Um dos nomes mais importantes da literatura nacional, Marina Colasanti morreu nesta terça-feira, 28. A escritora de 87 anos deixou como legado mais de 70 títulos públicados - entre poesias, contos e literatura infantil e infanto-juvenil - além de prêmios recebidos. Natural da Eritreia, pequeno país da África Oriental, Marina nasceu em 1937. Morou com a família na Líbia e na Itália antes da mudança para o Brasil, onde viveu até o dia de sua morte, no Rio de Janeiro.
O escritor Mailson Furtado lamenta a partida afirmando que "sempre que um poeta ou artista parte, fica aquele sentimento de vazio". "Por ser essa pessoa, esse profissional, que cria, que fecunda espaços. No momento que uma poeta desse tamanho parte, esse mundo fica um tanto menor e buscando esses espaços construídos por ela".
O velório está previsto para acontecer das 9h às 12 horas desta quarta-feira, 29, no Rio de Janeiro. Até o fechamento desta matéria, a causa da morte não foi divulgada.
Mailson lembra a importância de Marina para a literatura, ressaltando que ela vem de uma geração "onde há um primeiro espaço" para uma produção feita por mulheres, fazendo parte de um panteão de escritoras como Hilda Hilst, Clarice Lispector e Adélia Prado.
"Ela é muito importante dentro desse cenário de abrir espaço para mulheres, para literatura feminina, no Brasil, trazendo essa voz. Além de trazer uma poesia muito particular, densa. E em várias frentes: desde a erótica, indo para uma pouco mais lírica, não deixando de ter a crítica social ali também", aponta o escritor.
A autora Argentina Castro lamenta a morte de Colasanti e enaltece a obra: "o mundo sempre ganha quando uma mulher se coloca no mundo artisticamente e, em especial, através da arte literária. Afinal, temos um olhar único sobre a vida, e a literatura nos diz da vida. Do mesmo modo, o mundo também perde muito quando uma de nós deixa de existir e, portanto, de produzir belezas".
Mas, para Argentina, um escritor nunca morre, se mantendo vivo "entre as palavras e páginas de seus e livros, nas memórias de seus leitores; na forma como constrói e inspira narrativas, no modo como passamos a pensar e sentir depois da leitura de um bom texto ou livro".
"Não fica o vazio da morte, fica muita riqueza na vida. Que seu espírito receba de volta todo o afago que deu ao escrever", diz Argentina. O sentimento que fica para Maura Isidoro, orientadora da Célula do Livro, Leitura e Literatura da Secult, é o "impacto da despedida", mas é amparado pela "memória, força e coragem de Marina, que com seu trabalho ofereceu possibilidades para outras mulheres". "Então, o sentimento é de gratidão, amor e respeito por essa gigante da nossa literatura".
"Escritora versátil, escreveu crônica, conto, ensaio, poesia, infantojuvenil. Me encanta o protagonismo feminino em sua literatura. Sua literatura é tão elegante, sutil e ao mesmo tempo profunda. Seus livros continuam conosco, nessa travessia que se chama vida", diz.
Um livro citado por ela é "A Moça Tecelã", que define como um título "significativo para mulheres". "Esse livro ajuda a pensar que sempre podemos escolher linhas e cores, bordar, costurar, mas também desfazer e começar novamente", expressa Maura.
Bruno Paulino, escritor e professor, define Marina Colasanti como uma das "figuras mais proeminentes da literatura brasileira contemporânea", com uma "obra muito singular". Ele cita a crônica "Eu sei, mas não devia", publicada em 1972.
Nela, a autora revela "sutilezas do cotidiano que oprime" e que as pessoas vão se acostumando "a conviver com aquelas dores e violências, e não reagir". "A escrita dela é marcada por uma sensibilidade e profundidade", sustenta o autor.
"É uma grande escritora que deixa uma lacuna aberta, tanto na sua militância, na literatura, como no jornalismo, como cronista. É uma mulher feita mesmo de palavra. 'Uma moça tecelã', como ela também escreveu. 'Uma moça tecelã feita toda de palavras'. Essa era Marina Colasanti, que rigava sensibilidade e empatia nos seus escritos", pontua Bruno Paulino.
Relembrando o legado deixado pela ítalo-brasileira, Sarah Forte, professora universitária e escritora, celebra os livros: "Marina nos convida em seus textos a um passeio por mundos encantados que nos fazem mergulhar numa aprendizagem do olhar que, ao desautomatizar a realidade, nos oferece formas de sentir a vida artisticamente sob as lentes do imaginário".