas para o ano seguinte.

Os planejamentos variam, mas geralmente visam melhorias individuais. Afinal, a passagem do ano "foi tomando uma simbologia de recomeço" com a consolidação do calendário cristão, como destaca a psicóloga e psicanalista Gladys Pontes.

"O fim do ano também costuma coincidir com o final do calendário letivo nas escolas e com o gozo do recesso em alguns empregos. Para muitos isso se caracteriza como a conclusão de uma etapa, sendo o início do ano uma oportunidade de realizar tarefas pendentes, bem como começar novos projetos", explica.

A profissional pontua como as metas são importantes para as pessoas se avaliarem quanto a planos de vida, desejos e para onde se está indo. Não há necessariamente relação com ambições ou conquistar grandes feitos, "mas de entrar em sintonia com os próprios desejos e a construção de um projeto de vida singular".

Gladys Pontes indica alguns passos que podem ser seguidos para quem deseja estabelecer metas. Primeiramente, é importante "esquecer as receitas prontas e os famosos 'dez passos para o sucesso'", pois cada sujeito é único e as metas precisam ser alinhadas com as realidades individuais.

Há, por exemplo, pessoas que estabelecem a meta de "ler certa quantidade de livros por ano", mas o objetivo é incompatível com a rotina de trabalho e os dias de folga acabam sendo preenchidos por atividades domésticas. Dificilmente elas têm o mesmo desempenho de leitura de alguém com mais flexibilidade. É relevante se questionar se, nesse caso, as leituras estão conforme o interesse pessoal ou só está fazendo porque disseram ser importante.

"É essencial se perguntar o motivo da sua dificuldade em realizar as tarefas envolvidas no cumprimento das metas. Esse tipo de pergunta pode ser adaptada para outras metas estabelecidas e que você encontra dificuldade de cumprir. Assim, conseguimos elaborar metas realistas e condizentes com desejos individuais, evitando as armadilhas da frustração. Não se esqueça, ainda, que o descanso e o lazer são tão importantes quanto o esforço desempenhado na realização das metas", enfatiza.

Metas também podem organizar emoções

As metas podem auxiliar no bem-estar caso sejam reflexo de desejos particulares, pois a saúde mental também se relaciona com atividades capazes de conectar os sujeitos com seus interesses pessoais e registros de vida. O registro gráfico também permite ser visualizado e revisitado o que muitas vezes é apenas uma ideia.

"Por outro lado, se as metas são genéricas e baseadas em convenções sociais, existe o risco de fazerem o efeito contrário: gerar sentimentos como culpa, decepção, fracasso, comparação, etc. Isso, com certeza, não é sinônimo de saúde mental", acrescenta.

O psicólogo Rubens Meneses concorda com o apontamento de Gladys e destaca: "Saber o que quer é tão importante como saber o que não quer". Ele enfatiza ser fundamental estabelecer metas e objetivos "diante do desejo de mudança", ainda mais em um período como o Ano-Novo, "visto pela nossa sociedade como uma nova oportunidade de recomeçar".

Como dicas nesse processo, ele sugere tanto reconhecer os limites quanto definir objetivos claros e específicos. Além disso, é importante ter "consciência e maturidade acerca dos possíveis percalços que possam surgir", fazer terapia, atividade física, comemorar suas conquistas e ser realista.

"As metas devem ser divididas em curto, médio e longo prazo. Organizar e separar as metas que podem ser conquistados em um curto prazo daquelas que precisam de mais tempo para se alcançar evita frustrações e desmotivação", esclarece o psicólogo. "Organizar as metas é também uma forma de organizar as emoções. A terapia é um espaço favorável para esse processo", finaliza.

 

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