Logo O POVO+
O papel da agenda cultural como força motriz dentro do jornalismo
Vida & Arte

O papel da agenda cultural como força motriz dentro do jornalismo

Especialistas debatem o papel da agenda cultural dentro do jornalismo cultural como principal força motriz dessa prática
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
FORTALEZA-CE BRASIL, 14-10-2024 Workshop Guia Vida&Arte os bastidores do jornalismo cultural e a importância de ocupar a cidade  Joao Filho Tavares O Povo) (Foto: João Filho Tavares)
Foto: João Filho Tavares FORTALEZA-CE BRASIL, 14-10-2024 Workshop Guia Vida&Arte os bastidores do jornalismo cultural e a importância de ocupar a cidade Joao Filho Tavares O Povo)

Os eventos culturais que acontecem localmente são pauta desde os primórdios do próprio Jornalismo Cultural, segundo o autor Daniel Piza no livro “Jornalismo Cultural”, publicado em 2004. Inicialmente a cobertura se restringia somente a resenhas críticas sobre peças teatrais, livros, exposições entre outros.

Com o passar do tempo a programação de quando tais obras aconteceriam também passou a ser pauta. Não à toa, a agenda cultural cearense marca presença nas páginas do Vida&Arte, quer seja diariamente com a Vumbó ou todas às quintas-feiras com o Guia. Para além do espaço no impresso e no digital, os produtores de eventos pleiteiam espaço no perfil do caderno no Instagram.

Nesta sexta-feira, 24 de janeiro, o V&A celebra 36 anos de existência - com coberturas e proposiões na agenda culturall da Cidade. Abordamos na edição de quarta-feira, 22, os desdobramentos sobre o impacto do que escrevemos. Nesta sexta-feira, 24, vamos falar sobre as ligações de jornalismo e gastronomia.

LEIA TAMBÉM | Vida&Arte 36 anos: Há utilidade no jornalismo cultural?

Estar presente nas páginas do V&A é relevante para Paulo Feitosa, sócio-diretor da Quitanda Soluções Criativas, para que os eventos atinjam públicos distintos e as pautas aprofundem o assunto para além do serviço informativo. “É importante para que outras plateias sejam informadas não apenas com um serviço de um evento, mas também com os temas, debates e provocações presentes em cada projeto”.

Para a pesquisadora Ana Cláudia Peres, estar no jornal impresso com sua programação ajuda “com a ilusão de colocar uma certa ordem no mundo”. “Talvez porque a disputa de narrativas e de interesses se dê também nesse espaço. No momento em que somos assustados pelo enorme poder dos homens que comandam as big techs, como ficou claro nos últimos dias, os cadernos diários de jornalismo cultural – inclusive, em seu espaço destinado à agenda – tem enormes desafios”.

“Entre eles, o de exercer uma posição menos tímida e mais propositiva diante dos produtores culturais e da chamada ‘indústria do entretenimento’. Até porque a relação é sempre dialógica (e não de subserviência) entre quem faz (e promove) a cultura e quem faz (e promove) o jornalismo cultural”, argumenta a também professora do curso de Jornalismo da Universidade Federal do Ceará.

A fluidez da área cultural demanda uma maior atenção da imprensa na interação entre agentes culturais e os leitores.“O campo cultural é muito efervescente e dinâmico e, por isso mesmo, é fundamental o olhar atento da imprensa na mediação entre os múltiplos atores da produção cultural e o grande público”, destaca o produtor cultural da agência de impacto social que está ativa desde 2007.

Ana Cláudia também chama atenção para o que a cobertura da agenda cultural diz sobre os fenômenos sociais locais. “Mas o fato é que, ao propor para o seu leitor um recorte dos eventos ofertados na cena da cidade, um jornal também está revelando olhares sobre comportamentos e tendências”.

“Mais do que um guia de programação que ajuda a orientar o leitor – e se fosse apenas isso, já seria importante, ressalte-se –, a agenda cultural é também um retrato de uma sociedade, uma tribo, uma bolha. É por isso que, quanto mais plural esse jornalismo conseguir ser, mais afinado estará com as dinâmicas da vida contemporânea”, aponta a também a docente.

A viabilidade do acesso à cultura por meio dessa cobertura jornalística, é o que destaca o V&A, de acordo com Paulo. “A imprensa, principalmente veículos que mantém equipes fortes para a cultura, a exemplo do O POVO, tem conseguido garantir a democratização do acesso à cultura, driblando dificuldades de uma comunicação mais institucional que, muitas vezes, não consegue abarcar tudo e chegar com linguagem direta na ponta”.

Por isso, para Ana Cláudia, o jornalismo cultural e a agenda não pode ser vistos como inferiores dentro e fora da categoria. “Não à toa, os cadernos de cultura costumam reservar espaço generoso para a programação semanal. Há veículos inclusive que mantêm cadernos especiais voltados para a agenda do fim de semana – caso do RioShow, no O Globo, ou do próprio Guia Vida & Arte, das quintas”.

“A única ressalva que faço é que esse espaço não sirva apenas ao propósito de divulgar eventos (inclusive, muitas vezes, sem filtro jornalístico)”, continua a especialista. “É importante desbravar a cidade em busca de uma agenda que não se limite aos grandes espetáculos, ao que lhe chega por meio de assessorias ou ao que está visível na cena da cidade”, exemplifica Ana Cláudia.

Paulo Feitosa salienta que o diferencial na cobertura de veículos impressos está na qualidade da informação transmitida.“Apesar de termos hoje muitos canais de comunicação com as redes sociais, a cultura segue precisando de conteúdos bem apurados e que sejam produzidos com o compromisso em ir além do raso”, reitera o também doutorando em Ciências da Cultura pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

“Um evento cultural carrega muitos sentidos e é gratificante ter uma elaboração jornalística complexa e completa”, elucida o produtor cultural graduado em Publicidade e Propaganda. A pesquisadora Ana Cláudia reitera que a cobertura não deve se limitar somente à divulgação dos eventos na Cidade.

“É preciso voltar a eles e fazer a cobertura desses eventos à medida do possível, com um olhar atento e crítico. Dar retornos para o leitor, fomentar o debate em torno da programação divulgada, tomar o serviço como uma via de mão dupla”, explica a também doutora em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense.

“Tudo isso deixa esse tipo de conteúdo mais dinâmico. Ou seja, a agenda cultural, no jornalismo, deve ser tanto sobre o que está em cartaz quanto sobre o modo como o público acessa esses eventos”, finaliza a professora.

O que você achou desse conteúdo?