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Oscar 2025: Emilia Pérez é longa perdido entre promessas e ambições
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Oscar 2025: Emilia Pérez é longa perdido entre promessas e ambições

Com 13 indicações ao Oscar, "Emilia Pérez", filme estrelado por Karla Sofía Gascón, é um espetáculo frustrante e tedioso
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Karla Sofía Gascón é a primeira mulher trans indicada no Oscar na categoria de Melhor Atriz
 (Foto: Netflix/Divulgação)
Foto: Netflix/Divulgação Karla Sofía Gascón é a primeira mulher trans indicada no Oscar na categoria de Melhor Atriz

"Emilia Pérez" surge como uma produção ousada ao misturar dramas pessoais e familiares, tensões com cartéis mexicanos e elementos de musical com toques de comédia. No entanto, o que poderia ser uma narrativa inovadora se perde em escolhas questionáveis de direção, roteiro e execução artística.

A trama apresenta Rita, uma advogada desiludida com sua carreira, que é abordada por Manitas, um temido líder de cartel mexicano, em busca de ajuda para um processo de redesignação sexual e mudança de identidade. A transição de Manitas para Emilia deve permanecer em segredo, até mesmo de sua esposa e filhos, enquanto o filme tenta explorar dilemas pessoais, sociais e criminais com uma abordagem musical.

Dirigido por Jacques Audiard, conhecido por desconstruir formatos narrativos tradicionais, "Emilia Pérez" tinha o potencial de ser uma obra marcante. Contudo, Audiard e os roteiristas Thomas Bidegain e Léa Mysius parecem ter se perdido no desafio de equilibrar os diferentes gêneros apresentados no longa. O resultado é um filme que falha em quase todas as frentes e, especialmente, em seu aspecto musical.

Desde os primeiros números, fica claro que as músicas são o ponto mais fraco da obra. As letras não dialogam de forma orgânica com as melodias nem com as narrativas apresentadas, e os atores frequentemente parecem cantarolar de maneira descompassada e sem emoção.

Um exemplo emblemático é a cena em que a personagem de Zoe Saldana, Rita, pesquisa sobre a redesignação sexual. O momento, que deveria ser carregado de sensibilidade, devido a importância de tal procedimento para quem o busca, é transformado em uma sátira insensível que compromete o impacto emocional.

Selena Gomez, que interpreta Jesse, esposa de Manitas, também enfrenta dificuldades com o roteiro. Suas cenas musicais mais parecem videoclipes pessimamente dirigidos, sem coerência com a montagem geral do filme.

Em um momento, a personagem, sozinha em um quarto, protagoniza um número musical cuja coreografia e direção são tão desajustadas que destoam completamente do resto da narrativa. Essa indecisão entre uma abordagem realista e o exagero piegas é uma marca recorrente do longa, prejudicando ainda mais sua fluidez.

O roteiro não só tropeça no desenvolvimento de seus personagens como também se rende aos clichês. Jessi é retratada como a típica "esposa de criminoso" de uma novela mexicana: loira, envolvida em um caso com um homem bigodudo, alheia aos filhos e obcecada por dinheiro.

A falta de profundidade e previsibilidade da personagem fazem dela um dos pontos frágeis do filme. Por outro lado, nem tudo é desastroso. As atuações de Zoe Saldana (Rita) e Karla Sofía Gascón (Emilia/Manitas) são o coração de "Emilia Pérez".

Ambas extraem o máximo das personagens, mesmo com um material limitado. As cenas compartilhadas são os momentos de maior conexão e consistência no longa, quase fazendo o espectador esquecer as falhas. Karla é a primeira mulher trans indicada ao Oscar de Melhor Atriz.

Apesar das performances excelentes da dupla, "Emilia Pérez" não cumpre as promessas. A direção de Audiard se perde entre a sátira e o drama, enquanto o roteiro insiste em estereótipos. As músicas, que deveriam ser um diferencial, acabam sendo um dos maiores pontos negativos, transformando momentos-chave em cenas constrangedoras.

É difícil entender como o filme conseguiu 13 indicações ao Oscar. O longa concorre com o aclamado "Ainda Estou Aqui", dirigido por Walter Salles e estrelado por Fernanda Torres, em três categorias: Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz. "Emilia Pérez" tinha tudo para ser transformador, mas entrega um espetáculo frustrante.

"Emília Perez"

  • Quando: a partir de 6 de fevereiro
  • Onde: cinemas de Fortaleza
  • Ingressos e sessões: ingresso.com
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