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Escritora cearense lança livro sobre memórias com o pai
Vida & Arte

Escritora cearense lança livro sobre memórias com o pai

As cartas que Beatriz Gomes Lessa escreveu para o pai no processo do luto foram vertidas em um livro de amor e saudade
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Foto: Pedro Passos/Divulgação "bença, pai" traz cartas de Beatriz Gomes Lessa escritas para seu pai, Gilberto Gomes, falecido em agosto de 2024

Carta — substantivo feminino que, de acordo com o dicionário Michaelis, pode significar: "comunicação impressa ou manuscrita, geralmente numa folha de papel, acondicionada num envelope, endereçado e selado, feita entre pessoas afastadas ou ausentes".

Uma definição formal para uma prática que se iniciou anos antes de Cristo. Mais formal ainda se pensarmos que aquele papel em branco, ou documento no celular ou computador, pode representar um espaço para desabafo, declarações, dúvidas ou apenas uma listagem de novidades. Nem sempre em um envelope ou selada, é um espaço para liberar palavras que talvez não possam ser ditas em voz alta.

Nos últimos meses, as cartas estiveram presentes na vida de Beatriz Gomes Lessa. No Dia dos Pais, em agosto do ano passado, ela escolheu celebrar o pai por meio de uma, que acabou deixando de ser apenas texto e se tornou um vídeo, viajando os quilômetros de distância entre Brasília (ela) e Fortaleza (ele).

"Teve essa homenagem, choramos juntos, nos emocionamos. E a carta começou exatamente assim, bem sentimental — eu conversando com ele. Só que dois dias depois, na terça-feira, meu pai faleceu por complicações de uma cirurgia que havia feito", compartilha.

Após a cirurgia mencionada, Gilberto Gomes teve um processo de infecção que foi tratado e acreditava estar curado. A bactéria, no entanto, tinha resistido ao tratamento e, silenciosamente, ele estava passando "por um processo de sepse". Beatriz ainda estava em Brasília quando a notícia da morte chegou.

"Assim que foi preciso pegar o avião, pegar a estrada, passei todo o tempo acordada escrevendo para o meu pai. Contando para ele, perguntando como é que tinha sido quando ele parou de respirar; como estava agora e a frustração de estar indo para casa e não encontrar ele com vida", lembra.

Nos quatro meses que sucederam, as cartas também estavam presentes. Com elas, "as inúmeras perguntas que surgem enquanto uma pessoa enfrenta o luto" foram levadas para "o físico, para o papel". "É difícil estar um dia com a pessoa que você mais ama, tendo contato, a companhia; tendo respostas às perguntas que você precisa ter".

"De repente, essa pessoa é tomada da sua vida e você fica cheia de perguntas, sem poder ter essa pessoa para respondê-las, para conversar. Tinha muitas perguntas para o meu pai e, para além delas, tinha muitas coisas para contar. Precisava contar para ele da primeira vez que vi minha avó, depois que ele tinha falecido; tudo que mais queria era conversar", revela.

As cartas foram a solução que Beatriz encontrou para externalizar a frustração e o sentimento que a ausência de Gilberto marcou em sua vida. As perguntas e as conversas cotidianas ganharam forma em um papel e "solucionou de alguma forma a necessidade de conversar com ele".

Algumas se tornaram vídeos, material que viralizou nas redes sociais, um com mais de 1 milhão de visualizações, e rendeu para ela diversas mensagens de encorajamento para transformar as cartas em um livro. "Quando estava com a ideia só na minha cabeça, um belo dia minha mãe me ligou, perguntando: 'minha filha, você não quer fazer um livro com as cartas para seu pai?'. É, e aí eu achei que esse era o sinal".

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Assim, o livro "bença, pai" ganhou forma e teve seus mínimos detalhes pensados. A capa, ilustração da artista Avoante, traz uma cadeira com raízes, uma flor e um pássaro. A cadeira, inclusive, tem um simbolismo: no processo do livro, Beatriz conta como era incômodo observar as coisas do pai, mas sem ele para ocupá-las. "Todos os espaços dele permaneciam aqui, mas sem ele", pontua.

"Gostei muito quando ela fez a cadeira, porque representa uma ausência. Mas fizemos uma adaptação para colocar a florzinha, que parece andar ali, surgindo por meio da dor, e o passarinho, que tanto pode ser eu, como pode ser meu pai", completa.

O primeiro evento de lançamento do livro aconteceu em Itapajé, em 1º de fevereiro, mas um momento também está reservado para acontecer em Fortaleza. No domingo, 9, a Pitéu Casa Criativa recebe o segundo evento a partir das 16 horas. A obra pode ser adquirida no dia e, depois, pela Amazon (livro físico e digital).

Beatriz define estar sentindo uma alegria "por ter conseguido fazer isso pela memória do pai", mas que não pode definir como uma "satisfação plena", pois é "uma alegria dentro de uma tristeza muito grande, que a saudade dele". "É possível sentir uma alegria e, ao mesmo tempo, uma tristeza".

"Minha preparação (para o evento em Fortaleza) é encarar mais uma vez a saudade nos olhos, não ter medo de chorar e encontrar pessoas queridas que também enfrentam o luto de alguma forma. Assim como foi em Itapajé, a expectativa é que as pessoas se sintam à vontade para conversar, para contar suas próprias saudades", arremata.

Lançamento do livro "bença, pai"

  • Quando: domingo, 9, a partir das 16 horas
  • Onde: Pitéu Casa Criativa (av. Visconde do Rio Branco, 1606 - Centro)
  • Valor do livro: R$ 60
  • Entrada do evento é gratuita
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